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    Simão e Sergio Oskman, pai e filho, acompanham um jogo da Copa do Mundo do lado de fora da Arena Corinthians

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Filho, pai e Copa

| 09 jun 2016_11h46
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A primeira ida ao estádio de futebol, ninguém esquece. Para meninos de 7, 8 anos, o fato da experiência ser propiciada em geral pelo pai contribui para que se torne inesquecível. Levado pela mão paterna, ao entrar na arquibancada meio vazia do Maracanã no início da década de 1950, mesmo para um medíocre Fluminense x Bangu, a sensação era equivalente à descoberta de uma nova dimensão do universo.

Não é a toa, portanto, que tendo sido privado do convívio paterno durante 20 anos, ao reencontrá-lo, o diretor Sergio Oksman tenha proposto acompanharem juntos a Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014. Foi nesse breve período de convívio que foram realizadas as gravações do filme O Futebol, premiado como melhor documentário brasileiro do Festival É Tudo Verdade deste ano.

Em dois curta-metragens anteriores, Oksman já abordara o tema da relação filho-pai. De passagem em Notes on the other, feito em 2009, e de modo direto em A story for the Modlins, de 2012.

Em Notes on the other, Pablo Guerendiain é apresentado através da foto dele caído na rua, depois de ser derrubado, em 1924, pelos touros em disparada pelas ruas de Pamplona, no norte da Espanha. Entrincheirado na loja da família, em frente ao local exato em que Pablo foi ferido, o filho dele, Pío, durante os oito dias da Festa de San Fermin, fotografa atualmente através de uma abertura na placa de proteção da fachada. Segundo a narração do filme, Pío capta “as faces do medo no lugar exato em que seu pai caiu há 80 anos. De certo modo, Pío perpetua aquele encontro distante do seu pai com o desconhecido.” Ele tenta registrar instantes no limiar da morte, como o vivido por seu pai, ao qual Pablo sobreviveu, com uma cicatriz na testa, para gerar o filho Pío.

No caso de A story for the Modlins, a pintora surrealista Margaret Marley, casada com o ator secundário Elmer Modlin (1925-2003), escrevera o rascunho de uma carta ao filho Nelson na qual, diz a narração, “tenta amenizar as discussões” que tinham em família: “Nosso sofrimento na vida vem da relação que temos com nossos pais: Elmer com os dele. Eu com os meus e você com os seus.”

Margaret, Elmer e Nelson Modlin
Margaret, Elmer e Nelson Modlin

O Futebol surge, então, como desdobramento natural dos dois filmes anteriores, centrado, desta vez, integralmente na convivência de Sergio, o filho, com seu pai, Simão, no período delimitado de antemão pela duração da Copa de 2014. Ao adotar a desdramatização como princípio regulador das situações gravadas, princípio seguido à risca, os jogos de futebol em si mesmos são deixados deliberadamente em segundo plano. Não de vê nenhum jogo no filme, salvo ao longe em uma tela de televisão ou através das vozes em off de locutores.

A maior aproximação de uma partida que há é na exemplar sequência em que Sergio e Simão vão à Arena Corinthians, conhecida como Itaquerão, na Zona Leste de São Paulo. No longo trajeto, erram o caminho, mas acabam conseguindo chegar. Ficam, porém, no carro sem rádio e com documentação irrregular do pai, vendo o estádio ao longe e acompanhando o jogo apenas pelo ruído da torcida. É um entre vários grandes momentos de O Futebol nos quais Oksman não deixa aflorar a mais leve emoção.

Eis que o inesperado intervém, como é próprio da vida e pode ser uma dádiva para o documentarista que souber aproveitá-lo. Um primeiro sinal de que não se pode pretender controlar com rigor tudo que ocorre, nem diante da câmera, nem fora de quadro, é dado no primeiro plano do filme: Sergio e Simão posam em pé, lado a lado, quando começa a chover e são obrigados a buscar abrigo. Em retrospecto, há algo de premonitório nessa cena, sem ter a mesma dimensão, porém, do que acontecerá depois.

Diante da hospitalizacão e morte do pai de Oksman em meio às gravações, o dilema que se impõe é saber o que vale mais, a coerência formal do filme ou a vida. Em O Futebol a opção é pela primeira alternativa. Nada se altera quando Simão morre. Nenhuma reação de Sergio é incluída. Tampouco é indicada alguma dúvida em como o filme deve prosseguir. A desdramatização que até esse momento é uma das grandes qualidades de O Futebol, levada a esse extremo, passa a causar certa estranheza. A aparente frieza do filho diante da morte do pai é real ou resulta mais de uma personalidade reservada que se protege, usando o próprio filme como escudo? São questões que se tivessem sido incorporadas teriam feito de O Futebol um documentário ainda melhor do que já é.

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