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    Apoiadores de Milei celebram a vitória nos arredores do Obelisco Foto: Santiago Mazzarovich/Getty Images

anais da extrema direita

Relatos nada selvagens de uma Argentina que elegeu Milei 

Nas ruas de Buenos Aires, na última semana, um simulacro pobre de ágora regido por algoritmos

Alejandro Chacoff | 23 nov 2023_11h32
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No último sábado, dia 18 de novembro, fui visitar o Malba – o Museu de arte latino-americana de Buenos Aires, que fica em Palermo, bairro próspero da capital. Ao voltar de Uber para meu hotel no Centro da cidade, já no fim da tarde, notei na Avenida Del Libertador um outdoor de Patricia Bullrich, aliada do ex-presidente direitista Mauricio Macri, derrotada no primeiro turno da eleição presidencial argentina há cerca de um mês. Usar o verbo notar aqui é impreciso. Não era preciso estar muito atento para pescar a imagem. A larga avenida é uma das mais famosas de Buenos Aires, e o outdoor – um item grande por definição – era particularmente chamativo, ainda resguardado das marcas melancólicas de degradação tão típicas de propagandas políticas expiradas. O rosto da candidata não estava desfigurado por rasgos, e nem coberto por pichações obscenas.

Panfletos políticos velhos espalhados por calçadas e avenidas, moradores de rua vestindo a camiseta de algum deputado federal derrotado há anos: esses são vestígios de cidades latino-americanas entre ciclos eleitorais, e não haveria nada de relevante na imagem não fosse pelo contexto dela. A disputa de segundo turno entre Javier Milei, da recém-criada coalizão ultradireitista La Libertad Avanza, e Sergio Massa, ministro de economia atual e candidato governista da coalizão peronista Unión por la Patria, ocorreria logo no dia seguinte. Seria, grosso modo, como encontrar um outdoor de Simone Tebet em alguma avenida movimentada de São Paulo ou do Rio de Janeiro apenas horas antes de Jair Bolsonaro e Lula se enfrentarem nas urnas.

Eu tinha chegado a Buenos Aires no início da semana. Os dias estavam ensolarados, a temperatura oscilava entre 20 e 25 graus, os cafés e restaurantes estavam cheios. Salvo o outdoor da Bullrich, tinha reparado apenas numa outra propaganda política, menos chamativa, uma bandeira verde e branca estendida na esquina entre a Rua Tucumán e a Avenida Leandro N. Alem, no Centro. Os sindicatos estão com Massa, a bandeira dizia. Em todas as áreas pelas quais passei – Palermo, Villa Crespo, no Centro, ao longo da extensa Avenida Corrientes, que atravessa áreas distintas da cidade, e até no bairro um pouco mais afastado e proletário de Flores – havia um clima de vida cotidiana inalterada, intensificada pelo tempo inusual para a época do ano, o sol brilhando mesclado a um frio muito leve.

Talvez tenha sido distinto nas partes mais pobres da região metropolitana de Buenos Aires, onde a crise econômica do país e a inflação se fazem sentir de forma mais aguda. Mas havia também um desinteresse patente em falar sobre a eleição. Perguntei a um taxista em quem ele votaria. O estereótipo do taxista portenho é similar ao do carioca: costumam ser gregários, confessionais, conspiratórios. Ele me respondeu de forma educada, mas com um nítido ar de cansaço, que vivia nas afueras, e demoraria três horas para chegar na cidade. Como segunda-feira, dia 20, seria feriado, não iria votar. Um amigo argentino de orientação política mais à esquerda, que considera os anos de Néstor Kirchner (2003-2007) no poder a melhor época do peronismo recente, falou brevemente do perigo de uma vitória do Milei durante um almoço (“é mais doido que o Bolsonaro”, disse, uma frase que eu ouviria de outras pessoas). Mas não quis se deter muito no assunto, e de Massa, o candidato governista, mal falou.

