A epopeia de Latifa: “Sua Alteza a princesa Latifa agora se encontra a salvo em Dubai”, dizia nota da família real. “Ela e sua família desejam celebrar seu aniversário hoje, com privacidade e em paz”. Era mentira. Latifa passou a data em cativeiro CRÉDITO: BETO NEJME_2023
Princesas arriscam a vida para fugir de Dubai
As perigosas fugas de quatro mulheres do controle de um xeique, que diz defender a igualdade de gênero
Em fevereiro de 2018, a princesa Latifa bint Mohammed al-Maktoum fugiu do palácio de seu pai, o emir de Dubai, usando um bote e um jet ski. Recorreu também à ajuda de uma amiga finlandesa, instrutora de artes marciais. A princesa estava com 32 anos. Na adolescência, fora espancada por desafiar o pai. Adulta, foi proibida de deixar Dubai e mantida sob vigilância constante de guardas. Latifa manteve seu plano de fuga em segredo durante anos, enquanto preparava o terreno: treinou esportes radicais, obteve um passaporte falso, contrabandeou dinheiro vivo para uma rede de apoiadores.
Ela não foi a única princesa do emirado de Dubai a arriscar suas vidas para tentar escapar das garras do pai, o xeique Mohammed bin Rashid al-Maktoum, que se casou com pelo menos seis mulheres, que deram à luz dezenas de filhos. Além de governar Dubai, ele serve como vice-presidente, primeiro-ministro e ministro da Defesa dos Emirados Árabes Unidos. É um aliado dos governos ocidentais, celebrado por transformar seu país em uma potência moderna. Publicamente, Mohammed defende a igualdade de gênero e comprometeu-se a “acabar com todos os obstáculos enfrentados pelas mulheres”.
Para sua filha Latifa, no entanto, Dubai era “uma prisão a céu aberto”, onde a desobediência era punida com brutalidade. Quatro mulheres da realeza arriscaram suas vidas para fugir do controle do xeique, conta Heidi Blake na edição deste mês da piauí.
No clã que governa Dubai, as mulheres exercem um papel duplo: são exaltadas em público como emblemas do avanço feminino e em privado são obrigadas a “portar a honra” da dinastia. De acordo com Hussein Ibish, professor no Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, a desobediência de uma mulher no círculo do emir provoca uma pergunta “politicamente perigosa” entre os súditos: como você pode nos dizer o que fazer se não controla nem mesmo a sua família? A lógica do poder absoluto exige que eventuais rebeliões dentro da família sejam esmagadas com rapidez e publicamente. “É o patriarcado performativo”, diz Ibish. “Vocês querem ver como eu controlo minha família? Então vejam só isso.”
As fugas precisaram ser arduamente preparadas pelas mulheres, mas o xeique mobiliza todo o seu poder para resgatá-las, recorrendo inclusive a chefes de Estado, como fez com Latifa. Ela foi capturada na costa da Índia com a ajuda do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Em troca, o xeique concordou em extraditar um traficante de armas baseado em Dubai.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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