Tarcísio e Bolsonaro, na manifestação do Sete de Setembro: se o subproletariado ficou com o lulismo, o precariado, associado a frações da pequena burguesia, ficou com a extrema direita CRÉDITO: IAGO QUEIROZ_ESTADÃO CONTEÚDO_2024
Tarcísio de Freitas e o bolsonarismo Shrek
Nova modalidade de reacionarismo promete dar trabalho ao lulismo
Nas eleições de outubro, um personagem da internet, desconhecido na política, roubou a cena, manteve a Justiça paralisada e ficou a apenas 57 mil votos de ir para o segundo turno. Ao mobilizar a raiva de uma parcela da sociedade contra o “sistema”, Pablo Henrique Marçal reativou impulsos radicais e dividiu o campo da direita. O episódio reorientou a narrativa do que virá no futuro, escreve o cientista político André Singer, na edição deste mês da piauí. “De um lado, estava a turma da pancada, cuja pulsão é chutar o pau da barraca. De outro, o grupo que opera pelos métodos tradicionais da dominação brasileira. No fim, a camiseta polo (refere-se ao governador Tarcísio de Freitas) venceu a batalha paulistana e se qualificou para liderar o confronto com Lula em 2026”, observa.
Tarcísio e sua turma se engajaram fortemente na bem-sucedida campanha de Ricardo Nunes (MDB) para a prefeitura de São Paulo. Para tanto, o governador colocou em campo uma nova modalidade de reacionarismo: o bolsonarismo Shrek, de aparência inofensiva – como o ogro verde da animação americana –, em oposição ao bolsonarismo raiz, cujo aspecto é mais assustador. Até certo ponto, o bolsonarismo Shrek prescinde, inclusive, de Bolsonaro.
Na coalizão que elegeu Nunes, encontrava-se a quintessência do coronelismo: além do MDB de Michel Temer, o ubíquo PSD de Gilberto Kassab, o União Brasil de ACM Neto, e o PP, outrora comandado por Paulo Maluf e agora pelo senador Ciro Nogueira. “Foi a festa de reencontro do Centrão, descosturado desde que o PL se tornou veículo organizativo do bolsonarismo”, escreve Singer.
O bolsonarismo Shrek promete dar trabalho ao lulismo, diz o cientista político. Ainda que o presidente se beneficie do efeito reeleitoral, precisará resistir à crescente pressão da burguesia cosmopolita pela austeridade. Tarcísio, por sua vez, tem longo caminho a percorrer. “A tarefa de abrir diálogo com a parcela precarizada e revoltada dos trabalhadores, que colou o ‘M’, de Marçal, no baú das motocicletas, será árdua. Os 18% que Marçal obteve na pesquisa Quaest para presidente sugerem fenômeno nacionalizado de repúdio às práticas mandonistas.” O conservadorismo de Tarcísio teve 15% no mesmo levantamento, e o amálgama que ele propõe com as oligarquias locais reunidas torna a conversa complicada, pois o pessoal do pé na porta odeia o establishment.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.
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