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    (foto: Deutsches Bundesarchiv)

Questões da Ciência

Turing, criptógrafo

O Reino Unido celebra este ano o centenário de nascimento de um de seus mais importantes cientistas do século 20: o matemático Alan Turing. Lembrado como um dos pais da computação, ele foi também o nome mais conhecido da equipe britânica que decodificou o sistema infernal de criptografia usado pela marinha alemã na Segunda Guerra Mundial: as máquinas Enigma.

| 16 fev 2012_10h11
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(foto: Deutsches Bundesarchiv)

O Reino Unido celebra este ano o centenário de nascimento de um de seus mais importantes cientistas do século 20: o matemático Alan Turing. Lembrado como um dos pais da computação, ele foi também o nome mais conhecido da equipe britânica que decodificou o sistema infernal de criptografia usado pela marinha alemã na Segunda Guerra Mundial: as máquinas Enigma.

Esses dispositivos eletromecânicos tinham uma série de rotores que permitiam embaralhar as letras com bilhões de combinações diferentes, de forma virtualmente indecifrável. O sistema foi usado comercialmente nos anos 20 e depois apropriado pelos militares para suas comunicações estratégicas. Eles acreditavam se tratar de um código impossível de ser quebrado.

Os primeiros a quebrar o sistema foram os poloneses liderados pelo matemático Marian Rejewski, no início dos anos 1930, num dos feitos mais importantes da criptografia do século 20. Sem que os alemães soubessem, os criptógrafos poloneses interceptaram e decifraram suas mensagens ao longo daquela década. Antevendo a iminência da guerra, eles dividiram suas informações com os ingleses e franceses – poucos dias depois, a Polônia foi invadida pela Alemanha.

A informação foi essencial para que o grupo de Alan Turing pudesse quebrar a Enigma naval, uma versão posterior mais complexa do sistema de cifragem. Com Gordon Welchman, Turing projetou a Bombe, uma máquina capaz de identificar os ajustes dos rotores usados na cifragem das mensagem pelos alemães. O grupo de criptoanalistas britânicos trabalhou em Bletchley Park, 80 km a noroeste de Londres. No mesmo lugar, funciona hoje o Museu Nacional da Computação e o Centro Nacional de Códigos, um museu de criptografia que abriga uma coleção de máquinas Enigma.

Quem quiser saber mais sobre Alan Turing e a quebra das máquinas Enigma deve ler O Livro dos Códigos, de Simon Singh, um dos mais talentosos escritores britânicos de divulgação científica. Ao escrever sobre temas como o teorema de Fermat ou o Big-Bang, Singh consegue prender a atenção de seus leitores como se eles estivessem lendo livros de mistério. Em sua incursão pela criptografia, ele resgata a história dos principais métodos de criptoanálise já desenvolvidos, da cifra de César, a mais antiga de que se tem notícia, à criptografia quântica, ainda uma promessa.

O livro foi leitura de cabeceira de Paulo Orenstein, um dos matemáticos que desvendaram as mensagens cifradas deixadas pela artista Joana César pelos muros do Rio de Janeiro, com um alfabeto criado por ela. Singh conta em detalhes como foi desenvolvida a análise de frequência – método milenar na base da solução usada por Orenstein para quebrar o código da artista – e como a criptografia virou coisa de matemáticos ao longo do século 20. A história de como o código de Joana César foi quebrado está na reportagem “Gritomudonomuro”, publicada na piauí 65 (disponível para assinantes).

Aos cariocas interessados no trabalho da artista plástica, ela participa de uma exposição coletiva de 10 de março a 11 de abril no Centro de Arte Hélio Oiticica. Vai expor um único trabalho de grandes dimensões, com 20 metros de largura por 7 de altura.


(foto: Paulo Orenstein)

Embora seja hoje amplamente reconhecido por seus feitos para a computação e a criptografia, Alan Turing teve um fim melancólico. Em 1952,  foi condenado por manter um relacionamento homossexual – considerado um crime no Reino Unido naquela época. Foi obrigado a se submeter a uma ‘organoterapia’ – eufemismo para castração química. Suicidou-se dois anos depois, aos 41, envenenado por cianureto.

Em 2009, o então primeiro-ministro Gordon Brown disse que o matemático recebera um tratamento “aterrorizante” e “totalmente injusto”. Sua condenação, no entanto, foi mantida. Na semana passada, o Reino Unido perdeu a oportunidade de anistiar um de seus maiores heróis científicos, quando a Câmara dos Lordes rejeitou um pedido de perdão póstumo a Alan Turing, possivelmente para não ter que estender o benefício a outros cidadãos. O abaixo-assinado eletrônico cobrando do governo o perdão a Turing já tem mais de 30 mil adesões.

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