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O abraço da serpente – originalidade desestimulante

Um filme baseado no diário de viagem de Theodor Koch-Grünberg, que esteve quatro vezes no Brasil e morreu de malária em Boa Vista, deveria causar grande interesse entre nós

Eduardo Escorel | 24 mar 2016_15h40
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Um filme baseado em parte no diário de viagem do etnólogo e explorador Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), que a partir de 1896 esteve quatro vezes no Brasil e morreu de malária em Boa Vista, deveria forçosamente causar grande interesse entre nós. Não pelo fato de ter concorrido ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, muito menos pela recepção eufórica de boa parte da crítica americana, mas sim por ter sido nos mitos e lendas indígenas coletados por Koch-Grünberg no segundo dos cinco volumes de Do Roraima ao Orinoco, publicado em 1917, que Mário de Andrade buscou inspiração para escrever Macunaíma.

Porém, ao contrário da prodigiosa invenção de Mário de Andrade publicada em 1928, e da consagrada recriação crítica da rapsódia marioandradina feita para o cinema, em 1969, por Joaquim Pedro de Andrade, o diretor colombiano Ciro Guerra optou por um grande espetáculo folclórico, paisagístico, psicodélico e entediante ao fazer, em 2015, O abraço da serpente – um imenso retrocesso artístico, feito 87 e 46 anos depois das duas obras brasileiras também derivadas em parte de Koch-Grünberg.O impacto de O abraço da serpente nos Estados Unidos que o levou a ser incluído com pelo menos dois filmes de outra galáxia – O filho de Saul e O lobo do deserto – entre os concorrentes ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, parece ser resultado do bem sucedido projeto de impressionar espectadores ingênuos, apelando para planos aéreos de paisagens grandiosas,  práticas culturais consideradas exóticas e um certo sensacionalismo barato.

A fotografia em preto e branco do filme de Ciro Guerra denota certa pretensão documental que procura ser conciliada, sem sucesso, com a representação do universo mítico e de visões alucinógenas, tanto nas peripécias amazônicas de Koch-Grünberg, quanto nas do biólogo americano Richard Evans Schultes, narradas em paralelo, embora realizadas com 30 anos de intervalo.

O consenso resumido da crítica americana, segundo o site rottentomatoes.com, é que O abraço da serpente oferece um “banquete dos sentidos para fãs em busca de uma dose de originalidade estimulante”. O espectador que estiver carente de “uma dose de originalidade estimulante” talvez possa ter, de fato, um frisson, com direito a cobras e onças, inclusive.

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