The Act of Killing CO
Werner Herzog e Errol Morris comentam The Act of Killing
Para Morris, há “loucura” na abordagem do diretor Joshua Oppenheimer. “Ele pede às pessoas para participar de um filme de ‘ficção’ baseado em fatos reais, no qual eles reencenam assassinatos, esses assassinatos que eles cometeram. Felizmente eles concordam em fazer isso, com a ênfase em felizmente.”
Quanto às implicações éticas da proposta, Morris não faz nenhum comentário.
Vejam o que Herzog e Morris têm a dizer sobre The Act of Killing.
Para Morris, há “loucura” na abordagem do diretor Joshua Oppenheimer. “Ele pede às pessoas para participar de um filme de ‘ficção’ baseado em fatos reais, no qual eles reencenam assassinatos, esses assassinatos que eles cometeram. Felizmente eles concordam em fazer isso, com a ênfase em felizmente.”
Quanto às implicações éticas da proposta, Morris não faz nenhum comentário.
Herzog diz que ao ver oito minutos de excertos do filme, mostrados a ele, enquanto tomava café, por Oppenheimer “soube imediatamente que nunca tinha visto nada parecido. Nunca tinha visto nada tão poderoso, tão amedrontador, e tão surreal quanto o que estava na tela, e […] imediatamente disse: isso é grande. Isso é realmente, realmente grande.”
O suposto ineditismo se superpõe a tudo. Nenhuma consideração é feita por Herzog sobre as implicações morais do projeto. Para ele, basta ser o mais “poderoso”, “amedrontador” e “surreal” que já viu para ser “realmente grande”.
Morris acha que “chamar o filme de ‘surreal’ não lhe faz justiça. No fundo, é escandaloso [outrageous], o que é uma das coisas que o torna realmente, realmente, realmente interessante.”
Outrageous poderia ser traduzido por ultrajante, ou extravagante, ou monstruoso. Admitamos que nenhum desses sentidos corresponda à intenção de Morris. Ainda assim, o fato de ser “escandaloso” por si só não o torna “realmente interessante”.
“Não se verá um filme tão poderoso, tão surrealista, nas próximas três décadas. Ponto”, afirma Herzog.
Morris acaba formulando uma das perguntas cruciais, mas não parece perceber suas implicações: “Por que as pessoas estão repetindo seus crimes diante da câmera? Com que finalidade?” Para ele, esse seria um dos mistérios de The Act of Killing e ele o apoia por achar que filmes devem conter mistérios a serem desvendados. Mas não há mistério algum. Os assassinos foram encorajados e convencidos por Oppenheimer e não sabem o que estão fazendo.
Ao contrário do que Herzog propaga há anos, o cinema documentário não se propõe a constatar/observar/mostrar fatos, salvo no caso dos praticantes mais ortodoxos do cinema direto. E mesmo assim… Quando baseados na interação entre quem observa – o documentarista – e quem é observado – o personagem – é essa relação de poder que está em jogo e é documentada. De um lado, quem detém o controle do registro e da montagem; de outro, quem se dispõe a interagir em posição de desigualdade. Daí o pressuposto ético – ausente em The Act of Killing – que deveria nortear quem detém o poder de usar a linguagem do cinema.
Transformar criminosos em intérpretes de seus próprios crimes, e estes em espetáculo cinematográfico, é um ultraje às vítimas dos assassinos.
Crimes têm implicações morais que tornam inaceitável o tratamento leviano que recebem em The Act of Killing. Segundo Morris, é um filme que “encoraja as pessoas a pensar”. Pensar em quê, ele não esclarece.
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