minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

questões manuscritas

Pássaros infelizes não podem cantar, podem?

Muito além de seu talento excepcional e de sua marcante presença física, Maria Callas permanece como a cantora de ópera mais famosa do século XX, diva absoluta para uma legião de fãs da qual uma imensa maioria nunca a viu cantar.

Filha de imigrantes gregos que haviam chegado a Nova York poucos meses antes de seu nascimento, Callas foi uma adolescente gorda, marcada pelo desentendimento dos pais, o desequilíbrio emocional da mãe e repleta de inseguranças. Casou-se aos vinte e seis anos com um marido quase trinta anos mais velho, o italiano Meneghini, empresário aposentado que se tornou seu agente oficioso.

| 28 fev 2012_16h51
A+ A- A

Muito além de seu talento excepcional e de sua marcante presença física, Maria Callas permanece como a cantora de ópera mais famosa do século XX, diva absoluta para uma legião de fãs da qual uma imensa maioria nunca a viu cantar.

Filha de imigrantes gregos que haviam chegado a Nova York poucos meses antes de seu nascimento, Callas foi uma adolescente gorda, marcada pelo desentendimento dos pais, o desequilíbrio emocional da mãe e repleta de inseguranças. Casou-se aos vinte e seis anos com um marido quase trinta anos mais velho, o italiano Meneghini, empresário aposentado que se tornou seu agente oficioso.

Fortalecida por seus primeiros sucessos numa carreira internacional mais que promissora, Callas operou em si mesma, aos 30 anos, talvez a transformação física mais radical de qualquer grande celebridade do século XX. Numa época em que eram inexistentes os recursos atuais da cirurgia, Maria conseguiu perder quarenta quilos, e a borboleta que surgiu da crisálida impressionou o mundo por sua beleza e conseqüente empáfia.

De fato, a nova Callas ganhara também com a magreza a fama da mais temperamental das prima-donnas, e logo tratou de deixar o marido que a dominava financeiramente havia dez anos.

A bela grega mais famosa de seu tempo não tardou em atrair o grego mais notório: o bilionário Aristóteles Onassis ? também dezessete anos mais velho que ela, ? que estava em busca do que hoje chamam nos Estados Unidos de “esposa-troféu”.

Quem viveu aquela época sabe que Onassis nunca propôs casamento a Callas e encerrou abruptamente a relação de dez anos com a cantora para casar-se com a maior das esposas-troféu então disponíveis: a viúva do presidente americano John Kennedy, Jacqueline.

Seis anos antes disso ocorrer, em 1962, Maria Callas, então com trinta e nove anos, escreve a carta aqui reproduzida para o gerente de uma loja de discos em NY, Edward Konrad, um de seus amigos mais íntimos. Em papel do Hotel Ritz em Paris, a cantora grega redige aquela que é considerada uma de suas cartas mais sinceras e pungentes, que ressurgiu há dois anos num leilão nos Estados Unidos:

Tento como posso ficar bem, tenho bons amigos, mas só minha alma sabe como sofro.

É claro que cantar nessas circunstâncias é bem difícil (pássaros infelizes não podem cantar, podem?)”.

A mãe de Maria, com quem a cantora não falava havia mais de dez anos, tentara novamente o suicídio e se recuperava num hospital de Nova York. Apesar do divórcio com Meneghini ter ocorrido em 1959, três anos mais tarde ainda havia muitas pendências na justiça italiana. Mas este era também talvez o momento de auge de sua relação com Onassis, e do início do declínio vocal de Callas, que já começava a ser percebido por seus admiradores.

La Callas morreria quinze anos mais tarde, sozinha em seu apartamento em Paris, de uma crise cardíaca precoce aos 53 anos, talvez acelerada pelo uso excessivo de soníferos.

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí