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    Policiais em Guararema, São Paulo: percepção de segurança do brasileiro aumentou em 2019, mas números da violência já aumentaram este ano - Foto: Danilo Verpa/Folhapress

questões criminais

Segurança que dura pouco

Redução dos homicídios em 2019 fez os brasileiros se sentirem mais seguros, mostra pesquisa Gallup - mas números da violência já voltaram a subir este ano

Amanda Gorziza | 02 nov 2020_09h53
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A queda dos homicídios em 2018 e 2019 teve impacto direto na percepção dos brasileiros sobre a segurança. Dados da pesquisa de opinião 2020 Global Law and Order, do Instituto Gallup, divulgada na semana passada, mostram que os brasileiros se sentiam mais seguros em 2019 em comparação com anos anteriores. A pesquisa, realizada em 144 países, situa o Brasil em 115º lugar no índice de “Lei e Ordem”, que utiliza como base as respostas positivas de quatro perguntas sobre a percepção de segurança das pessoas e suas experiências com crimes e aplicação da lei. No ano anterior, o país estava na 125ª posição. Melhorou, portanto, dez posições no ranking.

A percepção de viver num país mais seguro, porém, pode não resistir aos novos números da violência. Os homicídios voltaram a subir este ano, mesmo durante o isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus. Como apontou a nova edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2020, o crescimento de mortes violentas intencionais foi de 7% em relação ao mesmo período de 2019. De 2018 a 2019, este índice havia caído 17,7%. As mortes decorrentes de intervenção policial, em serviço e fora de serviço, também aumentaram cerca de 6% neste ano.

De acordo com Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a melhora da sensação de segurança da população está relacionada com a diminuição dos crimes dos dois últimos anos. E, com isso, como mostra o relatório do Gallup, cresceu também a confiança da população na polícia: aumentou de 44%, em 2018, para 53%, no ano seguinte. “Quando você tem uma queda na criminalidade, a população tende a se sentir mais segura”, diz. 

Em 2018, o Brasil tinha 62 pontos no índice de “Lei e Ordem” da pesquisa Gallup; em 2019, chegou a 67. A média mundial é de 82 pontos e, dos 144 países que participaram da pesquisa, noventa estão abaixo dessa pontuação – o Brasil é um deles. Países como Singapura (com 97 pontos), Turcomenistão (com 97) e China (com 94) apresentam os melhores resultados de percepção de segurança da população. Já o Afeganistão (43 pontos) vive o pior cenário, no qual apenas 12% da população se sente segura ao andar sozinha à noite. Tirando o Afeganistão, os locais em que moradores se sentem menos seguros são países da América Latina e Caribe e da África Subsaariana.

O Chile é um dos países que apresenta o mesmo índice do Brasil. De acordo com o relatório Gallup, alguns acontecimentos recentes explicam a razão de o Chile estar nessa posição. A nação vive uma onda de protestos desde outubro de 2019 e, junto a isso, uma forte repressão policial. De acordo com o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH), foram apresentadas 2.520 queixas judiciais e cerca de 93% delas são contra carabineros, como são chamados os policiais chilenos. Esse seria um dos motivos da redução drástica da confiança da população na polícia local, que baixou de 59%, em 2018, para 44% no ano seguinte.

Apesar da melhora verificada em 2019, o Brasil está longe de uma posição confortável, pois continua em uma colocação relativa próxima a países em situação de conflito, como Colômbia e Quênia. Quatro entre dez brasileiros não se sentem seguros em andar na rua à noite, o que coloca o país na 10ª pior posição no ranking desse tema. Em 2017, o cenário era ainda mais dramático, o Brasil era o 4º país com maior sensação de insegurança – apenas 31% dos entrevistados se sentiam protegidos. Os dados do relatório foram coletados com 175 mil adultos, 3 mil deles brasileiros, em 2019, ou seja, antes da pandemia. 

“O Brasil ainda precisa melhorar muito para entrar em um padrão de oferecer algum tipo de qualidade de vida para a população”, complementa Renato Lima. Na avaliação dele, as conquistas de 2019 captadas no relatório do Gallup e no Anuário não estão mais presentes na sociedade. “Hoje o cenário é de deterioração dos elementos que permitiram essa melhora relativa do Brasil”, afirma. Com base nos índices de aumento de crimes violentos e conflitos com a polícia neste ano, a tendência é que a percepção do brasileiro sobre segurança piore na próxima edição da pesquisa.

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