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    Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, o ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e Robson Braga, presidente da Confederação Nacional da Indústria, falaram nesta terça (9) na COP26 Foto: Bernardo Esteves

cartas de glasgow

O que faltou explicar

Em Glasgow, ministro do Meio Ambiente não disse como o Brasil vai cumprir meta de zerar desmatamento

Bernardo Esteves | 09 nov 2021_14h06
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O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, chegou ontem a Glasgow e assumiu a liderança da delegação brasileira na Conferência do Clima, a COP26, que se estende até sexta-feira (12/11). A primeira manifestação pública do ministro, numa mesa redonda realizada no pavilhão do Brasil na conferência, foi marcada não pelo que ele disse, mas pelo que deixou de dizer: Leite não deu detalhes sobre como o Brasil pretende zerar o desmatamento ilegal até 2030, conforme se comprometeu num acordo assinado ao lado de mais de cem países durante a conferência.

“Nós, do governo federal, entendemos que, no nosso plano de combate ao desmatamento, o maior desafio é criar um mercado de serviços ambientais em suas diversas formas”, afirmou Leite. Citou o exemplo de mecanismos para remunerar guardas florestais ou guias turísticos pela tarefa de vigiar a floresta. “[O mercado de serviços ambientais] Virá de carbono, de ecoturismo, de bioeconomia, de empreendedorismo,” completou o ministro.

Numa fala de onze minutos, Leite não fez qualquer referência a ações de fiscalização e controle do desmatamento, fonte da maior parte das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. O desmatamento na Amazônia aumentou 47% nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro. “O desafio não é punir, proibir, parar”, afirmou o ministro. “É acelerar na direção de uma nova economia verde.”

Leite reafirmou alguns dos pilares do plano de crescimento verde, anunciado dias antes da conferência, mas não trouxe novos detalhes sobre como ele será estruturado. Mencionou ainda mais de uma vez a necessidade de os países desenvolvidos disponibilizarem recursos para ajudar os países em desenvolvimento na transição rumo a uma economia de baixo carbono. “Agora o momento é de os grandes países – a União Europeia, o G7 – mostrarem um movimento claro para trazer uma solução, e a solução é econômica. A emergência é financeira.”

O combate ao desmatamento foi colocado de forma mais incisiva pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também participou do evento durante a COP26. “Temos que fazer mea culpa e reconhecer nossos erros”, disse o senador. “Nós temos um problema grave no Brasil de desmatamento ilegal das nossas florestas.” Pacheco acrescentou que isso está na base da crise da imagem do Brasil diante de outras nações, e lembrou que o país já foi mais bem-sucedido ao lidar com o problema. “Vínhamos numa toada, nas últimas décadas, num combate ao desmatamento relativamente eficiente”, afirmou. Entre 2004 e 2012, o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 83,5%. 

Leite e Pacheco não falaram com a imprensa. A advogada e ambientalista Suely Araújo, que assistiu ao evento em Glasgow, disse não ter visto novidades na fala do ministro do Meio Ambiente em relação ao que já anunciara antes. “Para uma primeira fala do chefe da delegação brasileira, eu esperava mais”, afirmou Araújo, que é especialista em políticas públicas no Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama.

Araújo disse que, antes de pedir dinheiro, o Brasil precisa mostrar planejamento no combate ao desmatamento. “O plano de controle que eles têm, que é para todos os biomas, é uma piada, é como se fosse o discurso de um parlamentar no Congresso com vinte páginas e uma capa.” A advogada notou ainda que o país precisa mostrar como vai usar os recursos internacionais de que já dispõe, como os 3 bilhões de reais do Fundo Amazônia, paralisado pelo Ministério do Meio Ambiente. “O Brasil precisa ganhar legitimidade para continuar com essa narrativa de que precisa de dinheiro.”

* A hospedagem do repórter em Glasgow foi financiada pelo Instituto Clima e Sociedade.

 

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