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Olha o micróbio do samba aí, gente!

Zelia Duncan | 20 abr 2011_18h00
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Lupicínio Rodrigues não era sambista por excelência, mas tudo que compunha tinha excelência, os sambas inclusive. No mínimo “Nervos de Aço” e “Se Acaso Você Chegasse” não me deixam mentir, usando um exemplo mais óbvio. Não à toa, Adriana Calcanhotto cita no encarte de seu novo álbum algumas frases desse mestre, em que ele afirma que o “micróbio do samba” se apropria dele à medida que o tempo passa. Lupicínio era do Sul, Adriana também é. O samba não nasceu naquela região, mas seu micróbio atravessa qualquer fronteira e, quando encontra um ambiente favorável, se instala de maneira indelével e seus portadores seguem orgulhosos pela vida.

Adriana é uma adorável caixinha de surpresas. Seu novo O Micróbio do Samba dá aquela impressão de que o trabalho silencioso da artista sempre acha o momento de falar mais alto do que os alto-falantes que querem gritar todo dia nos nossos ouvidos as novidades velhas do momento. Aqui, de novo, o menos é mais. Entre um prato e uma caixinha de fósforo, o samba põe a cabeça de fora, às vezes com cara de marchinha, com melodias pouco ortodoxas e palavras que ainda não foram infectadas pelo tal micróbio, como “hiperquântico”, mas é exatamente aí que reside a marca e a origem de Adriana Calcanhotto. Despudoradamente ela nos devolve aquilo de que anda se alimentando ao longo desses anos, transformado em si mesma.

“Beijo Sem” foi antes gravada por Teresa Cristina e Marisa Monte. É um samba difícil de resistir, daqueles que nascem crescidos e dá vontade de sair cantando junto. Os temas são muito acertados, muito ‘sambísticos’, mesmo que não se traduzam em formas tradicionais do gênero, como em “Pode se remoer”, que diz: “Pode se remoer, se penitenciar, eu encontrei alguém que só pensa em beijar.

Às vezes uma guitarra distorcida num canto do arranjo, um clima maracatu somado ao violão de samba, uma lalaiá de Domenico, letras se referindo ao blues brasileiro, “agora tá na minha hora, eu vou passar uns tempos em Mangueira. Não chora, neguinho não chora, o meu coração é verde e rosa”.

E lá vai Adriana Calcanhotto, puxando seu bloco, sua evolução, sua escola de samba, que tem verde, rosa e um monte de outras cores e riscos e mais sua própria maneira de sambar, que é dez, nota dez.

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