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O milagre japonês do Imperador

Quem vê a imagem desse jovem oriental engessado num uniforme militar não imagina que o seu tenha sido um dos destinos mais improváveis do século XX

| 02 nov 2015_15h57
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Quem vê a imagem desse jovem oriental engessado num uniforme militar e coberto de medalhas, não imagina seu improvável destino.

O então príncipe Hirohito, futuro imperador do Japão, herdeiro da monarquia mais antiga do mundo, deve ter posado para essa imagem por volta de 1921, na época em que fez uma grande viagem de seis meses ao Ocidente e foi recebido por todos os chefes de estado e monarcas europeus. O jovem de 20 anos era neto de um grande imperador que revolucionou o Japão, mas seu pai foi um monarca fraco que padecia de problemas emocionais, tanto que seu filho teve que substituí-lo como regente cinco anos antes de sucedê-lo. Hirohito tornou-se o 124º Imperador em 1926 e seu reinado durou 63 anos, até 1989, período durante qual o imperador deu posse a nada menos que 34 primeiro-ministros.

A sobrevivência política de Hirohito é talvez a mais surpreendente do século XX. O imperador do Japão tornou-se aliado dos odiados ditadores Hitler e Mussolini durante a Segunda Guerra Mundial, e estendeu-se a ele a profunda antipatia do mundo ocidental comprometido com a causa anti-fascista. Durante a guerra, ninguém teria apostado um tostão furado de suas chances de permanência no trono, caso o Japão fosse derrotado. Mas em seu país Hirohito era muito mais que um imperador. Tinha um status comparável ao de um Deus e a distância que o separava de seus súditos era incomensurável.

O acaso e as circunstâncias históricas acabaram poupando Hirohito. Seus próprios irmãos propuseram-lhe que abdicasse imediatamente após a assinatura da rendição japonesa, em 1945, mas para sorte do imperador, o General MacArthur, todo-poderoso comandante das forças americanas no Pacífico, acreditava que o trauma japonês, com a queda e a prisão de Hirohito, seria ainda maior que com as bombas de Hiroshima e Nagasaki.

Entre as grandes potências houve muitas divergências, mas afinal o imperador sobreviveu simbolicamente, sem nenhum poder político real.

O Hirohito que aparece nesta imagem nem podia, naturalmente, sonhar com sua vida ímpar. Seu destino parecia já traçado. Teria de permanecer imperador desde quando seu pai morresse e pelo tempo que os Deuses, seus pares, o deixassem na terra. Mas nunca imaginou que o papel militar do Japão faria dele um dos chefes de estado mais odiados do mundo, para voltar a ser, no final de uma longa vida, um dos mais respeitados.

A foto, em perfeito estado, deve ter sido tirada no melhor estúdio japonês da época, que a colou num belíssimo fundo decorado com motivos dourados, característicos da arte do país, tornando o sofisticado conjunto um objeto mais visualmente atraente que o simples retrato de um garoto japonês.

É talvez a mais bela foto assinada de Hirohito a aparecer no mercado nos últimos 30 anos. Foi provavelmente presenteada a alguma das altas autoridades dos países europeus que visitou durante seu tour de 1921, e talvez tenha permanecido com a família do presenteado até ser vendida em leilão nos Estados Unidos, na década passada.

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