“Reforçamos uma equipe com 20 mil pessoas que trabalham avaliando os conteúdos e checando se eles estão de acordo com as diretrizes da comunidade", disse Muratori Foto: Marcelo Saraiva
O Youtube, a mensagem, e o mensageiro
Diretora do Youtube para a América Latina, Patricia Muratori enfatiza a luta contra a desinformação, mas refuta a noção da plataforma como veículo editorial
Antes de a inteligência artificial ocupar o centro de debates no mundo todo, o YouTube já tratava o assunto como um dos desafios para o futuro da plataforma. Primeiro, porque havia risco de a máquina burlar o funcionamento do YouTube e automatizar a promoção de vídeos, entre outras possibilidades. Segundo, porque a empresa gostaria de descobrir como transformar a novidade em uma ferramenta para ajudar na produção de conteúdo dos donos de canais. Esse foi um dos temas da conversa da diretora do YouTube para a América Latina, Patricia Muratori, com a jornalista Daniela Lima, da GloboNews, e o advogado Thiago Amparo durante o Festival piauí de Jornalismo, na manhã deste domingo.
Há dez anos no Google, Muratori é responsável pelos negócios do YouTube relacionados a Jornalismo, Saúde, Educação, Kids, TV & Filmes, Esportes e Entretenimento. Dentre as parcerias que estabeleceu representando a plataforma, estão a de conteúdo educacional, através de projetos com a UNESCO, alinhado à Base Nacional Comum Curricular; e iniciativas de combate à desinformação em parceria com o ICFJ (International Center for Journalists) e com o Pacto Global da ONU. Ela também citou o Fundo Vozes Negras, que dá apoio financeiro e de capacitação para criadores de conteúdo negros.
A conversa entre Muratori e os mediadores passou por temas como a desinformação e o papel do jornalismo dentro da maior plataforma de vídeos da internet. O alcance do YouTube no Brasil fez dele uma influente plataforma política, para o bem e para o mal, observou Daniela Lima. A jornalista citou decisões tomadas recentemente pela empresa que dividiram a opinião pública, como a de desmonetizar canais que propagavam notícias enganosas sobre vacinas e o sistema eleitoral. “Temos atuado duramente porque responsabilidade vem na frente do negócio”, disse Muratori. “Nos últimos cinco anos, reforçamos uma equipe com 20 mil pessoas que trabalham avaliando os conteúdos e checando se eles estão de acordo com as diretrizes da comunidade.” O reforço é necessário pela velocidade com que novo conteúdo é adicionado à plataforma – são centenas de horas de novos conteúdos por minuto.
As redes sociais enfrentam há anos críticas sobre a maneira como tratam conteúdos enganosos. Thiago Amparo lembrou que, nos Estados Unidos, a discussão gira em torno do papel editorial de empresas como o YouTube, que, mesmo sendo um meio amplamente utilizado para as pessoas se informarem, não assumem responsabilidade editorial e alegam ser apenas uma plataforma para criadores. O mecanismo de recomendação da plataforma, por exemplo, é muitas vezes classificado como nocivo, por levar os usuários a acessarem vídeos e canais que propagam a desinformação. Muratori disse que há muita atenção da plataforma em relação a esses riscos: Brasil é o quarto no ranking mundial de países com mais remoções de conteúdo no YouTube por infração às diretrizes da empresa. “Liberdade de expressão é diferente de liberdade de alcance.” Segundo Muratori, a empresa tem uma lista de tipos de conteúdo que exigem atenção constante, dentre os quais estão mentiras deliberadas, terrorismo e vídeos direcionados para crianças.
Daniela Lima lembrou também que há pessoas que se alimentam do “comportamento de radical livre” para desafiar as regras do YouTube. Uma vez que são punidos pela infração, alegam censura e usam o caos para se promover. A discussão sobre responsabilidade editorial também tocou na explosão de canais do YouTube que transmitem entrevistas, como o Podpah, Pod Delas e Blogueirinha. As conversas muitas vezes são conduzidas por pessoas que não são jornalistas, lembrou Daniela Lima. “São pessoas imitando profissões”, emendou Thiago Amparo. O YouTube não é culpado por isso, Muratori argumentou, refutando a ideia de que a plataforma possa ser responsabilizada editorialmente por todo o conteúdo que veicule. Segundo ele, esses são casos de criadores que, num primeiro momento, souberam usar bem as métricas da plataforma para promover o próprio trabalho.
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