Um Travesti Pioneiro
No começo do século XX, quando a homossexualidade era ainda crime em quase todos os países e a imensa maioria das pessoas nunca ouvira falar em transexuais, um jovem romeno fazia sucesso vestido de mulher ao cantar com voz de soprano em palcos de toda a Europa.
No começo do século XX, quando a homossexualidade era ainda crime em quase todos os países e a imensa maioria das pessoas nunca ouvira falar em transexuais, um jovem romeno fazia sucesso vestido de mulher ao cantar com voz de soprano em palcos de toda a Europa.
Muito pouco se sabe sobre ele. Estaria hoje totalmente esquecido não fosse um famoso retrato seu pintado pelo grande pintor holandês Van Dongen, que se encontra hoje no visitadíssimo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). O retrato de 1908 intitula-se “O soprano Modjesko” e mostra o cantor de perfil, com a boca exageradamente aberta. Mais parece uma caricatura que o retrato de um artista por outro, mas é considerado hoje um dos mais belos quadros tardios do período Fauve na pintura europeia.
O travesti romeno (cujo verdadeiro nome é ainda ignorado) deve ter adotado o pseudônimo de Modjesko (com a terminação masculina em “o”) para ressaltar sua ambiguidade. Helena Modjeska era uma célebre atriz americana de origem polonesa, conhecida em todo o mundo apenas como Modjeska.
A foto reproduzida nesta página é um cartão postal assinado por Modjesko em Roma, em fevereiro de 1905, que mostra toda sua extravagância no vestir. Mesmo para uma época de roupas muito elaboradas, o drapeado das mangas e as flores aplicadas seriam de um pronunciado mau gosto. Modjesko parece não querer deixar nada em casa, abusa dos adereços em torno do espartilho apertado e segura até mesmo uma sombrinha combinando com as rendas do vestido.
A única informação adicional que o cartão postal nos traz é a inscrição “Modjesko, Créole Patti, cantor soprano”. Talvez Créole Patti fosse seu nome artístico alternativo, tendo escolhido neste caso o sobrenome da mais famosa cantora de ópera da época, Adelina Patti, e dizendo-se “créole”, isto é, oriundo das Antilhas francesas, talvez para explicar seu ar misterioso e seus cabelos negros.
O cartão chegou às mãos de seu atual detentor por acaso, em meio a um lote de centenas de outras fotos de cantores do começo do século XX, adquirido num leilão na França.
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí