Denise Assunção: “Arte é a minha comida, o sangue que escorre da minha cabeça até os dedinhos dos pés" Imagem: acervo pessoal
Seis pontos finais
Brasileiros notáveis que se despediram em 2024
“No velório, quando a palavra foi aberta aos presentes, Norberto Máximo, um de seus netos, declamou um poema do avô que diz: “Quando nós falamos tagarelando/E escrevemos mal ortografado/Quando nós cantamos desafinando/E dançamos descompassado/Quando nós pintamos borrando/E desenhamos enviesado/Não é porque estamos errando/É porque não fomos colonizados.”
Este é um trecho do texto (disponível aqui para assinantes) publicado pela jornalista Samária Andrade na edição de janeiro da piauí sobre o pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos, que morreu em dezembro de 2023, aos 63 anos. Natural do Piauí, ele trabalhou na lavoura, integrou o movimento sindical e foi filiado ao PT. No final dos anos 1990, desfiliou-se do partido e abandonou a política tradicional. “Eu vou pro quilombo, quem quiser ir comigo, venha”, anunciou ele aos seus familiares.
A atuação em associações quilombolas e rurais chamou a atenção da Academia. Foi professor convidado na Universidade de Brasília (UnB) e publicou pela Editora UnB o livro Colonização, quilombos: modos e significações. Seu sepultamento ocorreu debaixo de um pé de angico, em Saco-Curtume, em São João do Piauí, como ele havia sonhado.
Na piauí_209, em fevereiro, o jornalista, músico e tradutor Luiz Chagas narrou outra trajetória notável, a da multiartista Denise Assunção, performer do Teatro Oficina desde 1984, que morreu em janeiro. Chagas rememorou uma resposta de Assunção pouco antes da sua morte sobre o que era arte. “Arte é a minha comida, o sangue que escorre da minha cabeça até os dedinhos dos pés. É um dom, é a minha fé, é aquilo que transforma”, respondeu.
Em junho, a seção despedida da piauí_213 foi dedicada ao filósofo Newton da Costa, morto em abril. Ele tornou-se mundialmente conhecido por ter desenvolvido, no começo dos anos 1960, um ramo novo da lógica, que pôs em xeque o princípio da não contradição. Sua trajetória foi esmiuçada por Fernando Tadeu Moraes, seu orientando no mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Na edição de julho, a jornalista Dorrit Harazim apresentou a história do astronauta William Anders, que morreu no mês anterior. Para ele, a Terra lembrava o “ornamento de uma árvore de Natal”. Nos últimos dias do ano de 1968, a bordo da missão Apollo 8, a primeira missão espacial a orbitar a Lua, Anders conseguiu captar três cliques que entrariam para a história. “O suficiente para Anders ingressar no panteão da fotografia do século XX com uma única imagem, e ela – a Terra – ser apresentada à humanidade em retrato transcendental. A foto recebeu o bonito nome de “Earthrise (ou Nascer da Terra)”, escreveu Harazim.
Em setembro, Ricardo Balthazar assinou uma reportagem sobre o economista Delfim Netto, um dos personagens mais influentes na economia brasileira. Balthazar contou a história do escândalo que atazanou Delfim Netto até sua morte, em agosto, aos 96 anos.
Na última edição da revista em 2024, o jornalista Flávio Pinheiro celebrou o trabalho do fotógrafo Evandro Teixeira, referência no fotojornalismo brasileiro que morreu em novembro, aos 88 anos. “Seu olho preciso, sagaz, malandro e destemido viu de tudo no Brasil e em parte do mundo – ditaduras, carnavais, poderosos, desvalidos, futebol, artistas e transeuntes, mas também o árido cenário de Canudos, que ele amava e visitava uma vez por ano”, escreveu.
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