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    Talita Sá alugou seu apartamento em Brasília para a posse de Lula Montagem de Amanda Gorziza sobre fotos de acervo pessoal

questões turísticas

Vaga no sofá para a posse de Lula

Sucessão presidencial movimenta mercado imobiliário em Brasília, com hotéis lotados e moradores alugando casas e quartos para hóspedes de outros estados

Tatiane de Assis | 31 dez 2022_08h03
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“O governo nem mudou e a minha vida já melhorou”, diz, entre risadas, Yasmin Santos, de 31 anos. Ela vai sublocar um quarto do apartamento em que mora, na Asa Sul, perto da Esplanada dos Ministérios, para um trio de conhecidas que vai a Brasília para a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2023. “Com o dinheiro que vou ganhar, vou comprar uma televisão.”

Santos postou um anúncio com a vaga em seu perfil no Instagram. Usou essa rede porque preferia que seus hóspedes fossem amigos de amigos. Como vai dividir o espaço com os visitantes, não se sentiu confortável em publicar a proposta em outra plataforma.

“Aluguei por um preço baixo, 400 reais a diária para as três pessoas. Tem gente cobrando até 1 mil reais”, diz ela. De fato, uma busca rápida no Airbnb exibe acomodações semelhantes com valores bem distintos, de 576 a 1.257 reais por pessoa, na mesma Asa Sul. Há também ofertas na Asa Norte, Lago Norte e cidades satélites, como o Guará.

As hóspedes de Santos chegam no dia 30 de dezembro e ficam até 3 de janeiro. Depois da posse, que também contará com atrações culturais, como uma exposição de artes no Museu Nacional da República, elas devem visitar localidades próximas conhecidas pelo turismo ecológico, como a cidade de Pirenópolis, a 150 km de distância.

Fosse apenas pelos anúncios em sites de hospedagem, já seria possível falar que existe um movimento massivo na capital federal de locação com foco na posse de Lula. Soma-se a isso a taxa de ocupação nesse período, estimada pelo setor hoteleiro em 100%.

“Brasília sempre recebe turistas, mas é mais gente interessada em arquitetura”, afirma Talita Sá, de 35 anos. Funcionária pública, a arquiteta de formação alugou seu apartamento, também na Asa Sul, para um casal LGBTQIA+. Eles vêm da Paraíba interessados no ato político.

Da mesma forma que Santos, ela preferiu hospedar pessoas recomendadas. “São amigos de um colega de trabalho”, diz. Mas optou por formalizar a negociação por meio de contrato. O acordo de Santos com seus hóspedes se deu somente pelo WhatsApp.

“Vou fazer uma vistoria com eles quando entrarem, se algo for danificado eles terão que arcar com o custo. Da mesma forma que, se queimar a resistência do chuveiro elétrico, eu estarei à disposição”, afirma Sá, que vai ficar na cidade, mas em outro local, durante o período.

Mas o turismo político em Brasília ainda abre outra questão: o conflito entre as correntes partidárias interessadas na posse. Ao mesmo tempo que um público à esquerda pretende se deslocar para a capital, grupos de extrema direita já estão por lá. “Há poucas semanas, meu primo estava em um hotel e viu uma movimentação muito grande de hóspedes bolsonaristas. Não se sabe se eles vieram para os últimos dias do governo do atual presidente ou se vão passar o 1º de janeiro aqui”, conta Sá.

Apesar da tensão dos últimos dias, com um bolsonarista preso sob suspeita de tentar explodir um caminhão, a arquiteta aposta que vai correr tudo bem até a posse. “É preciso muita gente, milhares de pessoas, para ‘lotar’ Brasília”, acrescenta a arquiteta. Com muitos turistas a caminho, a cidade se prepara para, ao menos por 24 horas, viver um clima meio Diretas Já, meio Woodstock. Por essa nem Niemeyer esperava.

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