Em todas essas ocasiões, tive que instigar o tema. O primeiro e único comentário político espontâneo que ouvi veio de um cambista brasileiro. Ele entreouvira minha conversa com seu colega, que me perguntara minha profissão enquanto trocava alguns dólares por pesos. “Se a Argentina fosse um país sério”, o cambista disse, adaptando – talvez sem querer – a famosa frase de De Gaulle, “o Massa não poderia usar dinheiro público para fazer propaganda eleitoral. O metrô tá coberto de propaganda dele, isso aí é ilegal.” Não perguntei se achava Milei a melhor opção, mas presumi que era o caso. Pensei que, caso a proposta radical de extinguir o Banco Central e dolarizar a economia vingasse, a agência de câmbio na qual estávamos sentados talvez evaporasse. A lógica utilitária e economicamente racional não tem sido sempre um bom guia para ler a geopolítica da última década.

Em retrospecto, era um pouco irracional também que, a despeito de pesquisas indicando uma vantagem de Milei, nas ruas Massa por vezes parecia o favorito. Todos com quem conversei – inclusive os propensos a votar em Milei – pareciam achar improvável uma vitória da oposição. As explicações para uma suposta vantagem de Massa eram vagas, abstratas. “Viene pisando fuerte”, disse o taxista que passaria o feriado longe das urnas.

Na noite da eleição, após a vitória categórica de Milei por uma diferença de pouco mais de 11 pontos percentuais, saí andando rumo ao Obelisco do Centro da cidade, na Avenida 9 de Julio, onde os apoiadores de novo presidente supostamente se reuniriam após o discurso em seu bunker, que ficava a algumas quadras dali, na Avenida Córdoba. No caminho, na Rua Tucumán, interpelei um lixeiro e lhe pedi uma entrevista. Ele sorriu, sem jeito, e puxou o morador de rua com quem estava conversando. “Eu tô trabalhando. Fala com ele aqui ó”, o lixeiro disse, e saiu correndo em direção ao caminhão de lixo, que já avançava na rua estreita. Tanto eu como o morador de rua nos entreolhamos, os dois sem graça. Ele era muito magro e tinha poucos dentes, e vestia uma camisa do Boca Juniors. “Eu não sou ninguém,” murmurou, “eu não sou ninguém.” Fez que iria se afastar, mas de repente parou, e virou, abrindo um sorriso. “Me pagás?” Quando eu disse que não poderia pagá-lo por uma entrevista, se afastou de novo e seguiu falando consigo mesmo, num tom um pouco mais sarcástico.

Massa tinha declarado a derrota e parabenizado Milei por volta das 20h15, antes do anúncio oficial. Cheguei à Avenida 9 de Julio por volta das 21h30, mais de uma hora depois. A polícia tinha fechado parte da avenida para os carros. Na parte onde só havia pedestres, havia uma escuridão densa e vasta, que se estendia algumas quadras ao longo da avenida até o Obelisco. Alguns poucos casais e grupos de amigos caminhavam em direção ao local de celebração, e havia uma distância considerável entre os grupos. Ainda que na distância houvesse buzinas, por um bom tempo consegui ouvir meus próprios passos. Às vezes um assobio seguido de gargalhadas rompia o silêncio.

 

A primeira vez que visitei Buenos Aires foi em 2004, cerca de um ano após a vitória apertada de Néstor Kirchner na eleição presidencial de 2003. Naquela época, como agora, o vinho, a carne, e outros produtos – com a possível exceção de livros e roupas – estavam obscenamente baratos, e os turistas, não apenas os brasileiros, se gabavam disso a todo momento, cada um se julgando o primeiro a perceber a diferença matemática no câmbio. Pouco antes, entre 1999 e 2002, o país vivera o ápice de sua pior crise econômica – uma das piores de que se tem notícia no mundo. Em 2002, no momento mais difícil da depressão, o PIB do país caiu quase 11%, de acordo com dados do Banco Mundial, e em outubro daquele mesmo ano, de acordo com o INDEC, o órgão nacional de estatísticas argentino, 57,5% da população em aglomerados urbanos vivia abaixo da linha da pobreza. A crise que a Argentina viveu, por um lado, é extremamente complexa – há toda uma literatura acadêmica dedicada a estudar as peculiaridades macroeconômicas e microeconômicas desse período em detalhes. Mas ela teve um elemento crucial fácil de entender. Ao fazer o famoso “1 para 1” e praticamente dolarizar a economia, o presidente neoliberal e peronista Carlos Menem abriu mão da política monetária, uma medida que custou caro quando o país se viu sem instrumentos para lidar com uma recessão e eventual depressão.

