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O Padre Cícero pede preces para derrubar o Governador

O bilhete reproduzido nesta página é de um momento-chave da vida política do padre Cícero, quando resolveu, em 1914, liderar uma revolta para derrubar o coronel Rabelo, então governador do Ceará.

| 01 out 2013_21h33
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O padre Cícero Romão Batista assumiu depois de sua morte, em 1934, uma posição ímpar no imaginário brasileiro e permanece como um dos personagens mais interessantes de nossa história do começo do século XX. Em várias regiões do nordeste é tido como um santo e sua gigantesca estátua em Juazeiro do Norte só perde em imponência para a do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Padim Ciço, como é chamado carinhosamente por seus inúmeros devotos, foi sem dúvida, um personagem de traços singulares, que misturou o espiritual e o secular de maneira tão original que acabou excomungado pelo Vaticano. Há muito seus fiéis querem reverter essa condenação e há quem ache que o Papa Francisco simpatiza com a ideia. Em todo caso, a Igreja em sua região o venera como se excomunhão não houvesse.

O bilhete reproduzido nesta página é de um momento-chave da vida política do padre Cícero,quando resolveu, em 1914, liderar uma revolta  para derrubar o coronel Rabelo, então governador do Ceará. O padre escreve para seu “compadre” Leandro Monteiro:

“Ainda não estamos em paz porque enquanto não sair do Ceará o Rabelo não teremos paz. Peça a Deus que o retire logo e nos dê sua santa paz”. Após pedir as preces do seu compadre para que os céus ajudassem a derrubar o governador que tanto o incomodava, o padre Cícero informa: “Foi tomado Iguatu pelos nossos”. Essa foi a maior vitória na revolta e o compadre do padre encaminha no verso o cartão que acabara de receber para outro amigo chamado Rosa, agregando detalhes da tomada de Iguatu:

“Em um combate no Miguel Camon morreio 82 praça e  si freiu um comandante da força”. Oitenta e duas mortes era um número considerável de baixas para um combate regional e a notícia precisava ser passada adiante.

As cartas do padre Cícero são muito raras e têm sido sempre procuradas pelos colecionadores brasileiros, que o reconhecem como uma das nossas poucas figuras lendárias. Esta foi adquirida na famosa livrariaSão José do Rio de Janeiro em 1975, por um jovem de 17 anos apaixonado por documentos manuscritos. O  velho livreiro idolatrava cartas de literatos do final do século como Alberto de Oliveira e Olavo Bilac,  que chegava a beijar, e pedia preços inatingíveis para o adolescente. Já pela carta do padre Cícero pediu apenas o preço de dois sanduíches.

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