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Táxi Teerã – o direito de se expressar

Para um diretor proibido de realizar filmes pela República Islâmica do Irã, em 2010, além de vedado de escrever roteiros, dar entrevistas por 20 anos, e condenado a prisão domiciliar, Jafar Panahi tem sido extraordinariamente produtivo.

| 03 dez 2015_15h16
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Para um diretor proibido de realizar filmes pela República Islâmica do Irã, em 2010, além de vedado de escrever roteiros, dar entrevistas por 20 anos, e condenado a prisão domiciliar, Jafar Panahi tem sido extraordinariamente produtivo. Em 5 anos, fez três filmes – Isto não é um filme, Cortinas fechadas e Táxi, esse último premiado, em fevereiro deste ano, com o Urso de Ouro no Festival de Berlim.

Em março de 2010, Panahi havia sido preso e levado por policiais à paisana para a prisão de Evin, onde dissidentes políticos são encarcerados e ele ficou durante cerca de dois meses. A justificativa para sua detenção foi que estaria fazendo um filme contra o regime, sobre as manifestações de protesto ocorridas após a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.

Apesar das condenações e da ameaça de ter que cumprir pena de prisão de 6 anos, nunca concretizada, Panahi continua em liberdade, desafiando continuamente o espírito da sentença. Parece haver um entendimento tácito, não formalizado, entre ele e as autoridades do seu país, permitindo que ele faça filmes irônicos, à sua maneira, em aparente obediência à letra da lei.

As autoridades iranianas parecem fazer vista grossa e aceitar as espertezas de Panahi. Como condená-lo se o título adverte que “isto não é um filme”, ou se o filme é todo feito entre quatro paredes, ou se é apresentado sem créditos, não podendo formalmente ser atribuído a ele? Mais difícil de entender é admitirem que os filmes de Panahi sejam exibidos regularmente em festivais internacionais, e no caso de Isto não é um filme enviado ao exterior, como um presente aos cinéfilos do mundo, em um pendrive escondido dentro de um bolo – se é que isso é mesmo verdade.

Panahi havia pleiteado permissão do governo para exibir seu filme no Irã, afirmando que “nenhum prêmio vale tanto quanto meus filmes poderem ser assistidos por meus compatriotas”. Quando Táxi foi premiado em Berlim, ele declarou que “por ele e pelo cinema iraniano estava realmente feliz”, mas aproveitou a ocasião para denunciar o governo do Irã: “As pessoas no poder nos acusam de fazer filmes para festivais no exterior. Essas pessoas se escondem atrás de paredes políticas e não esclarecem que nossos filmes nunca recebem autorização para serem exibidos nos cinemas iranianos.”

Hojjatollah Ayyubi, da organização governamental iraniana de cinema, celebrou a premiação de Táxi em Berlim, assim como Panahi ter desconsiderado a proibição de fazer filmes, acusando o festival, ao mesmo tempo, de espalhar equívocos: “Eu lamento que vocês queiram levar todo mundo em um táxi de novos mal-entendidos sobre o povo do Irã, projetando um filme feito por um diretor que foi proibido por lei de fazer filmes.” Ayybi disse ainda que “ele fez exatamente isso. Eu estou encantado em anunciar que o diretor de Taxi continua a dirigir na pista de alta velocidade da vida dele, desfrutando livremente todas suas bênçãos.” (citações e informações deste post estão disponíveis aqui)

Mesmo conseguindo se manter ativo, seria de esperar que os filmes de Panahi refletissem uma situação que vista de longe parece dramática, para não dizer trágica. De fato, Isto não é um filme e Cortinas fechadas, apesar de irônicos são também sombrios, marcados pelas circunstâncias sufocantes em que foram realizados.

Mas Táxi Teerã está em outro patamar. É um filme leve e bem humorado. Inteligente também, como os anteriores. O espaço continua confinado, mas desta vez é um espaço móvel no qual interior e exterior estão em permanente contato. Panahi confirma e inova sua habilidade em fazer filmes com restrições e limites definidos, procedimento característico do cinema contemporâneo.

Panahi declara: “Eu sou iraniano. Vou ficar no meu país e gosto de trabalhar no meu país. Eu amo meu país. Paguei um preço por esse amor e estou disposto a pagar de novo.”

Em outra declaração, mais recente, afirmou: “nada pode me impedir de fazer filmes porque ao ser empurrado para cantos extremos eu me conecto ao meu eu interior e em espaços tão privados, apesar de todas as limitações, a necessidade de criar torna-se ainda mais premente. Cinema como arte torna-se minha principal preocupação. Essa é a razão por que eu preciso continuar quaisquer que sejam as circunstâncias a fazer filmes para expressar meu respeito e me sentir vivo.”

Em Táxi Teerã Panahi exerce em plenitude esse direito vital de se expressar e, além de tudo, na sequência brilhante com sua jovem sobrinha Hana Saeidi, faz do filme um meta-filme. Ela começa a tarefa escolar que recebeu – fazer um curta-metragem –, gravando Panahi ao volante do seu táxi e conta para ele que a professora disse quais são as regras para fazer um filme que possa ser exibido no Irã: o “sórdido realismo” deve ser evitado a todo custo. Os filmes de Panahi não tem nada de sórdido. Ainda assim, não podem ser exibidos no Irã.

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