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“Só agora posso dizer que sou pintor”

    Se eu fosse vocês, olhava pra mim de novo_2018_(série Pardo é papel; 320 x 480 cm)_Neste autorretrato, o pintor relaxa sobre uma espécie de píer. A padronagem de fundo remete à das piscinas Capri, muito comuns em favelas do país. Feitas de plástico, costumam mesclar diversos matizes de azul, parecidos com os dos ladrilhos portugueses. “Aqui, substituo as cores originais pelo azul-realeza e pelo dourado, tons que expressam riqueza e sofisticação”, diz Maxwell Alexandre

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“Só agora posso dizer que sou pintor”

O artista carioca Maxwell Alexandre conta como foi alterando o seu jeito de pintar

Maxwell Alexandre | 20 ago 2025_10h59
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Embora se dedique à pintura há quase dez anos, o carioca Maxwell Alexandre – um dos principais artistas contemporâneos do país – diz que somente agora se vê como pintor. Na edição deste mês da piauí, ele conta que desprezava Picasso, Matisse e outros “gênios dos pincéis” quando iniciou a carreira. “Eu não enxergava tantas qualidades na maioria da velha guarda que ocupa o panteão da arte. Considerava os sujeitos ruins, chatos, um negócio sem graça mesmo. Visitava museus famosos da Europa, tipo o Louvre, e passava rapidinho por aquela massa de obras antigas.”

Para o artista, todos os elementos que costumam mobilizar os pintores – a cor, a luz, a textura e a forma – soavam como “papo de playboy”. “Coisa de quem tem a vida ganha e o privilégio de se preocupar com detalhes, tá ligado? Uma parada distante da minha realidade.” Preto, carioca e flamenguista de coração, Alexandre nasceu e se criou na favela da Rocinha. Por isso, sentia falta de mestres negros entre os medalhões que servem de farol para a pintura do Ocidente. Não satisfeito em desprezar a tradição, se julgava capaz de fazer o que os bambambãs fizeram.

“Era uma indiferença soberba”, explica. “Não se tratava de ignorância. Estudei sociologia da arte, história da arte e filosofia da arte quando cursei design na PUC do Rio de Janeiro. Conhecia bem os códigos do universo artístico. Minha postura marrenta diante do cânone resultava mais de um espírito bastante competitivo e provocador, alguma ingenuidade, muito recalque e certa resistência para aceitar meus limites.”

Em vez de definir seus trabalhos como pinturas, Alexandre preferia chamá-los de anotações ou taquigrafias. Na hora de pintar, não apenas ignorava cor, luz, textura e forma. Também dispensava objetos de referência e modelos vivos. Pintava tudo de memória ou baseado na imaginação. “Pá pum! Era um lance mais ligeiro, irreverente e descontraído.” De 2023 para cá, porém, o artista sente que sua cabeça está mudando. “Baixei as armas e compreendo cada vez melhor os grandes nomes da pintura, o que acabou por alterar a maneira como pinto. Agora já não tenho pudores de admirar Cézanne ou Monet e me dizer pintor.”

O circuito de arte sempre identificou Alexandre “como o preto que discorre sobre si próprio, a favela e a negritude”. De fato, as três séries de pintura que o notabilizaram – Reprovados, Pardo é papel e Novo poder – abordam tais assuntos. “Só que, em 2024, quando já levava vida de playboy, lancei a série Clube e inaugurei uma nova fase na minha carreira. Estou interessado agora no corpo branco, o tópico mais celebrado e exaurido da arte ocidental.”

 Assinantes da revista podem ler a íntegra do depoimento e verem o portfólio neste link

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