Foto: Guilherme Maia
O Palhaço – aplausos tardios, mas sinceros
Tardei a ver O Palhaço. Intimado por minha filha caçula, aproveitei uma brecha na sexta-feira passada, em São Paulo, e fui conferir se o entusiasmo dela tinha razão de ser.
De manhã, a caminho do hotel, lera no Guia Folha, em meio às avaliações favoráveis, mas um tanto condescendentes da maioria dos senhores críticos, que Marina Person e Amir Labaki deram cotação máxima ao filme dirigido por Selton Mello e afirmaram que O Palhaço é um “golaço” e uma “obra-prima” – outro bom estímulo para conferir.
Tardei a ver O Palhaço. Intimado por minha filha caçula, aproveitei uma brecha na sexta-feira passada, em São Paulo, e fui conferir se o entusiasmo dela tinha razão de ser.
De manhã, a caminho do hotel, lera no Guia Folha, em meio às avaliações favoráveis, mas um tanto condescendentes da maioria dos senhores críticos, que Marina Person e Amir Labaki deram cotação máxima ao filme dirigido por Selton Mello e afirmaram que O Palhaço é um “golaço” e uma “obra-prima” – outro bom estímulo para conferir.
Visto por mais de um milhão de espectadores desde a estréia há 4 semanas, e estando em exibição em mais de 200 salas, alguém poderá dizer que é fácil, e até desnecessário, nesta altura proclamar os méritos do filme, um sucesso para o padrão atual do cinema brasileiro.
De fato, meu comentário chega atrasado e só vem se somar às louvações já feitas. Ainda assim, registro o prazer que tive ao ver O Palhaço, e saúdo um acontecimento raro – a capacidade do filme conciliar expressão autoral e sintonia com o público.
Selton Mello retoma a tradição dos grandes comediantes dotados de talentos múltiplos. Produtor, com Vânia Catani; co-autor do roteiro, com Marcelo Vindicatto; diretor e ator, batizou seu personagem – o deprimido palhaço Benjamin – em homenagem a Benjamin de Oliveira (1870-1954), artista circense e talvez o primeiro a acumular as funções de diretor e ator no cinema brasileiro, ao fazer Os Guaranis, em 1908. Só faltou Selton Mello compor também a trilha musical, excelente aliás, mas de autoria de Plínio Profeta.
Retomando o conhecido tema da crise de identidade, situado no ambiente de um circo mambembe atemporal, Selton Mello coordena com maestria contribuições de um impecável elenco principal e secundário, além das da equipe, com destaque especial para as belíssimas direção de fotografia, direção de arte e figurinos, a cargo, respectivamente, de Adrian Teijido, Cláudio Amaral Peixoto e Kika Lopes.
A harmonia desses variados talentos permite criar um universo ficcional fantasioso, liberto das amarras do realismo, sem deixar de ser enraizado em termos culturais e geográficos. Decisivo para esse resultado é a afinação perfeita do tom, definida pela atuação sotto voce do próprio Selton Mello, em que não há lugar para espalhafato, deboche e avacalhação. Nem para o humor vulgar que predomina nas tentativas de comédia brasileiras. O riso, em O Palhaço, resulta da inteligência do texto, além da qualidade dos atores e da encenação.
O Palhaço é um filme que transparece sinceridade – comédia que parece surgida de uma necessidade pessoal do autor, motivada por um desejo de expressão autêntico, sem qualquer oportunismo circunstancial. É uma qualidade rara. Até a redenção final do palhaço Benjamin, redescobrindo o gosto de atuar, é comovente, graças à simplicidade com que é narrada.
Aplausos tardios, mas sinceros, para Selton Mello e sua equipe.
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