Em 2004, a pior parte da crise já tinha passado, mas tanto os resquícios da turbulência (pessoas dormindo na rua, mais assaltos), como seu rebote (uma politização intensa, com manifestações políticas e corte de ruas – os piquetes – semanais e às vezes diários) eram palpáveis. Para nós, visitantes no início da faculdade, a ubiquidade da politização nas ruas portenhas tinha algo de exótico e vagamente excitante. O Brasil via a esquerda chegar ao poder pela primeira vez em muito tempo, mas a ênfase era toda em como ela tinha se moderado para ganhar a eleição. Enquanto isso, em Buenos Aires, eu pegara uma corrida com um taxista trotskista – uma figura, que, para além da aliteração engraçada, eu nunca sonhara em encontrar nos táxis de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Nos anos que se seguiram, fui à Argentina muitas vezes, por razões pessoais e de trabalho – e cheguei a morar em Buenos Aires entre 2011 e 2013. A impressão permaneceu. A Argentina é frequentemente citada como exemplo de fracasso político e econômico, mas a ideia de uma sociedade inquieta, politizada, que se pergunta o tempo todo sobre o que quer ser, sempre me pareceu atraente (desde 2013, porém, conhecemos também o lado mais exaustivo das mobilizações permanentes). 

Era difícil conciliar essa Buenos Aires com a dos últimos dias e a da noite da celebração de Milei. As pessoas que chegavam ao Obelisco pareciam uma massa amorfa, ainda sem uma identidade muito definida – havia jovens, algumas famílias, crianças, homens de meia-idade sozinhos, mulheres (geralmente em grupos de amigos ou com parceiros). A demografia variada soaria como um elogio aos ouvidos de um radical de direita, que veria nela a cristalização da pátria em todas suas facetas. Mas havia algo estranho no ar: era como se as pessoas se estudassem, como se, até aquele momento, não entendessem bem quem eram seus aliados. Foi fácil entrevistar essas pessoas, e talvez aí resida até agora a maior diferença entre Milei e os líderes da extrema direita nos quais se espelha: se apresentar como jornalista numa manifestação de Trump ou Bolsonaro geralmente contém uma dose de risco físico e mental. O tempo dirá se essa diferença persistirá.

As primeiras pessoas com quem falei naquela noite foram dois estudantes de 18 anos – Julieta e Ante (não deram seus sobrenomes). Ante vestia uma roupa preta, usava piercing no nariz, tinha os cabelos longos. Levava um skate debaixo do braço e uma bandeira da Argentina enrolada no pescoço. Em termos puramente estéticos, não se veria fora de lugar numa manifestação de esquerda. Simpático, de tom de voz baixo (era fácil ouvi-lo porque a avenida ainda estava vazia), disse que votara em Milei para dar um basta à regulação estatal. “O que gostamos nas propostas é que nos permitem ser mais livres, tanto financeiramente como no sentido das leis.” O problema de Massa, segundo Ante, era seu apetite pela intervenção. “Tem propostas no sentido de regular as redes sociais”, disse. “O privado não tem que ter contato com o Estado. O Estado tem que servir só para coisas como acidentes de saúde.” Julieta, vestida de forma um pouco mais discreta, mas com uma estética parecida, seu cabelo um encaracolado denso e evocativo da moda de permanentes dos anos 1980, citou a corrupção do “outro candidato” (Tanto ela como Ante, por alguma razão, evitavam enunciar o nome de Massa). Sobre Milei em si, o elogiaram de forma um pouco mais genérica. “Ainda que tenha coisas com as quais não concordo”, Julieta disse, “me parece muito honesto.” Ante disse: “Ele sempre teve o mesmo discurso desde que começou, não se vende por um partido ou por outro.”

