Juan Pablo Escobar / Sebastián Marroquín, filho de Pablo Escobar, diz no documentário ter se arrependido da declaração de que iria se vingar ( “Vou matar os canalhas que fizeram isso.” ), feita logo em seguida ao assassinato do seu pai. Juan Pablo/Sebastián agora busca reconciliação com os filhos de dois políticos colombianos, assassinados supostamente por ordem de Pablo Escobar, e “Pecados do meu pai” parece feito para servir esse propósito."> “Pecados do meu pai” – RP ( II ) - revista piauí
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“Pecados do meu pai” – RP ( II )

Juan Pablo Escobar / Sebastián Marroquín, filho de Pablo Escobar, diz no documentário ter se arrependido da declaração de que iria se vingar ( “Vou matar os canalhas que fizeram isso.” ), feita logo em seguida ao assassinato do seu pai. Juan Pablo/Sebastián agora busca reconciliação com os filhos de dois políticos colombianos, assassinados supostamente por ordem de Pablo Escobar, e “Pecados do meu pai” parece feito para servir esse propósito.

| 24 maio 2010_11h24
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Juan Pablo Escobar / Sebastián Marroquín, filho de Pablo Escobar, diz no documentário ter se arrependido da declaração de que iria se vingar (“Vou matar os canalhas que fizeram isso”), feita logo em seguida ao assassinato do seu pai. Juan Pablo/Sebastián agora busca reconciliação com os filhos de dois políticos colombianos, assassinados supostamente por ordem de Pablo Escobar, e “Pecados do meu pai” parece feito para servir esse propósito.

Declarando ter aprendido a lição, Juan Pablo/Sebastián se propõe fazer o oposto do pai. A carta que escreve aos filhos de Rodrigo Lara Bonilla, ex-ministro da Justiça, e Luis Carlos Galán, jornalista e político, duas vezes candidato a presidente da República; depois, o encontro na Argentina com um deles e, finalmente, a reunião de todos na Colômbia têm ar de operação de relações públicas, acentuada pelo fato dos filhos dos dois  políticos assassinados terem também se tornado políticos, tendo carreiras públicas para cuidar.

O produção de “Pecados do meu pai” propicia viagens, encontros, está por trás do que ocorre, em nome do registro de uma tentativa de reconciliação nacional. Não é mostrado, porém, o momento do encontro, na Colômbia, de Juan Pablo/Sebastián com os filhos de Rodrigo Lara Bonilla e Luis Carlos Galán. O documentário não se preocupa em esclarecer por quê. A gravação não teria sido autorizada? Seria interessante saber, pois revelaria que os envolvidos ainda guardam um mínimo de recato.

Algumas omissões chamam atenção. De que vivem hoje Juan Pablo/Sebastián e sua mãe? Também não se faz menção à controvérsia sobre o assassinato de Pablo Escobar e o papel no episódio que teria tido, ou não a Drug Enforcement Administration – DEA, órgão da polícia federal americana responsável pela repressão ao narcotráfico.

No final de “Pecados do meu pai”, legendas informam que nada mudou na Colômbia com a morte de Pablo Escobar. Os cartéis de narcotraficantes continuam poderosos. Essa talvez fosse questão interessante a tratar. Pablo Escobar parece ter sido assassinado para que o sistema pudesse continuar exatamente como era. Mas sem ele, que se tornara inconveniente por saber e ter poder demais, além de lançar mão do que fosse necessário para preservar seus negócios e eliminar opositores. A quem interessava a morte de Pablo Escobar?

“Pecados do meu pai” apenas tangencia essas questões, preferindo se dedicar à encenação melodramática e constrangedora da reconciliação entre, de um lado, os filhos de dois políticos assassinados e, de outro, o filho do suposto responsável pela morte dos seus pais.

*

“Pecados do meu pai” não parece ter levado em conta um livro publicado em 2007: “The Memory of Pablo Escobar”, de James Mollison, com a colaboração de Rainbow Nelson (Londres: Chris Boot Ltd ).

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James Mollison, fotógrafo de profissão, foi a Medellin em 2002. Fazendo reportagem para a revista , conheceu na prisão ‘Popeye’, chefe de segurança de Pablo Escobar e um dos poucos sobreviventes do cartel de Medellin. “Encontrei-o lendo a Ilíada, de Homero, na ala de segurança máxima. Esse matador, responsável por 150 assassinatos, contou histórias do trabalho com Pablo. Ele foi minha introdução ao mito de Escobar.”

James Mollison  chegou a entrevistar também Dona Hermilda, falecida no final de 2006, e Luz Maria, mãe e irmã de Pablo Escobar. Nada disso está em “Pecados do meu pai”. Nem o conjunto de fotos e documentos de diferentes acervos reunidos por James Mollison, incluindo a coleção encontrada pela polícia na prisão particular de Escobar em Medellin, conhecida como La Catedral. A partir dessa pesquisa, usando as imagens encontradas, James Mollison fez um livro fascinante, muito superior ao documentário de Nicolas Entel.