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    FOTO: THELMA AMARO VIDALES

questões da política

Socorrer ou não a Petrobras – eis a questão

Os grandes investidores sabem que a Petrobras não sobrevive mais com os próprios meios, e só não a abandonaram porque acreditam que o socorro do governo virá

Malu Gaspar | 05 maio 2016_17h23
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O debate mais urgente sobre o governo Temer gravita, nos últimos dias,  em torno dos detalhes do ajuste fiscal e da necessidade ou não de aumentar os impostos. Ignora-se, ainda, uma questão crucial, que vai se impor assim que a máquina governamental começar a rodar sob novo comando: injetar (ou não) dinheiro no caixa da Petrobras pra salvá-la da insolvência? E quanto? O socorro foi defendido pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, na última segunda-feira, no Roda Viva, da TV Cultura.  E começa a ser tema cada vez mais freqüente das conversas de economistas e líderes partidários. Pode parecer que se trata de um assunto secundário em meio a tantas definições sobre o destino da nação, mas é justamente o contrário. Os dois – a Petrobras e o destino da nação – estão intrinsecamente ligados.

Do lado financeiro, basta dizer que a avaliação de risco da  dívida da empresa influenciam decisivamente a cotação da  dívida soberana do país. Se a Petrobras afundar, o Brasil afunda junto. Mas há também um outro aspecto, mais simbólico. Foram os desmandos na petroleira que deram musculatura à  Lava Jato e à crise política, e ali foram cometidos muitos dos erros que levaram à derrocada de Dilma Rousseff.  Reorganizar a empresa  para colocá-la em um caminho saudável pode se converter num poderoso sinal de que o Brasil tem jeito, dando a Michel Temer a legitimidade que ele busca para conduzir o país no pós-impeachment.

A missão, porém, não é nada trivial. Primeiro porque socorrer a Petrobras pode piorar ainda mais a situação das contas públicas, já no vermelho. Um estudo feito pelo consultor Adriano Pires, um dos mais críticos à  gestão da estatal na última década, concluiu que a petroleira precisará de 750 bilhões de reais para pagar as parcelas da dívida que vencem até 2020 e investir o suficiente para manter o nível atual de produção. Mas, a se manter a situação atual, só terá 350 bilhões em caixa. Os 400 bilhões que faltam são bem mais do que um troco – principalmente para uma companhia que tem tido quedas constantes na produção e não consegue vender ativos na velocidade que precisa. Os grandes investidores sabem que a Petrobras não sobrevive mais com os próprios meios, e só não a abandonaram porque acreditam que o socorro do governo virá. Por isso o valor da ação da estatal mais do que duplicou desde fevereiro.

Há muita controvérsia sobre quanto seria necessário aplicar na Petrobras. Em sua entrevista, Fraga sugeriu algo entre 50 e 100 bilhões de reais. Qualquer cifra nesse intervalo representa um caminhão de dinheiro, que o governo não tem de sobra. Como não se considera, hoje, deixar a Petrobras quebrar, a melhor opção seria dar a menor quantia possível, para sinalizar que a empresa não está à deriva, e  convidar os investidores a injetar o resto.  O dinheiro privado, porém, só virá se no pacote também estiver um plano eficaz de reestruturação e a renegociação da dívida, a ser colocado em prática por alguém em que o mercado confie. “Se for feito apenas um socorro financeiro, sem mudar a Petrobras de verdade, o Brasil vai jogar mais dinheiro fora”, diz Pires.

Os recados que Temer e seu time têm passado ao público são, por ora, um tanto vagos, como se o comando da Petrobras fosse um posto menos importante – e não o lugar de alguém que, nas palavras de Luiz Inácio Lula da Silva, manda mais do que o presidente da República.Dias depois de (os jornais terem publicado notas dizendo que Temer) manteria por um tempo Aldemir Bendine, o atual chefe da estatal, o ainda vice-presidente afirmou ao jornal O Globo que vai escolher um executivo testado e respeitado no mercado.  Seu homem de confiança, Moreira Franco, disse recentemente que a Petrobras precisa de um plano estratégico para seguir adiante. Bendine, enquanto isso, busca apoios para continuar, sugerindo nos bastidores que seu desempenho na estatal foi mais alinhado com o PMDB do que de fato é.

Escolha pessoal de Dilma Rousseff, Bendine chegou a sugerir baixar os preços dos combustíveis alguns dias antes da aprovação do impeachment na Câmara. A medida poderia ajudar a melhorar a imagem da presidente, mas dilapidaria ainda mais o caixa da empresa. Em janeiro, foi ao Congresso Nacional tentar barrar a aprovação de uma lei que alivia a Petrobras da obrigação de arcar com 30% de todos os investimentos na exploração do pré-sal, projeto que o PMDB apoiou. É verdade que Bendine pelo menos segurou as pontas nas finanças. No ano passado, a Goldman Sachs previa que o caixa da Petrobras terminaria em agosto de 2016. A venda de combustível no Brasil a preços mais altos do que os do mercado internacional, novos empréstimos e a queda na cotação do dólar (moeda em que estão mais de 7% das dívidas da petroleira), a nova previsão é que o caixa termine no segundo semestre de 2017. Mas, nos três primeiros meses deste ano, a empresa produziu 8%  menos do que no mesmo período do ano passado, e seu programa de venda de ativos anda a passos de cágado.

Bendine quer ficar, e já marcou uma visita a Temer no final de semana para fazer lobby pessoalmente. O problema é o cartão de visitas: um desempenho pífio para quem depende de provar ao mundo que é capaz de tirar a Petrobras — e por extensão, o país — do buraco.

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