Outros dois jovens gêmeos idênticos – Matías e Leandro Capdevila, aparentando ter entre 18 e 20 anos –, falaram também em termos genéricos de Milei. “Ele diz a verdade. Pode até dizê-la de forma exagerada, mas fala a verdade.” disse Matías. “Ele não vive do Estado, ele não é político, e isso chamou a atenção das pessoas.” Adolescentes e jovens faziam boa parte do contingente, e aumentavam à medida que a noite avançava e a avenida se enchia um pouco mais. Um ônibus cujo destino indicava MILEI havia estacionado perto do Obelisco, e buzinava incessantemente. O barulho ensurdecedor dava a impressão de que a festa aumentara significativamente, mas por volta das 22h30, ainda havia espaços imensos para caminhar na avenida, em volta do Obelisco, com só os mais animados se concentrando próximo ao monumento e entoando gritos de “Argentina!”.

Quando mencionei a minha surpresa em relação ao número de jovens a Martín González – um jornalista cobrindo o evento para as emissoras locais Canal 13 e TN (Todo Noticias)ele falou que tinha muito a ver com a presença forte de Milei nas redes sociais. E de fato, na semana que eu passara na cidade, havia um contraste entre a aparente calma e alienação do espaço público e o bombardeio incessante de propagandas de Milei e Massa na internet. Mesmo sem possuir redes sociais, desde que eu chegara em território argentino não conseguia assistir a um vídeo de YouTube sem ter que ver pelo menos duas propagandas dos candidatos. O uso hábil de mídias sociais entre políticos não é novidade alguma a essa altura, mas, ao contrário de outras eleições presidenciais recentes, nas quais parecia haver uma combinação entre uma tensão palpável nas ruas e o embate nas redes, dessa vez o debate – se é que pode se usar esse termo – parecia ter emigrado totalmente ao espaço privado dos algoritmos. Daí, talvez, os olhares hesitantes das pessoas à medida que se encaminhavam ao Obelisco naquela noite.

 

É o fim de um ciclo”, disse Mario Pringles. “Eu queria uma mudança, alguma coisa nova. Para ver se fazemos algo diferente do que vínhamos fazendo. Como isso vai ser feito com essa pessoa aí, não sabemos.” Cozinheiro aposentado, de traços meio indígenas e aparentando pouco mais de 60 anos de idade, Pringles é o exemplo do paroxismo a que pode chegar um voto protesto. Nunca gostou dos peronistas, e passou a vida votando em partidos menores, mais à esquerda, ligados ao socialismo. “Eu queria uma mudança. Nunca a conseguia porque eles nunca ganhavam. Agora, sim.” Ainda que estivesse em teoria numa celebração, quando falou sobre Milei especificamente, foi cauteloso, quase crítico. “Falta experiência política a ele”, me disse, ao mesmo tempo admitindo que talvez isso o tenha feito ganhar, já que as pessoas o viram como mais genuíno.

Ao longo da noite, o uso do termo genérico “mudança” se repetiu diversas vezes. Se Milei é pior que Bolsonaro, é difícil saber, mas ele é certamente mais caricatural em suas bizarrices – um feito nada trivial. Ainda assim, ele foi pouco mencionado, e as pessoas geralmente só falavam dele quando eu fazia alguma pergunta específica sobre sua figura. Uma exceção foi Carolina Ruiz, uma médica da Universidade de Buenos Aires (UBA), que disse se identificar totalmente com Milei, porque ele faria o que Macri queria fazer com “mais potência e intensidade”. No geral, a médica foi a única entrevistada a preencher o estereótipo de votante com os quais os ultraliberais sonham. Natural de La Matanza, uma área muito pobre da província, cresceu, segundo ela, com cinco irmãos dormindo em chão de terra. Os avós e pais idolatravam Perón e Evita – havia um quadro deles no quarto – e ela nunca entendeu a idolatria: lhe parecia obsceno o contraste entre a pobreza do ambiente e o “traje de gala” de Perón e Evita. Tecendo um discurso sobre autossuficiência, elogiou a suposta iniciativa de Milei de acabar com o Ministério da Mulher. “Eu não me sinto representada em absoluto. [O Ministério] nos faz sentir diminuídas. Não preciso que o Estado esteja presente.”

