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Pelourinho, Olodum e dois velhos rabugentos

Por volta de 14h45 de sábado, saí para dar uma corridinha. Entre os pensamentos durante a corrida, ia decidindo se assistia a Brasil e Itália na Globo ou no SporTV. Quando entrei em casa, um pouco antes do jogo começar, a tevê estava ligada na Globo e Galvão Bueno anunciava que, mais uma vez, teríamos Pelourinho, teríamos Olodum. Concluí que não dava para perder aquilo, e preciso confessar: depois de muito tempo querendo distância das partidas de futebol narradas por Galvão, percebi como elas podem ser irritantemente divertidas – ou divertidamente irritantes, tanto faz. Os momentos em que ele e Arnaldo Cezar Coelho bancam, com toda a canastrice possível, Jack Lemmon e Walter Matthau em Dois Velhos Rabugentos são impagáveis.

| 24 jun 2013_14h11
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Por volta de 14h45 de sábado, saí para dar uma corridinha. Entre os pensamentos durante a corrida, ia decidindo se assistia a Brasil e Itália na Globo ou no SporTV. Quando entrei em casa, um pouco antes do jogo começar, a tevê estava ligada na Globo e Galvão Bueno anunciava que, mais uma vez, teríamos Pelourinho, teríamos Olodum. Concluí que não dava para perder aquilo, e preciso confessar: depois de muito tempo querendo distância das partidas de futebol narradas por Galvão, percebi como elas podem ser irritantemente divertidas – ou divertidamente irritantes, tanto faz. Os momentos em que ele e Arnaldo Cezar Coelho bancam, com toda a canastrice possível, Jack Lemmon e Walter Matthau em são impagáveis.

Sob as polinésias bênçãos de Marlon Brando, que a tudo assistia incrédulo lá de cima, a jogada mais bizarra da Copa das Confederações aconteceu no Maracanã, no comecinho da partida entre o Taiti e a seleção anglo-espanhola (dos jogadores da Espanha que começaram aquele jogo, sete defendem clubes ingleses). A saída era do Taiti. O juiz argelino Djamel Haimoudi autorizou o início do massacre, Alvin Tehau rolou a bola para Vahirua e este deu um bico pra lateral. O horror, o horror.

Já o Troféu Felipe Melo vai, fácil, para o zagueiro uruguaio Scotti. O cara conseguiu ser expulso no jogo contra o Taiti, quando o placar estava quatro a zero para o Uruguai. Completamente sem noção.

Na transmissão de Uruguai e Taiti, o ex-jogador Roger – que, ao virar comentarista, passou a atender pelo pomposo nome de Roger Flores – criticou o atacante taitiano Chong Hue por não ter simulado falta no lance em que entrou na área em velocidade, driblou o goleiro e perdeu o controle da bola. Segundo Roger, se Chong Hue tivesse simulado o pênalti, certamente o juiz português Pedro Proença marcaria. Roger parecia apoiar o que faz a maioria dos jogadores brasileiros, falsos malandros que caem em qualquer disputa de bola, erguem o braço pedindo cartão para o adversário, levam as mãos dramaticamente ao rosto quando levaram no máximo um cutucãozinho no peito e se atiram em campo sempre que seus times estão ganhando e eles serão substituídos. Nossos jogadores não precisam desse tipo de apoio, e sim de punições rigorosas, sempre que fizerem essas micagens. Talvez, assim, eles passem a se comportar feito gente.

A maior surpresa da competição é esse novo jeito italiano de jogar. Tanto nas maiores conquistas quanto nos maiores fiascos, creio que jamais houve uma seleção italiana que fizesse e tomasse oito gols em três partidas.

Foi bem bonito o que fez a torcida cearense, antes da partida com o México, cantando à capela o hino nacional depois de esgotados os noventa segundos regulamentares da execução no padrão Fifa. Surpreendeu e emocionou. Já em Salvador, todo mundo esperava e não teve tanta graça. Melhor não insistir, e ficar apenas com a lembrança do que houve em Fortaleza.

Existem vários motivos para invejarmos os jogadores da seleção brasileira. A gente pode invejar, por exemplo, o Daniel Alves: um bom lateral que, por estar no time certo na hora certa, ganhou status de craque. Ou o Thiago Silva, que ao se transferir do Milan para o Paris Saint-Germain virou o zagueiro mais valioso do futebol mundial, ganhando uma quantidade de euros suficiente para abastecer suas geladeiras com toneladas de sorvete Berthillon. Ou o Neymar, por jogar o que ele joga e ainda namorar a Bruna Marquezine. E que tal o Fred, que pega geral? Mas o cara que eu mais invejo na nossa seleção é o Luiz Gustavo, um jogador mediano e igual a tantos outros que existem no Brasil, mas que, sabe-se lá por quê, virou titular absoluto do Felipão. Há muito tempo vem fazendo sucesso no futebol brasileiro um tipo de jogador – quase sempre um volante – que, no chavão dos comentaristas, não aparece para a torcida. Como não sai com a bola em velocidade, não sabe jogar de forma vertical, não inicia lance algum de perigo, não lança, não arma, não chega à área adversária, não surpreende, não tabela e não chuta, Luiz Gustavo realmente não aparece. Nem no Bayern de Munique, onde é reserva do Javi Martinez, que é reserva da seleção espanhola. É ou não é invejável?

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