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    ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO

anais das redes

De repente, Bolsonaro

Facebook exclui página que nasceu pró-Lava Jato, virou pró-Doria e morreu a favor do ex-capitão; rede social proíbe mudanças drásticas no nome das fanpages

Marcella Ramos | 28 ago 2018_09h41
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De repente, você se vê apoiando Jair Bolsonaro sem saber. Mas não foi tão de repente assim. Com mais de 350 mil curtidas, a página “Presidente Jair Bolsonaro” nasceu bem diferente do que o seu nome poderia indicar. Foi criada em fevereiro de 2017 como “Papo Lava Jato TV”, depois virou “Presidente João Doria” até que, sete meses depois, mudou o nome e passou a apoiar o candidato à Presidência pelo PSL. E assim, milhares de usuários que originalmente queriam mostrar simpatia pela Operação Lava Jato passaram a apoiar, sem aviso prévio, o militar reformado.

A prática é proibida pelo Facebook e, por isso, na semana passada a falsa fanpage de Bolsonaro foi detectada e excluída por alteração drástica do nome. Na mesma varredura, a rede excluiu outras quatro páginas que divulgavam spam – grande volume de conteúdo enviado automaticamente – sobre as eleições. Eram fanpages que homenageavam o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, o juiz Sérgio Moro e a Lava Jato. A página “Papo TV”, do site homônimo e responsável por alimentar as outras fanpages com notícias duvidosas ligadas ao processo eleitoral, também foi excluída.

Até maio, não era possível aos usuários acessarem o histórico de nomes das páginas. De três meses para cá, porém, a rede passou a permitir que qualquer perfil veja as mudanças – e denuncie uma página infratora, como foi o caso da falsa fanpage de Bolsonaro.

Na raiz das cinco páginas excluídas está o “Papo TV”, um site que produz artigos e replica matérias de outros veículos, com um viés antipetista e elogioso às Forças Armadas. Em entrevista ao UOL em maio, o dono do site, Renato Rodrigues, disse que criou o portal para divulgar a sua agenda ideológica: patriota e conservadora, como ele diz. Procurado pela piauí, ele não atendeu ao pedido de entrevista.

Uma análise do recém-liberado histórico dos nomes revela outras páginas de apoio a Bolsonaro que têm origem em ambientes distantes da política. Com 75 mil likes, uma página criada com o nome “Alvinegro da Vila”, em setembro de 2013, hoje se chama “Bolsomito Extremo”. Outra, criada com o nome “Zumbi Walker São Paulo” em junho de 2013, hoje se chama “Bolsomito”, com 66 mil curtidas. Criada em 2017, a página “Movimento Patriota”, se transformou em “Time Bolsonaro” em março deste ano. Apesar da alteração drástica dos nomes, as páginas seguem ativas.

 

Mudar o nome da página para conquistar seguidores é uma prática popular também para candidatos do outro lado do espectro ideológico. Nas manifestações de apoio à candidatura do Lula não faltam exemplos de mudança de nome. Criada em outubro de 2014, a página “Comunidade Árabe no Brasil” virou “Lula Presidente em 2018.”, com 246 mil curtidas. Já a “Fãs de Jorge e Mateus”, com suas 69 mil curtidas, é hoje a “Lula Livre”. Outra página com mais de 200 mil curtidas, que desde março de 2017 se chama “Lula Presidente”, foi criada em fevereiro de 2012 com o nome “Segunda Feira” – administrada por um carioca e um mineiro que preferem não se identificar. Eles afirmam que não têm ligação com o PT e que só entraram em contato com o partido uma vez, em busca de auxílio jurídico. São todas páginas que também continuam no ar.

A candidatura de Ciro Gomes também já bebeu desta água. Com 458 mil curtidas – mais do que as da página oficial do candidato do PDT – a “Ciro Gomes Vem Aí” nasceu como “Cris Frases e Mimos”. De janeiro de 2015, quando foi criada, para cá, o nome já foi trocado oito vezes, até se acomodar no atual em abril deste ano.

O editor da página é Luiz Henrique de Oliveira Santos, um dos poucos que deixam a identificação na fanpage. Ele é secretário do deputado federal Pompeo de Mattos, do PDT, e administra as redes sociais do parlamentar. Embora trabalhe para um político do mesmo partido, nega que tenha participação oficial na campanha de Ciro Gomes. Ele edita dez páginas – a maioria ligada ao campo político da esquerda, como a “Ciro Gomes Zueiro”, a “Volta Dilma” e a “Lula Bolado” – e diz não receber nada pelo trabalho. Afirma fazer tudo “por amor”, depois do expediente no gabinete do deputado. Santos diz não saber quem mudou o nome da página “Cris Frases e Mimos” para “Ciro Gomes Vem Aí”.  Para ele, a mudança de título não é um problema se as páginas “cresceram no mesmo campo político da rede”.

A crise de identidade nas fanpages é geral entre os presidenciáveis. Todos os principais candidatos têm pelo menos uma página, supostamente criada por eleitores apaixonados, que, com a aproximação do período eleitoral, mudou de nome e causa. Com 11 mil likes, número alto entre as fanpages de Marina Silva (Rede), a página “Marina Silva 18” nasceu com o nome “Medley S/A Indústria Farmacêutica”.

Mesmo entre as poucas páginas de apoio a Geraldo Alckmin é possível encontrar as que sofreram mudanças drásticas de nome. A “Geraldo Alckmin Presidente 45”, com suas 9,3 mil curtidas – uma das mais expressivas de apoio ao tucano – era anteriormente, em 2014, a “Guarulhos está com Aécio Presidente 45”. Há mais exemplos de páginas que tiraram o nome de Aécio do título depois das últimas eleições e das complicações do tucano com a Lava Jato. A “Álvaro Dias – Presidente”, por exemplo, um dia já foi “Aécio Neves – Presidente”. E assim, das eleições de 2014 para as de 2018, quem já curtia a página trocou, inadvertidamente, de candidato e de partido.

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