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Solidariedade sem fronteiras – Irã chama

De passagem por Porto Alegre, onde fez palestra segunda-feira (31/10) no projeto “Fronteiras do pensamento”, Mohsen Makhmalbaf propôs a criação de um comitê de solidariedade que poderia se chamar “cineastas sem fronteiras”. O cineasta iraniano, diretor entre muitos outros de A caminho de Kandahar (2001), enfrenta a ditadura iraniana desde jovem, tendo passado cinco anos como prisioneiro político.

| 04 nov 2011_11h16
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De passagem por Porto Alegre, onde fez palestra segunda-feira (31/10) no projeto “Fronteiras do pensamento”, Mohsen Makhmalbaf propôs a criação de um comitê de solidariedade que poderia se chamar “cineastas sem fronteiras”. O cineasta iraniano, diretor entre muitos outros de (2001), enfrenta a ditadura iraniana desde jovem, tendo passado cinco anos como prisioneiro político.

Na década de 1960, durante o regime militar, no Brasil, cineastas presos contaram com a solidariedade de seus colegas de outros países, em alguns casos diretores de quem não se esperaria tal gesto.

Quando Joaquim Pedro de Andrade, por exemplo, foi detido pelo Departamento de Ordem Política e Social – DOPS durante o FestRio, em 1969, o fato de Claude Lelouch, graças à intermediação de Hugo Carvana, ter anunciado à imprensa que cancelaria a exibição do seu filme naquela noite se Joaquim Pedro não fosse libertado contribuiu para que ele pudesse dormir em casa.

Agora, seria hora de retribuir. Não só como forma de retribuição, mas por simples dever de solidariedade.

A confirmação da pena de 6 anos de prisão à qual Jafar Pahani foi condenado, além da proibição de filmar por 20 anos, divulgada há duas semanas, não parece, porém, ter tido maior repercussão no Brasil.

Segundo publicou O Estado de S.Paulo, a criação do comitê de solidariedade poderá ser anunciada hoje (4/11), em São Paulo. Em Porto Alegre, Mohsen Makhmalbaf declarou que “no atual cinema iraniano, alguns estão presos, alguns serão presos, alguns foram libertados e alguns estão fora do país. Somos um grupo que vai de um lugar a outro tentando fugir do regime. Os iranianos estão sendo crucificados e aguardando a libertação, a salvação, a ajuda de alguém para se livrar dessa situação.”

Em entrevista à Folha de S.Paulo, declarou que “filmar ficou muito mais difícil” com o regime de Ahmadinejad. “Antes, censuravam os filmes, mas não prendiam nem torturavam os cineastas, e as atrizes não eram açoitadas na prisão. Quando os cineastas se propunham a filmar fora do Irã, não eram ameaçados nem sofriam atos de violência, como o cometido contra minha filha Samira, no Afeganistão: uma bomba explodiu no set de filmagem, matando um membro da equipe e ferindo 20 pessoas.”

Sem poder filmar há anos em seu próprio país, Mohsen Makhmalbaf enfrenta também dificuldades criadas pelo governo iraniano para exibir seus filmes em festivais internacionais.

Um dos propósitos de Makhmalbaf é conseguir que cineastas brasileiros ajudem a pressionar o governo a “não se abster nos fóruns internacionais de direitos humanos em que o Irã é julgado.”

No blog da revista The New Yorker (19/10), Richard Brody comenta a exibição no Festival de Nova York de Isto não é um filme, de Jafar Panahi, (exibido na 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 21 de outubro) “sua resposta à prisão, condenação e banimento da realização cinematográfica. Mesmo revendo a crítica de Offside, também de Panahi, que havia publicado em 2007, Brody reafirma que “o filme é um desafio excessivamente razoável a um conjunto absurdo de leis, mas é sem dúvida um filme profundamente sincero, autêntico, e até passional, e se pudesse pediria desculpas a Panahi por ter pensado de outra forma. É o fato de ser tão razoável e moderado que faz seu novo filme – feito sob, apesar de, e sobre seu banimento oficial da realização cinematográfica – tanto mais extraordinário. Ele é também um trabalho de precisão espantosa e refletida serenidade, evocando a calma indignação da maltratada razão.”

Brody reproduz ainda a notícia divulgada por Anthony Kaufman no site Indie Wire do apelo de um grupo de diretores e atores iranianos para que todos os países do mundo boicotem as organizações oficiais iranianas de cinema e TV e penalizem seus membros.

Brody comenta que o nome de Abbas Kiarostami não consta da lista de signatários do apelo e conclui dizendo que “isso é uma outra história”.

Qual será essa história?

No blog do Guaciara está publicado Um instante de inocência: realismo e auto-reflexividade, de Cláudia C. Mesquita, texto de 1997 em que a autora comenta Um instante de inocência (1996), na época o último filme de Mohsen Makhmalbaf exibido no Brasil.

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