Os gênios e a musa

A bela escritora Lou Andreas-Salomé é lembrada por sua ligação sucessiva com três gênios: o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o poeta Rainer Maria Rilke e o fundador da psicanálise Sigmund Freud. Outras mulheres de sua geração (ou da seguinte) ficaram também famosas por seu envolvimento com grandes figuras de seu tempo como Alma Mahler, mulher do compositor Gustav Mahler, que casou-se mais tarde com o arquiteto Walter Gropius e com o escritor Franz Werfel, tendo tido tempo no intervalo para um longo relacionamento amoroso com o pintor Oskar Kokoschka. Mais tarde, a atriz Paulette Goddard foi casada tanto com Charles Chaplin como com o escritor alemão Erich Maria Remarque. A lista é grande de mulheres notáveis que inspiraram paixões a vários parceiros também notáveis.

O cartão postal de 1914 reproduzido nesta página singulariza-se por levar tanto a assinatura de Lou Salomé quanto de Rilke. É uma peça rara por ter sido assinada pelos dois e simboliza sua relação amorosa (e depois epistolar) de décadas, iniciada em 1899, quando Lou tinha 38 anos e Rilke, 23. A mensagem é de um momento em que a relação tinha se tornado apenas de amizade e o conteúdo é trivial, de votos cordiais a um amigo. Mas a união das duas assinaturas ainda evoca o extraordinário poder de sedução de uma das mulheres mais fascinantes dos últimos 150 anos.

O caso de Lou é diferente de outras sedutoras: de seus três relacionamentos com homens excepcionais, dois parecem ter sido platônicos. Apenas Rilke foi seu amante, por vários anos. Com Nietzsche, foram meses de intenso convívio, quando Lou tinha 21 anos. Na conversa de ruptura, deu-se conta que o filósofo, então com 37 anos, apaixonara-se por ela. Com Freud, já na maturidade, foi o estudo da psicanálise que os aproximou, por 25 anos.

Que tipo de atrativo exercia essa filha de general russo de ascendência francesa para encantar em várias idades três grandes figuras? Sua beleza exótica certamente desempenhou um papel, mas o fascínio passava sobretudo pela conversa e pelo profundo interesse que Lou manifestava pelo intelecto de seus grandes “amigos”, todos em algum grau apaixonados por ela.