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    J. D. Salinger, aos 16 anos, na Academia Militar de Valley Forge, na Pensilvânia: foi lá que ele começou a escrever contos à noite, debaixo dos lençóis, com a ajuda de uma lanterna CRÉDITO: ARQUIVO GBB_ALAMY_FOTOARENA_1935

anais da literatura

Os acertos e desacertos de J. D. Salinger

Tradutor escreve sobre o autor de O apanhador no campo de centeio

| 14 jan 2025_12h59
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O tradutor Jorio Dauster conta na edição deste mês da piauí como se aproximou da obra de J.D. Salinger (1919-2010) e sobre as traduções que fez do escritor americano, inclusive de sua obra mais famosa, O apanhador no campo de centeio, publicado em 1951 nos Estados Unidos e catorze anos depois no Brasil, de Nove estórias (em parceria com Álvaro Alencar) e Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour, uma apresentação.

Dauster recapitula a conturbada trajetória de vida de Salinger, descendente de judeus por parte de pai, e de irlandeses e escoceses do lado da mãe. Recrutado pelo Exército em 1942, Salinger serviu como agente de contrainteligência, interrogando prisioneiros graças a seu domínio do francês e do alemão.

Em 1944, desembarcou na Praia de Utah, na França, no Dia D, carregando o rascunho de passagens de O apanhador no campo de centeio. Com as tropas americanas, chegou à Alemanha no ano seguinte. “Os milhares de camaradas mortos no curso da campanha tingiram de amargura as passagens mais tarde usadas no romance, que ele continuou a elaborar mesmo durante os bombardeios, levando sua máquina de escrever para debaixo da mesa”, observa Dauster.

Em abril de 1945, Salinger entrou no campo de extermínio de Kaufering iv, parte do complexo de Dachau, onde viu pilhas de cadáveres de judeus semicarbonizados. Num dos poucos comentários sobre o que testemunhou como combatente, ele disse certa vez à filha: “Você nunca realmente elimina do seu nariz o cheiro de carne queimando, por mais tempo que viva.”

Praticante do zen-budismo, em 1952 Salinger comunicou aos amigos que se convertera ao hinduísmo advaita vedanta. Na busca desesperada por alguma sustentação espiritual, tentou outras crenças religiosas, medicinais e alimentícias, como a ciência cristã, a homeopatia, a acupuntura, a macrobiótica e a corrente mística do islamismo representada pelo sufismo. Margaret A. Salinger, sua filha, conta no livro Dream catcher: a memoir que Salinger, além de praticar a glossolalia, chegou até a beber a própria urina.

“A guerra sem dúvida modificou Salinger de forma profunda, mas, sentindo-se incapaz de escrever diretamente sobre suas experiências nos campos de batalha, ele as transmudou nos traumas que tão duramente afetam Holden Caulfield, o protagonista de O apanhador no campo de centeio, por causa da morte de seu adorado irmão mais moço”, escreve Dauster. “Outra consequência de haver testemunhado terríveis carnificinas e dos cadáveres de judeus semicarbonizados num campo de extermínio nazista foi a incessante busca por Salinger de algum amparo espiritual, acolhendo e rejeitando diversas crenças.”

O apanhador no campo de centeio foi censurado em muitas cidades americanas por usar palavras de baixo calão. Episódios violentos foram associados ao romance, inclusive o assassinato da atriz Rebecca Schaeffer pelo ex-militar Robert John Bardo (em 1989) e o atentado contra Ronald Reagan por John Hinckley Jr. (em 1981). No exemplar que carregava no bolso no dia em que matou John Lennon, em 1980, Mark David Chapman tinha escrito “Essa é minha declaração” e assinava “Holden Caulfield”.

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

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