Começa hoje na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a retrospectiva Harun Farocki, na qual será exibida parte considerável da obra do cineasta berlinense, iniciada em 1966 e composta por mais de cem títulos. Depois da sessão de abertura, será exibido “Imagens do mundo e inscrições da guerra” (1988), um dos seus filmes célebres."> Pedro Costa&Harun Farocki – encontro inesperado - revista piauí
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Pedro Costa&Harun Farocki – encontro inesperado

Começa hoje na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a retrospectiva Harun Farocki, na qual será exibida parte considerável da obra do cineasta berlinense, iniciada em 1966 e composta por mais de cem títulos. Depois da sessão de abertura, será exibido “Imagens do mundo e inscrições da guerra” (1988), um dos seus filmes célebres.

| 17 set 2010_07h30
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Começa hoje na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a retrospectiva Harun Farocki, na qual será exibida parte considerável da obra do cineasta berlinense, iniciada em 1966 e composta por mais de cem títulos. Depois da sessão de abertura, será exibido “Imagens do mundo e inscrições da guerra” (1988), um dos seus filmes célebres.

Numa curiosa coincidência, haverá uma conversa com Pedro Costa, ao mesmo tempo, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, onde  sua retrospectiva prossegue até dia 23, indo até 26 de setembro em Brasília.

Lamentavelmente, apenas paulistanos terão acesso à retrospectiva Harun Farocki, não estando prevista, até onde sei, sua realização em outras cidades. Seguindo até 3 de outubro, a mostra faz parte da programação da 29ª Bienal de São Paulo, onde serão apresentadas instalações de Farocki, que constituem parte importante do seu trabalho, e também de Pedro Costa.

A simultaneidade dos eventos, oferece oportunidade de conferir duas variantes importantes do cinema contemporâneo, ambas tributárias de Jean-Luc Godard e dos Straub – o casal Jean-Marie  e Danièle Huillet.

O ineditismo quase absoluto dos filmes de Farocki, no Brasil, justificaria repetir a pergunta feita na revista “Cahiers du Cinéma”, em 1981: “Quem é Farocki?” E a resposta poderia ser a mesma: “Eu não sei.” Mas, passados quase vinte anos, o fato de ele continuar praticamente ignorado entre nós é sintoma da fragilidade da nossa cultura cinematográfica, mesmo “Videogramas de uma revolução” (1992), feito com Andrei Ujica, estando disponível em DVD há dois anos, lançado na coleção Videofilmes.

A retrospectiva Harun Farocki é a primeira iniciativa abrangente para recuperar esse atraso que, na verdade, não é só brasileiro. Em 1993, Farocki declarou numa entrevista a Thomas Elsaesser que ele “provavelmente era o mais conhecido cineasta desconhecido da Alemanha” (ver  “Harun Farocki Working on the Sight-Lines”, (ed.), Amsterdam: Amsterdam University Press, 2004. pp. 177-189). Professor da Universidade de Amsterdam, Thomas Elsaesser dará conferência amanhã (18/9) na Cinemateca Brasileira.

Na entrevista citada, Farocki declara que não tendo se tornado “socialmente aceitável” no início da década de 1970, quando passou a moda do filme político, “parece que qualquer um que deixou de se adpatar nesse momento, ficou de fora no frio por um longo tempo”. No caso de “Entre duas guerras” (1978), que será exibido dia 24/9, ele tentou cerca de 25 vezes obter financiamento, mas acabou tendo que produzir o filme sem dinheiro público, usando 30.000 marcos alemães que tinha ganho fazendo outros trabalhos em cinema.

“Talvez seja verdade que eu esteja tentando provar que meus filmes não são afílmicos ou acinematográficos, que queira demonstrar através dos meus enquadramentos e da minha montagem que quem faz essas alegações está errado. Em “Entre duas guerras” já há o ônus dessa prova.

“Quer seja Bresson, Godard ou os Straub, ver seus filmes ou escrever sobre eles é como aprender a ler. Para ler um texto filosófico, é preciso ter um certo treino: o texto requer uma maneira diferente do que um jornal ou um romance para ser lido. O mesmo acontece com esses filmes. Eu os estudo para me sintonizar com a maneira deles pensarem e produzirem.”
    
Os filmes do próprio Harun Farocki requerem esse mesmo aprendizado de leitura; esse treinamento; essa maneira diferente de serem vistos. É preciso estudá-los para entrar em sintonia com eles.

Segundo a professora e crítica de arte Christa Blümlinger, “uma analogia com o cinema permite descrever a estética da revista “Filmkritik” – da qual Farocki foi editor e colaborador de 1974 a 84 –, “podendo ser aplicada ao trabalho do próprio Farocki, que desmonta, com uma precisão obstinada, as retóricas das imagens pré-existentes, pondo seu próprio discurso em evidência”. (Christa Blümlinger, “Harun Farocki ou l’art de traiter les entre-deux”, em Harun Farocki, “Reconnaître & Poursuivre”, Paris: Théâtre Typographique, 2002,  p.11). Nas palavras de Farocki, citado nesse mesmo texto, “é preciso desconfiar tanto das imagens quanto das palavras. Imagens e palavras são tecidos nos discursos, [ formando ] rêdes de significação […] Meu caminho é ir à procura de um sentido camuflado, limpar os escombros que obstruem as imagens.”

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