Os cuidados da Pompadour
O rei Luís XV da França talvez seja hoje muito mais lembrado pelas suas famosas amantes, Madame de Pompadour e Madame du Barry, que pelos seus (poucos) feitos militares num longo reinado de quase sessenta anos. Sua administração desastrosa criou as bases para a Revolução Francesa, ocorrida quinze anos após sua morte, em 1774.
O rei Luís XV da França talvez seja hoje muito mais lembrado pelas suas famosas amantes, Madame de Pompadour e Madame du Barry, que pelos seus (poucos) feitos militares num longo reinado de quase sessenta anos. Sua administração desastrosa criou as bases para a Revolução Francesa, ocorrida quinze anos após sua morte, em 1774.
Madame du Barry, amante do rei nos últimos quinze anos de sua vida, era uma desmiolada bonitinha que só pensava nas vantagens que poderia tirar para si e sua família enquanto permanecesse como favorita do rei.
De origem um pouco menos modesta que la du Barry, la Pompadour era culta e teve uma grande influência sobre as artes decorativas e a política de seu tempo
Toda a corte e todos os funcionários tentavam manter-se em bons termos com ela, pois seu acesso privilegiado ao rei permitia, muitas vezes, acelerar a concessão de cargos ou vantagens e promover carreiras.
A paixão carnal entre o monarca e sua amante foi intensa no começo da relação, mas arrefeceu com os anos, sem diminuir o poder da Pompadour, pois o rei continuou a apreciar sua conversa, sua vivacidade e sua inteligência.
A carta reproduzida nesta página é curiosa a esse respeito, pois mostra o grau de proteção que a Pompadour desejava continuar a exercer sobre o rei, sempre submetido às mais diferentes influências e afogado em pedidos de toda natureza.
A Pompadour não assina esta carta, como era de seu costume. Mais de 90% de suas cartas hoje conhecidas não têm assinatura, pois a amante do rei achava desnecessário assinar quando escrevia a um correspondente que conhecia sua letra.
No caso, a carta é dirigida ao conde d’Argenson, um importante ministro de Luís XV:
“Apresento toda a minha gratidão ao senhor conde e tenho a lhe comunicar que anda circulando, desde o último mês, pelos apartamentos de Versailles, um tal de Milord Gordon, que é louco de pedra. Não há extravagância que ele não tenha feito aqui. Não gosto de vê-lo perto do rei nem atrás do delfim [primogênito do rei], sobretudo com o gosto que ele declara ter por beber sangue humano. Faz parte do regimento real escocês. Assim, considero prudente que o senhor conde o mande embora, pelo menos, de volta ao seu regimento.”
O castelo de Versailles era então muito mais acessível do que seria atualmente qualquer Prefeitura do interior. Não havia, naquela época, uma noção de segurança semelhante à dos dias de hoje, e parecia impensável que alguém penetrasse no castelo para atentar contra a vida do rei, o que, de fato, nunca ocorreu.
Bastava estar decentemente trajado e qualquer súdito entrava no castelo, conseguindo, muitas vezes, chegar perto do rei.
Parece ter sido o caso desse talvez autointitulado “Lord Gordon”, oficial do regimento chamado “escocês”, e que, na qualidade de militar de alta patente, circulava ainda mais livremente pelos corredores do palácio e insinuara-se no entorno imediato do monarca.
Muitos faziam de tudo para chamar a atenção dos integrantes da corte, mas, no caso, o escocês, ao demonstrar “todas as extravagâncias” às quais a Pompadour alude e, sobretudo ao declarar seu gosto por sangue humano, extrapolava claramente o padrão de comportamento que se esperaria de um cortesão.
As cartas da Pompadour são muito raras e intensamente procuradas por colecionadores franceses.
Esta permaneceu no arquivo de uma família nobre por mais de duzentos anos. Quando esse acervo foi dispersado em leilão, há cerca de dez anos, esta carta foi adquirida por seu atual detentor.
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