Um desastre anunciado
Este cartão traz uma declaração do jornalista Carlos Lacerda, no auge da crise de governo que desembocaria no suicídio de Getúlio Vargas. Nesse momento, com um quadro político que significava a iminente deposição do presidente eleito havia três anos, Lacerda já se via como o líder de maior futuro do país e candidato forte à sucessão de Getúlio. Dizia nas páginas de seu jornal, que considerava estar liderando, pela imprensa, uma “revolução” pacífica, para livrar o Brasil de Vargas. Nesse clima extremamente tenso, nove dias antes do desfecho da crise e o suicídio do presidente.
Era ainda comum, na década de 1950, que moças ou senhoras da burguesia possuíssem álbuns de autógrafos nos quais, além da simples assinatura, pediam citações ou declarações de pessoas ilustres.
A peça mostrada aqui é uma página tirada de um desses álbuns que tem no verso uma citação do médico Manoel de Abreu, inventor da abreugrafia e também poeta. Do outro lado, com a data momentosa de 15 de agosto de 1954, uma declaração do jornalista Carlos Lacerda no auge da crise de governo que desembocaria no suicídio de Getúlio Vargas. Nesse momento, com um quadro político que significava a iminente deposição do presidente eleito havia três anos, Lacerda já se via como o líder de maior futuro do país e candidato forte à sucessão de Getúlio. Dizia nas páginas de seu jornal, que considerava estar liderando, pela imprensa, uma “revolução” pacífica para livrar o Brasil de Vargas. Nesse clima extremamente tenso, nove dias antes do desfecho da crise e o suicídio do presidente, Lacerda escreve:
“Possam esses dias de ansiedade ser os últimos assim em nossa vida. Que dias mais claros sobrevenham para quem deles tanto necessita.
Uma revolução foi feita, na paz, pela paz. Seja esta a última revolução do Brasil. Rio, 15/9/54. Carlos Lacerda"
Verso/ Manoel de Abreu
Frente/ Carlos Lacerda
Se Lacerda considerava realmente uma “revolução” a campanha impiedosa que vinha conduzindo na mídia (e com a ajuda da Aeronáutica) para derrubar Getúlio, mal sabia o que viria pela frente.
O suicídio de Getúlio em 24 de agosto de 1954 voltou todas as forças populares contra Lacerda, que de herói da “necessária” deposição de Getúlio transformara-se, aos olhos da população, no responsável por seu suicídio. Dez anos mais tarde, seu apoio entusiasta à “revolução” de 1964, (com o qual também esperava alcançar a presidência da República), resultou em sua cassação e no fim da sua vida pública.
O desejo de Lacerda exposto nesta folha de álbum, de que sua “revolução” fosse a última do Brasil não se realizou. O jornalista acabou sendo atropelado por outra “revolução” que instaurou uma ditadura de mais de vinte anos, cujos alicerces Lacerda construiu para tornar-se mais tarde sua vítima.
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