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The Queen is dead

Zelia Duncan | 28 jul 2011_10h53
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Quando morre um artista que, em vida, encheu a nossa de sentidos, é uma coisa sofrida. Bate um vazio esquisito. Não importa muito o motivo. Se tragédia pessoal, acidente, doença ou simplesmente o fim da linha. Claro que uma pessoa jovem, causa uma comoção diferente, um lamento mais comprido. Mas o fato é que um artista que parte, seja em que idade for, dá espaço pra vida real, pra crueza toda do cotidiano. É uma fonte de surpresas emocionantes e questionamentos importantes, que seca pra sempre.

Então Amy Winehouse partiu. Sucumbiu ao roteiro sinistro que de certa forma foi escrito por sua curta história, até então. Cheguei a pensar (e desejar!), que ela ficaria nesse folclore do “vai não vai”, de ser durante muito tempo alimento pros abutres dos asquerosos tablóides ingleses, sei lá, tudo menos morrer. Morrer é radical demais, silencioso demais, vazio demais, pra quem tinha uma importância daquele tamanho. Pra quem marcou presença como a voz mais desafiadora e incrível das últimas décadas. Uma bad girl legítima, que comoveu o mundo inteiro com seu estilo, seu vestido curto, apesar das pernas finas, seu amor bandido, estampado nas bancas e nas letras despudoradamente autobiográficas de suas irresistíveis canções.

Dá uma profunda tristeza imaginar o sofrimento. Quando, no show do Rio, não percebi nela nenhum tipo de prazer, ou mesmo de catarse através da música, o beco sem saída se anunciou ali, na frente da platéia.

“Nunca morrer assim, num dia assim, de um sol assim…”

Sua música fez a alegria de um monte, de milhares, mas não serviu à ela própria. Não evitou que ela despencasse pra dentro de seu abismo particular e ela caiu, quando por sua própria vida, devia voar. Porém as expectativas, as relações vampirescas de todas as naturezas e o falso poder e conforto efêmero daquelas drogas pesadas, provavelmente cortaram suas asas na hora da queda. E não houve rede possível.

Se negou tanto e nos divertiu tanto dizendo que não voltava pro “rehab”, que agora is “back to black” for good. E nos deixou aqui, com esse pepino que é a vida real, nua e crua. Sabendo que ela não vai reaparecer. O que vai aparecer agora será o seu fantasma , que a gravadora e, provavelmente, o pai, vão arrastar por aí. Vazio esquisito… e aquela sensação péssima de que a sombra tá ali fora, pronta pra engolir o primeiro que fraquejar. Mas antes que isso aconteça, eu corro pro tocador de CD e bem alto ouço a voz irremediavelmente revolucionária de Amy Winehouse e ressuscito com ela, no meio da sala!

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