Sobrevivência CO
Phil Hart e Tacita Dean – vaga-lumes, bioluminoscência e raio verde
Em meio à leitura de Sobrevivênciados vaga-lumes, de Georges Didi-Huberman, livro ao qual fiz referência no post de sexta-feira, a pesquisadora Eloá Chouzal escreve de São Paulo avisando que a Folha de S.Paulo publicou sábado (15/10) nota sobre bioluminoscência.
Em meio à leitura de dos vaga-lumes, de Georges Didi-Huberman, livro ao qual fiz referência no post de sexta-feira, a pesquisadora Eloá Chouzal escreve de São Paulo avisando que a Folha de S.Paulo publicou sábado (15/10) nota sobre bioluminoscência.
Quem não souber nada sobre bioluminoscência, como eu, e se dispuser a conferir, não se arrependerá. A nota da Folha, com título “E fez-se a luz”, reproduz foto de Phil Hart, feita no lago Gippsland, na Austrália, e descreve o “espetáculo de luz produzido pelos micro-organismos Noctilluca scintillans".
O fenômeno da bioluminoscência, fiquei sabendo, “ocorre graças às mesmas substâncias químicas que permitem aos vaga-lumes brilharem. Dentro dessas criaturas unicelulares existe o pigmento luciferin e a enzima luciferase. Quando o pigmento reage com o oxigênio, a luz é produzida – processo acelerado pela enzima".
As imagens de Hart mostram um nível de bioluminoscência nunca testemunhado na história dos Lagos Gippsland. Incêndios florestais e inundações levaram altas concentrações de nutrientes para os lagos, permitindo que os micro-organismos prosperassem.
Vale a pena ir além e ver as fotos de Phil Hart disponíveis em www.philhart.com, assim como ler o texto mais detalhado sobre a origem do fenômeno luminoso resultante de incêndios, inundações e algas microscópicas.
Walter Lima Jr., por sua vez, escreve indicando matéria e vídeo publicados quarta-feira passada (12/10), no The Guardian, sobre Tacita Dean, a propósito de sua instalação “Turbine Hall”, criada usando filme 35mm, apresentada na Tate Modern, em Londres – “uma carta de amor a uma mídia em via de desaparecimento”.
O vídeo começa com o filme O raio verde (2001), filmado em 16mm – plano único de 2’35” do pôr do sol na linha límpida do horizonte, diante do mar, sem terra à vista por centenas de metros. Em voz off, Tacita Dean diz que nessa situação, “não havendo nenhuma umidade que possa se tornar, no momento final, uma nuvem em contraluz que encubra a visão, há uma boa possibilidade de se ver o raio verde – o último raio do sol poente.”
Depois de anos de observação, em 2000, na costa leste de uma vila inacessível do Madagascar, Tacita Dean, noite após noite, gravou em vídeo o pôr do sol, acreditando ter visto o raio verde, mas sem nunca ter certeza.
Na noite em que filmou o raio verde, não estava sozinha. Ao lado dela, na praia, havia duas outras pessoas com câmeras de vídeo apontadas para o sol, contagiadas pelo entusiasmo dela pelo fenômeno esquivo. Eles não viram o raio verde naquela noite e o registro em vídeo foi usado como prova de que ela também não vira. Mas “quando o fragmento de filme foi revelado mais tarde na Inglaterra, lá estava, sem nenhuma dúvida, desafiando representação consistente em um único fotograma de celulóide, mas existindo no movimento fugaz dos fotogramas filmados – lá estava o raio verde, tendo demonstrado ser esquivo demais para os pixels do mundo do vídeo. Procurar ver o raio verde se tornara um exercício sobre o próprio ato de observar, sobre fé e crença no que se vê. Este filme é um documento. Ele se tornou um filme sobre o próprio material de que é feito e sobre a manufatura do próprio filme”, completa Tacita Dean.
Como devemos entender o relato de Tacita Dean? Seria ficção tentando se passar por documentário? No You Tube não faltam gravações do raio verde, apresentadas como sendo autênticas.
O raio verde é o título do livro de Julio Verne, publicado em 1882, sobre a busca de um mito – o raio verde, o último raio de luz depois do pôr do sol.
Erich Rohmer adotou esse mesmo título, em 1986. Em Le Rayon vert (O raio verde), a personagem fica sabendo, ao ouvir uma conversa sobre o romance de Jules Verne, que quando vemos o raio verde no pôr do sol nossos pensamentos e os dos outros são revelados magicamente. No final, junto com seu companheiro de viagem, ela vê o raio verde em Saint-Jean-de-Luz, na costa atlântica da França.
Vaga-lumes, bioluminoscência e raio verde – iluminações intermitentes, distantes dos holofotes.
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