Vindo da certeza enfática de Carolina Ruiz ou da ruptura algo tortuosa de Mario Pringles, a lógica do voto antiperonista não é difícil de entender: o país vive uma recessão, e a inflação anual, segundo um relatório do INDEC de outubro de 2023, já está próxima a 150%. Matías Agustín, um motorista de Uber de 25 anos sem uma preferência muito enfática por qualquer um dos candidatos – ele não estava na manifestação, e o entrevistei enquanto ele dirigia, em outro contexto – colocou de forma numérica sua predileção por uma mudança. Há pouco mais de seis meses, Agustín trabalhava num depósito de alimentos dietéticos. Trabalhava en blanco (equivalente a carteira assinada). “Hoje trabalho nisso aqui e ganho três, quatro vezes mais.” Mesmo assim, o que descreveu como um ganho inicial de 1200 dólares mensais, já caiu, com a inflação alta, a 600 dólares. Sobre Milei, disse que é “muito inteligente na sua área, mas lhe falta muito na questão social”, e que “muitas de suas atitudes não correspondem ao que se espera de um candidato presidencial”.

Desde a vitória de Milei no domingo, boa parte da imprensa tem focado na dificuldade que ele terá no congresso para passar suas reformas radicais. Essa análise desconsidera quão rapidamente o poder presidencial atrai grupos de interesse – reconfigurações rápidas são de praxe, na Argentina, ainda mais em se tratando de uma eleição vencida com folga. Fora isso, a direita mais institucional já está embarcada no seu projeto, nas figuras de Bullrich e Macri. “Macri vai oferecer estruturas que para ele antes teria sido muito difícil conseguir”, Matías González disse. “Acho também que é um triunfo para Macri. Ele ia ter um problema com sua coalizão Juntos por el Cambio, e agora pode sair na foto como vencedor.” Ainda assim, González acha que o ano que vem será um ano duro, de ajustes econômicos, e que não será fácil passar reformas pelo Congresso. “Não dá para o cara levantar amanhã e decidir extinguir o Banco Central.”

Mas especulo que Milei vai conseguir, sim, fazer uma ruptura ultraliberal na Argentina, e privatizar várias estatais. A questão é que isso não é exatamente uma novidade. O novo presidente é colocado como um rompimento brutal com as últimas décadas do peronismo, e, se levarmos em conta a encarnação kirchnerista do partido, certamente o é. Mas se esquece que o peronismo é absurdamente maleável e flexível como guarda-chuva de correntes políticas. Parte do que Milei oferece, o próprio peronismo já propôs. Basta lembrar que Carlos Menem, o presidente latino-americano mais economicamente liberal da década de 1990, era peronista. Não só isso: a política pela qual é lembrado foi justamente sua ação de criar a paridade entre o dólar e o peso. E a imagem dessa política que perdurou na psique coletiva não foi a das viagens a Miami para comprar bugigangas. Foi a de Fernando De La Rúa, O Breve, acossado por uma multidão enfurecida, tendo que fugir de helicóptero da Casa Rosada.

Sem desconsiderar o impacto da situação econômica desastrosa dos últimos anos, e do fracasso do governo de Alberto Fernández, a projeção de futuro que Milei evoca tem mais a ver com forma do que conteúdo – sua eleição é, até agora, a imagem mais cristalizada do que acontece quando a politização do espaço público é substituída por uma versão pasteurizada de debate cívico, um simulacro pobre de ágora regido por algoritmos de empresas privadas. “Se vê o futuro nele”, disse Matías Capdevilla, um dos gêmeos, sobre Milei. Em certo sentido, sim. Mas o passado também.

 

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