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Sugando a rede

Zelia Duncan | 10 mar 2011_11h44
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Música é assim: mesmo quando você está tentando escrever sobre ela em silêncio, algo pressiona um “play” naquela playlist da vida, e os sons vão soando na cabeça de forma insistente. É físico o lance. Desde que aceitei preencher este espaço aqui, os sons não me deixam. É como se uma multidão deles quisesse me atropelar, me abduzir, me exigir atenção. Mas preciso ser forte e decidir por mim mesma. Essa imensa porteira que a música escancara na nossa frente será devidamente explorada e desfrutada, na medida do impossível!

E, como eu acordei meio pop/rock, botei na agulha Vampire Weekend, banda indie, recente e badalada, que já esteve dia desses no Circo Voador (RJ). Então deu vontade de falar deles e desse mundo de Internet, que veio ao encontro dos anseios desse tipo de banda, que conta com novos meios pra se divulgar e aparecer (e quem não?). “Contra” (2010) é o nome do álbum, segundo petardo da banda que vem marcando espaços bacanas e tem um leque de sons que surpreende. Encontramos ali uma interessante influência africana que também resvala em obscuríssimos álbuns brasileiros, como “Ronnie Von nº. 3” e “Paulo Bagunça e a Tropa Maldita” — esse último já com sonoridade africana e um clima eletrônico que devia soar bizarro e modernoso já naqueles tempos. Um som também meio “Graceland” de vez em quando, trabalho gravado nos anos oitenta por Paul Simon, (sim, aquele do Garfunkel), inclusive na semelhança com a voz desse supercompositor. É muito interessante esses caras trazerem à tona o que o Brasil não só se esqueceu como mal se lembrou que existia, mesmo na época em que esses álbuns foram lançados. Numa dessas, não fosse David Byrne, Tom Zé estaria plantando suas flores geniais em outros estranhos jardins. Em suma, é o “Contra” mais a favor de várias influências, entre tantas outras bandas indie que brotam a cada semana pelo espaço. E também americanos influenciados pela África, o que é sempre um susto bom pra todo mundo.

Falo do Vampire Weekend por ser uma banda que se destaca nesse universo de tantas bandas relevantes que estão aparecendo atualmente e por ser um bom exemplo dessa modalidade de artistas com perfil independente, que talvez, em outros tempos, demorassem mais a achar uma maneira de se mostrar de verdade.

O mercado tradicional das grandes companhias de disco ruiu e desabou sobre nossas cabeças. No Brasil, a princípio, as majors, infelizmente, resolveram declarar guerra à internet. Foi a “crônica de uma morte anunciada”. Nada poderia deter o futuro que se fazia presente e definitivo. Pois, se hoje em dia, através da rede, até as ditaduras árabes estão em risco! Agora todos estão, já há algum tempo, correndo atrás de usufruir do “inimigo”. Mas, como tudo tem dois lados sempre, as bandas alternativas e seus selos independentes, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, se beneficiaram dessa imensa mudança, que é uma mudança profunda também no comportamento de quem consome música. A garotada sedenta por novidade pode agora encontrar bandas de todo tipo apenas apertando uns botõezinhos. E toda uma rede de novos profissionais está aparecendo para tornar isso cada vez mais sedutor e convidativo. E, nessa onda, por ironia do destino, muitas bandas indie se revelam, crescem, se agigantam e tomariam, se quisessem, espaços dentro das grandes gravadoras, que jamais investiriam nelas, quando anônimas.

Enquanto isso, no mundo real, o espaço virtual é uma realidade que bomba, um instrumento e uma arma que precisam sempre estar do nosso lado. Me parece que é o ponto de contato entre quem já tem uma carreira mais sólida, se é que isso existe, e quem está à beira de conquistar também um espaço, assinar um pedaço de palco por aí. Mas nunca vamos poder prescindir de talento e criatividade, até pra avisar aos internautas que aqui estamos e por vós esperamos!

Saiba mais

Escute aqui um pouco de Vampire Weekend.

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