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    Snuppy (à direita) foi o primeiro cão clonado do mundo, feito obtido em 2005 pela equipe de Woo Suk Hwang, autor da foto.

Questões da Ciência

Vida após a fraude

A semana teve novidades para quem acompanha questões ligadas à integridade científica.  A vida segue para o coreano Woo Suk Hwang, protagonista de uma das maiores fraudes da história recente da ciência. Depois de demitido de sua universidade, Hwang trabalha num centro de pesquisa privado com clonagem de cães e pretende clonar um mamute extinto. Já no Brasil, um pesquisador da Unicamp que havia dito que o plágio é o pior tipo de fraude científica teve um artigo anulado – justamente por plágio.

Bernardo Esteves | 17 jan 2014_17h29
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A semana teve novidades para quem acompanha questões ligadas à integridade científica. Uma reportagem assinada por Dennis Normile na edição de hoje da Science traz notícias do pesquisador sul-coreano Woo Suk Hwang, protagonista de uma das maiores fraudes da história recente da ciência. Em 2004 e 2005, Hwang forjou resultados de estudos nos quais alegava ter obtido células-tronco embrionárias humanas por clonagem – um feito celebrado em todo o mundo até a descoberta da fraude. Hwang passou de herói nacional a motivo de vergonha em seu país. Foi demitido da universidade em que trabalhava.

O sul-coreano começou a reconstruir sua carreira pouco depois, num centro de pesquisa criado e financiado por um empresário filantropo. Proibido de lidar com células humanas, Hwang tem concentrado seus esforços em pesquisas com a clonagem de cães – ele comandou o grupo que pela primeira vez clonou essa espécie em 2005 (um estudo que, diferentemente de outros artigos de impacto da equipe, não foi invalidado). Conforme relata Normile:

Oito anos depois de ter sido demitido pela Universidade Nacional de Seul por seu papel central numa das mais conhecidas fraudes científicas da história, Hwang, 61, está numa posição que muitos pesquisadores invejariam. Está à frente da Fundação Sooam de Pesquisa em Biotecnologia, um instituto sem fins lucrativos com uma equipe de 40 funcionários, orçamento anual de 4 milhões de dólares e um novo prédio bem equipado de seis andares. Seu grupo tem publicado artigos regularmente. Donos de cachorro de todo o mundo, bem como a polícia sul-coreana, procuram seus serviços. O instituto está aplicando seu know-how na clonagem para resgatar espécies ameaçadas e promover o melhoramento genético de raças de animais de criação, assim como na pesquisa básica em biologia do desenvolvimento. E dizem que Hwang espera algum dia retomar o trabalho com células-tronco embrionárias humanas.

Segundo a reportagem, o instituto de Hwang já clonou mais de 200 cães de estimação, ao preço de 100 mil dólares cada, além de outros tantos animais da polícia. Normile conta ainda que a equipe coreana pretende aplicar sua expertise em clonagem animal a espécies ameaçadas e em extinção. Recriar o mamute lanoso, espécie pré-histórica de elefante que desapareceu por volta de 10 mil anos atrás, seria o objetivo do grupo – visto com ceticismo por especialistas ouvidos pela reportagem.

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Também na semana que passou, o blog Retraction Watch, leitura indispensável para quem se interessa pelo tema da má conduta na ciência, trouxe uma notícia relevante para a ciência brasileira. O blog noticiou a anulação (retraction) de um estudo publicado em março de 2009 por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Publicado nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, o estudo investigava as relações entre a composição da flora intestinal e a obesidade. A primeira autora é Daniela Miti Lemos Tsukumo; o último autor – posto comumente reservado ao cientista sênior do grupo – é Mario Jose Abdalla Saad, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

O estudo foi anulado porque “em alguns parágrafos há frases de outros textos reproduzidas na íntegra e não referenciadas” – em bom português, por plágio. O mais irônico, como notou o Retraction Watch, é que Saad havia condenado esse tipo de fraude numa entrevista de 2011. Numa reportagem da Folha de S.Paulo sobre integridade na ciência, ele declarou à jornalista Sabine Righetti: “O pior tipo de fraude é copiar reproduzir ideias sem mencionar a fonte”.

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