Ser ou não ser: eis a questão
Interessantes certos movimentos, especialmente os incontroláveis. O Brasil se tornou mesmo um país de vozes predominantemente femininas. A imagem da mulher que solta a voz é muito forte e muita gente vive para descobri-las, seja por interesse comercial (que palavra estranha), ou apenas pelo glamour ou pela fissura de saber todos os detalhes da carreira de uma possível diva, ou de uma já consagrada rainha.
Interessantes certos movimentos, especialmente os incontroláveis. O Brasil se tornou mesmo um país de vozes predominantemente femininas. A imagem da mulher que solta a voz é muito forte e muita gente vive para descobri-las, seja por interesse comercial (que palavra estranha), ou apenas pelo glamour ou pela fissura de saber todos os detalhes da carreira de uma possível diva, ou de uma já consagrada rainha.
O fato é que hordas de cantoras aparecem todo mês por aí. Umas já chegam bem legitimadas, mais situadas e interessantes, outras nem tanto; até aí, normal. Mas é que, de novo, uma ironia me chama atenção. A imagem de Marisa Monte é muito forte e chegou, merecidamente, marcando presença completamente definitiva na MPB. Desde então as fileiras de candidatas a Marisa são impressionantes. São muitas meninas bonitas e femininas e afinadinhas, que anseiam pelo posto e muitas conseguem mesmo destaque e espaços. Porém, para desapontamento de muitos, as duas cantoras que estão merecendo as luzes, fogem, e muito, a essa regra.
Maria Gadú é uma delas. É a única fã confessa de Marisa Monte que parece realmente seguir seus passos, musicalmente falando. E tem muita personalidade, carisma e propriedade ao fazê-lo, o que lhe confere então singularidades que me parecem fundamentais para que uma carreira seja bonita. Gadú teve imensa força da mídia quando apareceu, o que também lembra seu ídolo, e igualmente tem fôlego próprio para prosseguir. Superinfluenciada pelos anos 90, tem a seu favor, além do talento, o tempo. E acho que vai ser melhor ainda quando ele passar.
Tulipa Ruiz é a outra cantora de quem quero falar aqui. A novidade que veio dar à praia é de Sampa, meu! Um pouco mais velha que Gadú, Tulipa não se parece com ninguém. Já se parece com ela mesma, com alguém de forma única e certeira. Sua voz aguda escorre afiada e afinada pela garganta e se derrete nos nossos ouvidos como um bálsamo, um presente do céu. Sua música traz elementos inusitados, arranjos improváveis e temas cotidianos tratados de maneira diferente. Assim como Gadú, ela compõe e muitíssimo bem. Mas vamos ver de onde ela veio? Filha de Luiz Chagas, guitarrista da lendária e sensacional banda Isca de Polícia, que acompanhou o genial Itamar Assumpção em seus álbuns mais emblemáticos. Além do pai, também está cercada de seu irmão, Gustavo Ruiz, músico inventivo e seguro, parceiro e produtor de seu trabalho. O improvável, o surpreendente, o “esquisito” são seu habitat mais que natural. Tulipa se mexe de um jeito engraçado, cativante e, quando sorri, ganha o mundo! Tulipa e Gadú têm borogodó.
Então me delicio com o fato de todo mundo estar olhando pra um lado e a novidade vir de outro. Maria Gadú e Tulipa Ruiz não são padrão, não seguiram o roteiro das boas moças. Elas são do balacobaco, elas inquietam os que gostariam de ver o sucesso enquadrado numa moldura previsível. Os estilos musicais são muito diversos, mas a irreverência de suas imagens as une e é muito bem-vinda!
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