FOTO: SCOTT OGLE_CC BY 2.0
Por que o mercado aposta na Petrobras?
Em poucos dias a bolsa subiu quase 20%, o risco Brasil caiu, o dólar recuou. Parecia que o Brasil, cuja economia encolheu 3,8% em 2015, segundo dados do IBGE divulgados na mesma semana, não era mais o mesmo.
Os movimentos da bolsa e do câmbio na semana passada beiraram a histeria. As notícias de que a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, do PT de Mato Grosso do Sul, envolveria a presidente Dilma na Lava Jato, aliadas à condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor à Polícia Federal, na manhã de sexta-feira, fizeram o mercado financeiro viver momentos eufóricos. Em poucos dias a bolsa subiu quase 20%, o risco Brasil caiu, o dólar recuou. Parecia que o Brasil, cuja economia encolheu 3,8% em 2015, segundo dados do IBGE divulgados na mesma semana, não era mais o mesmo.
A explicação dos analistas para a melhora desses indicadores é a de que os fatos políticos da semana passada colocaram novamente em cena a possibilidade de impeachment da presidente Dilma. “O mercado já estava convencido de que Dilma ficaria até o fim do seu mandato. Agora, com esses dois acontecimentos, o impedimento da presidente voltou a ser possível”, disse-me o diretor de um fundo de investimento.
Claro que nenhum analista do mercado financeiro acredita que o impeachment da presidente represente a solução de todos os problemas da economia brasileira – mas é difícil achar alguém que não veja a saída do PT do poder como uma condição necessária para implementar as medidas e as reformas capazes de fazer o país retomar o crescimento.
Como a saída de Dilma não seria, de todo modo, um processo simples – longe disso –, já há quem aponte algum exagero nos movimentos da bolsa e do câmbio dos últimos dias. O cenário mais provável para o futuro imediato, dizem esses analistas, com o governo praticamente paralisado por causa da crise política, é de aprofundamento da debacle econômica.
Assim, a forte alta das ações da Petrobras nos últimos dias não derivaria apenas do bom humor que contaminou todo o mercado em razão do quadro político. Por trás do ótimo desempenho dos papeis da companhia pode estar também a expectativa de que o balanço do quarto trimestre de 2015, a ser anunciado nos próximos dias, seja menos desastroso do que os anteriores.
Essa recuperação, avaliam, por mais esquizofrênico que isso possa parecer, seria resultado justamente do problema que fez o restante da indústria do petróleo tremer, nos últimos meses: a queda do preço do combustível. Ou seja, enquanto todas as outras petroleiras sofrem com o barateamento de seu produto, a estatal brasileira respira aliviada. “A Petrobras contraria a lógica do mercado”, diz um analista. “Quando o petróleo sobe no mundo, a Petrobras tem prejuízo. Quando o preço cai, a empresa ganha. É um caso único nessa indústria”, ironiza.
A explicação está no fato de que a Petrobras consome muito petróleo importado em suas refinarias. Portanto, quando o preço cai, parte dos custos da empresa fica menor. Isso ocorre justamente em um momento em que os preços da gasolina e dos derivados do petróleo tiveram uma alta enorme no mercado interno. Ou seja, compra-se petróleo barato e vende-se gasolina cara – diferente do que vem ocorrendo no resto do mundo. Algo que tem ajudado a melhorar o caixa da empresa. A isso se soma a queda dos preços dos insumos para a indústria do petróleo no mercado internacional, como máquinas e equipamentos, resultado também da queda no preço do combustível, o que também tem ajudado a reduzir os custos da empresa brasileira.
Essa melhora nos preços ocorre num momento em que se restringe a margem de manobra do governo na administração da companhia. O que também é bom, dizem os especialistas do setor. “A Petrobras não tem como piorar sua situação, pela simples razão de que não tem mais dinheiro para fazer as besteiras que vinha fazendo”, diz outro analista. “A estatal não tem mais 130 bilhões para jogar fora com projetos que não deram em nada, como o Comperj, no estado do Rio, e a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco”, afirma.
Para os analistas, está claro que o atual descalabro nas contas da estatal tem muito mais a ver com a péssima administração da empresa nos últimos doze anos – cujas decisões de investimento muitas vezes obedeceram mais aos interesses do governo do que aos interesses dos seus acionistas – do que com a corrupção que ajudou a sangrar seu caixa.
Do mesmo modo, caso essa expectativa de melhora no balanço venha a se confirmar, ainda não terá sido pela volta de uma gestão eficiente à companhia, dizem os analistas.
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