minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    Praia do futuro

questões cinematográficas

Praia do futuro – o passado atormenta

O roteiro de Praia do futuro, escrito pelo diretor Karim Aïnouz e Felipe Bragança, co-autores também do filme anterior de Aïnouz, O céu de Suely (2006), evita deliberadamente explicitar nexos causais que o modelo narrativo do cinema dominante consagrou como indispensáveis para conduzir o espectador pela mão e permitir que acompanhe o desenrolar de um enredo sem dificuldade.

| 26 maio 2014_12h43
A+ A- A

O roteiro de , escrito pelo diretor Karim Aïnouz e Felipe Bragança, co-autores também do filme anterior de Aïnouz, O céu de Suely (2006), evita deliberadamente explicitar nexos causais que o modelo narrativo do cinema dominante consagrou como indispensáveis para conduzir o espectador pela mão e permitir que acompanhe o desenrolar de um enredo sem dificuldade.

Situando-se à parte desse paradigma que busca não causar nenhuma espécie de inquietação, se diferencia de maneira nítida da dramaturgia televisiva predominante impregnada na maioria dos filmes brasileiros. E ocupa com mérito lugar próprio que exige do espectador postura mental ativa, à qual não está habituado, para que a forma narrativa não se torne desconcertante.

Dividido em três partes com títulos próprios de difícil memorização, esmaece relações de causa e efeito, quando não as elimina de todo, fracionando sua narrativa que por vezes se torna abrupta. Em vez de transições suaves, em as passagens, além de muitas vezes serem supreendentes, desorientam por instantes, até que o fio condutor seja retomado adiante.

À indeterminação do roteiro se opõe a sobriedade e elegância das imagens, a atuação contida do elenco, a música apropriada. O contraste entre narrativa lacunar, encenação realista e o uso de algumas figuras de linguagem conhecidas, longe de ser uma falha, dá interesse a , desde que superado uma certa perturbação inicial e entendido qual é seu código.

Há um elo frágil, porém, em – o drama inicial que desencadeia a ação e alicerça a narrativa. A forma alusiva do roteiro não sustenta o sentimento de culpa do personagem central. A fuga do salva-vidas Donato (Wagner Moura) de Fortaleza para Berlim e o afastamento da sua família resultam pouco convincentes. Quando Ayrton (Jesuita Barbosa), querido irmão menor de Donato, materializa em Berlim depois de muitos anos, é o passado que chega para um acerto de contas.

*

O tormento do passado é o tema também de O passado e de X-Men Dias de um futuro esquecido. Como em , na versão realista do primeiro, dirigida por Asghar Farhadi, não há como escapar. A ficção científica, dirigida por Bryan Singer, permite voltar no tempo e alterar o passado, o que acarreta, naturalmente, a mudança do presente. Ilusão tentadora fora de alcance para os personagens de e O passado

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí