Empresário J. Hawilla, que estava proibido de deixar os EUA desde maio de 2013 FOTO: ZANONE FRAISSAT_FOLHAPRESS
Pivô de escândalo Fifa volta ao Brasil “de vez”
J. Hawilla disse à piauí que foi liberado para voltar dos Estados Unidos, onde confessou crimes como lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça; preso em 2013, fez acordo para delatar cartolas
Esta reportagem foi atualizada às 13h15 do dia 9 de fevereiro
Um dos pivôs do escândalo Fifa, o empresário José Hawilla – ou J. Hawilla, como ficou conhecido ainda quando era apresentador de TV – está de volta ao Brasil. Definitivamente, segundo disse à piauí. Hawilla é pessoa-chave no processo que apura esquema de corrupção que envolveu o pagamento de propinas milionárias a dirigentes de algumas das organizações responsáveis pelo comando do futebol mundial, como a própria Fifa, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Hawilla havia sido preso nos Estados Unidos. Fechou um acordo de delação em 2013, e, desde então, vem colaborando com o Departamento de Justiça norte-americano.
O dono da Traffic chegou a São Paulo no domingo, 4 de fevereiro. “Voltei de vez”, afirmou à piauí na noite desta quinta-feira, por telefone. Desde maio de 2013, Hawilla estava proibido de deixar os EUA, embora pudesse circular pelo país. Questionado sobre a proibição, respondeu: “Estava [proibido], mas acabou o processo”.
O empresário se recusou a dar mais informações. “Não posso dar entrevista. Estou proibido pelos advogados de falar. Não vai tentar arrancar coisa minha que você vai me comprometer.” O advogado de J. Hawilla, José Luis de Oliveira Lima, disse que não daria declarações à imprensa.
A viagem de Hawilla ao Brasil só ocorreu por conta de um acordo com a Justiça norte-americana. Segundo o Departamento de Justiça (DoJ), o acordo de liberação do empresário não é um documento público. O Brasil não tem tratado para extradição de cidadãos brasileiros aos Estados Unidos, mas, segundo o DoJ, Hawilla deverá estar presente na corte de Nova York no dia de sua sentença, no próximo 23 de abril.
Hawilla deverá passar o Carnaval em sua casa no Guarujá, litoral paulista, e em seguida segue para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, sua cidade natal, onde também tem residência – um imóvel de 12 mil metros quadrados avaliado em 18 milhões de reais.
O empresário é dono do grupo Traffic, que atua no marketing esportivo desde 1980. Seus negócios se estenderam do Brasil a dezenas de países das américas do Sul, Central e do Norte. Preso em maio de 2013 pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, sob acusação de obstruir a Justiça, Hawilla optou por delatar os envolvidos em dezenas de episódios em que ele diz ter pago milhões de dólares em propina para vários dirigentes esportivos. Entre eles estão Nicolás Leoz, que comandou a Conmebol entre 1986 e 2011; Ricardo Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012; e Marco Polo Del Nero, presidente afastado da confederação brasileira (ele foi suspenso do cargo pela Fifa no fim de 2017, e seu julgamento deve ocorrer até abril).
As propinas, segundo Hawilla, foram pagas entre 1991 e 2013 por meio de empresas offshore sediadas no Caribe. Ele também aceitou a incumbência do FBI de gravar conversas comprometedoras entre ele e dirigentes e empresários do esporte, entre 2013 e 2014. Sua delação serviu de base para a maioria dos indiciamentos feitos pelo Departamento de Justiça norte-americano.
Em dezembro de 2014, Hawilla declarou-se formalmente culpado pelos crimes de extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça. Pela lei norte-americana, a pena para esses crimes, somada, pode chegar a 80 anos de prisão. Ele também concordou em vender todos os ativos da Traffic e indenizar o governo dos Estados Unidos em 151 milhões de dólares, dos quais 25 milhões foram quitados no fim de 2014. O restante deveria ser pago até a sentença judicial do empresário, prevista para abril deste ano.
Em dezembro de 2017, Hawilla depôs como testemunha de acusação na ação penal que resultou na condenação do brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e do paraguaio Angel Napout, ex-presidente da Conmebol, por lavagem de dinheiro, fraude financeira e participação em organização criminosa. Ambos recorreram da decisão.
Foi repórter da piauí. Na Folha de S.Paulo, onde trabalhou por vinte anos, foi repórter especial e correspondente em Londres
Repórter da piauí, é autor dos livros O Delator, Cocaína: A Rota Caipira e Cabeça Branca (Record)
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