CRÉDITO: OXUM EM ÊXTASE_ ABDIAS NASCIMENTO_ACRÍLICA SOBRE TELA, 153 X 102 CM_BÚFALO, EUA, 1975_ACERVO ABDIAS NASCIMENTO / IPEAFRO
Um texto de Abdias Nascimento inédito em português
O escritor e artista explica para os gringos a cultura afro-brasileira, o candomblé e o racismo nacional
“No Brasil está em curso um império da branquitude, ideologia corruptora e perversa para pessoas negras. Seu objetivo final é a extinção delas no contexto brasileiro; genocídio sutil e hipócrita que não deixa as marcas de seu crime.” Assim o escritor, ator e ativista Abdias Nascimento (1914-2011) explicou para leitores de língua inglesa, em 1972, o racismo brasileiro, no ensaio Afro-brazilian culture. Até agora inédito em português, o texto é um dos destaques da edição deste mês da piauí.
Nele, o escritor argumenta que o Brasil se envergonha das pessoas negras que ajudaram a construir o país. Por isso, os negros são mantidos à margem da sociedade, “como párias nos campos, como habitantes das favelas urbanas, ou em trabalhos desclassificados, como zeladoras, cozinheiras, lavadeiras etc.”
O culto à branquitude no Brasil, para Abdias Nascimento, também levou com que o país negasse os valores da cultura africana. “Em que termos a contribuição cultural africana é aceita?”, ele pergunta. “Na categoria do exótico (ex-ótico: fora da visão), ou seja, como algo realmente estrangeiro à autêntica natureza daquela cultura. A africana é aceita enquanto pitoresca e de valor folclórico.”
Além disso, dada a situação de miséria em que vivem, os negros não têm oportunidade de atuar em atividades artísticas em geral restritas às “camadas sofisticadas” da sociedade. Disso resulta que apenas alguns poucos artistas negros se distinguem nas artes brasileiras.
Mesmo o candomblé – religião que contém uma concepção de vida e uma filosofia do Universo – é considerado apenas como superstição, magia negra e feitiçaria. A cultura de predominância branca, “pretensiosamente superior e escravocrata, quis que os povos africanos fossem seus escravos não apenas de corpo, mas de alma. Assim, o branco tentou inferiorizar a negritude enquanto raça e enquanto cultura, no espírito e na carne”, observa Abdias Nascimento.
Apesar de tudo isso, “a vitalidade espiritual da raça negra no meu país sempre se manifestou de forma deslumbrante”, escreve. “A cada novo dia, as pessoas negras contemporâneas retomam algo de seu passado; na tarefa desgastante de restabelecer os laços vitais de suas vidas, famílias, histórias e culturas, elas reincorporam o passado ao momento presente, e é dessa forma que esboçam seus planos para o futuro”, acrescenta ele no ensaio, que fará parte do livro Abdias, intérprete do Brasil: textos sobre raça e cultura brasileira de 1940 a 1990, organizado por Túlio Custódio, a ser lançado em abril pela Editora Todavia.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.
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