ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO
De repente, Bolsonaro
Facebook exclui página que nasceu pró-Lava Jato, virou pró-Doria e morreu a favor do ex-capitão; rede social proíbe mudanças drásticas no nome das fanpages
De repente, você se vê apoiando Jair Bolsonaro sem saber. Mas não foi tão de repente assim. Com mais de 350 mil curtidas, a página “Presidente Jair Bolsonaro” nasceu bem diferente do que o seu nome poderia indicar. Foi criada em fevereiro de 2017 como “Papo Lava Jato TV”, depois virou “Presidente João Doria” até que, sete meses depois, mudou o nome e passou a apoiar o candidato à Presidência pelo PSL. E assim, milhares de usuários que originalmente queriam mostrar simpatia pela Operação Lava Jato passaram a apoiar, sem aviso prévio, o militar reformado.
A prática é proibida pelo Facebook e, por isso, na semana passada a falsa fanpage de Bolsonaro foi detectada e excluída por alteração drástica do nome. Na mesma varredura, a rede excluiu outras quatro páginas que divulgavam spam – grande volume de conteúdo enviado automaticamente – sobre as eleições. Eram fanpages que homenageavam o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, o juiz Sérgio Moro e a Lava Jato. A página “Papo TV”, do site homônimo e responsável por alimentar as outras fanpages com notícias duvidosas ligadas ao processo eleitoral, também foi excluída.
Até maio, não era possível aos usuários acessarem o histórico de nomes das páginas. De três meses para cá, porém, a rede passou a permitir que qualquer perfil veja as mudanças – e denuncie uma página infratora, como foi o caso da falsa fanpage de Bolsonaro.
Na raiz das cinco páginas excluídas está o “Papo TV”, um site que produz artigos e replica matérias de outros veículos, com um viés antipetista e elogioso às Forças Armadas. Em entrevista ao UOL em maio, o dono do site, Renato Rodrigues, disse que criou o portal para divulgar a sua agenda ideológica: patriota e conservadora, como ele diz. Procurado pela piauí, ele não atendeu ao pedido de entrevista.
Uma análise do recém-liberado histórico dos nomes revela outras páginas de apoio a Bolsonaro que têm origem em ambientes distantes da política. Com 75 mil likes, uma página criada com o nome “Alvinegro da Vila”, em setembro de 2013, hoje se chama “Bolsomito Extremo”. Outra, criada com o nome “Zumbi Walker São Paulo” em junho de 2013, hoje se chama “Bolsomito”, com 66 mil curtidas. Criada em 2017, a página “Movimento Patriota”, se transformou em “Time Bolsonaro” em março deste ano. Apesar da alteração drástica dos nomes, as páginas seguem ativas.
Mudar o nome da página para conquistar seguidores é uma prática popular também para candidatos do outro lado do espectro ideológico. Nas manifestações de apoio à candidatura do Lula não faltam exemplos de mudança de nome. Criada em outubro de 2014, a página “Comunidade Árabe no Brasil” virou “Lula Presidente em 2018.”, com 246 mil curtidas. Já a “Fãs de Jorge e Mateus”, com suas 69 mil curtidas, é hoje a “Lula Livre”. Outra página com mais de 200 mil curtidas, que desde março de 2017 se chama “Lula Presidente”, foi criada em fevereiro de 2012 com o nome “Segunda Feira” – administrada por um carioca e um mineiro que preferem não se identificar. Eles afirmam que não têm ligação com o PT e que só entraram em contato com o partido uma vez, em busca de auxílio jurídico. São todas páginas que também continuam no ar.
A candidatura de Ciro Gomes também já bebeu desta água. Com 458 mil curtidas – mais do que as da página oficial do candidato do PDT – a “Ciro Gomes Vem Aí” nasceu como “Cris Frases e Mimos”. De janeiro de 2015, quando foi criada, para cá, o nome já foi trocado oito vezes, até se acomodar no atual em abril deste ano.
O editor da página é Luiz Henrique de Oliveira Santos, um dos poucos que deixam a identificação na fanpage. Ele é secretário do deputado federal Pompeo de Mattos, do PDT, e administra as redes sociais do parlamentar. Embora trabalhe para um político do mesmo partido, nega que tenha participação oficial na campanha de Ciro Gomes. Ele edita dez páginas – a maioria ligada ao campo político da esquerda, como a “Ciro Gomes Zueiro”, a “Volta Dilma” e a “Lula Bolado” – e diz não receber nada pelo trabalho. Afirma fazer tudo “por amor”, depois do expediente no gabinete do deputado. Santos diz não saber quem mudou o nome da página “Cris Frases e Mimos” para “Ciro Gomes Vem Aí”. Para ele, a mudança de título não é um problema se as páginas “cresceram no mesmo campo político da rede”.
A crise de identidade nas fanpages é geral entre os presidenciáveis. Todos os principais candidatos têm pelo menos uma página, supostamente criada por eleitores apaixonados, que, com a aproximação do período eleitoral, mudou de nome e causa. Com 11 mil likes, número alto entre as fanpages de Marina Silva (Rede), a página “Marina Silva 18” nasceu com o nome “Medley S/A Indústria Farmacêutica”.
Mesmo entre as poucas páginas de apoio a Geraldo Alckmin é possível encontrar as que sofreram mudanças drásticas de nome. A “Geraldo Alckmin Presidente 45”, com suas 9,3 mil curtidas – uma das mais expressivas de apoio ao tucano – era anteriormente, em 2014, a “Guarulhos está com Aécio Presidente 45”. Há mais exemplos de páginas que tiraram o nome de Aécio do título depois das últimas eleições e das complicações do tucano com a Lava Jato. A “Álvaro Dias – Presidente”, por exemplo, um dia já foi “Aécio Neves – Presidente”. E assim, das eleições de 2014 para as de 2018, quem já curtia a página trocou, inadvertidamente, de candidato e de partido.
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