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    ILUSTRAÇÃO DE PAULA CARDOSO

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O novo Posto Ipiranga

Ex-capitão do Exército transformado em ministro da Infraestrutura cresce no Twitter e na agenda positiva do governo Bolsonaro 

Luigi Mazza | 15 out 2019_21h43
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Discreto na vida pública e avesso a declarações polêmicas, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, não faz o perfil típico de ministro bolsonarista. Ainda assim, tem conquistado espaço cada vez maior entre os apoiadores de Bolsonaro no Twitter. O ministro – de perfil técnico e pouco conhecido até ser escolhido pelo presidente, em novembro do ano passado – virou símbolo de pautas positivas, com uma agenda que vai do asfaltamento de estradas até a concessão de crédito para caminhoneiros. Em setembro, foi um dos dez bolsonaristas mais citados no Twitter, com 317 mil menções a seu nome. Ficou lado a lado com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Os dados foram compilados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (Dapp-FGV), que, a pedido da piauí, tem monitorado as citações a políticos e figuras ligadas ao governo no Twitter. As menções a Tarcísio têm crescido de forma quase constante desde o início do ano. O maior salto se deu em julho, quando o ministro passou de 184 mil citações para 353 mil. Ele mantém esse patamar desde então. Com isso, superou as menções aos ministros Ricardo Salles, Ernesto Araújo e Damares Alves.

O crescimento de Tarcísio no Twitter coincide com o declínio de Paulo Guedes. O Posto Ipiranga original, visto desde a campanha como um fiador a quem Bolsonaro recorria para tratar de economia, perdeu espaço entre os tuiteiros. Seu pico de menções se deu em abril, durante a tramitação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Na época, Guedes foi citado 1 milhão de vezes – em grande parte, devido a polêmicas como a do deputado Zeca Dirceu (PT-SP), que o chamou de “tchutchuca” durante uma audiência. De abril em diante, as menções ao ministro caíram mês a mês. Ele ainda é um dos bolsonaristas mais relevantes na rede, mas se estabilizou num patamar de 350 mil menções.

O terreno das pautas positivas, antes restrito a Guedes e ao ministro da Justiça, Sergio Moro, agora é disputado por Tarcísio. O ministro da Infraestrutura tem sido elogiado com frequência por Bolsonaro e seus filhos, principais mobilizadores do governo no Twitter. Assim como o presidente, Tarcísio é ex-capitão do Exército e estudou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Também passaram pela mesma escola o vice-presidente Hamilton Mourão e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa).

Quando teve seu nome anunciado por Bolsonaro, no final do ano passado, Tarcísio gerou desconfiança entre parte dos apoiadores do presidente por ter trabalhado para os governos Dilma e Temer – primeiro no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), depois na Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI). A preocupação, hoje, parece ter evaporado. Até o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), cujo sarrafo não costuma poupar membros do governo, faz elogios públicos ao ministro. Recentemente, compartilhou um vídeo em que Tarcísio defende a continuidade de obras públicas, mesmo as que foram iniciadas em governos petistas. “Como seria bom para o Brasil se todos sempre pensassem assim!”, escreveu o filho 02 do presidente.

De setembro a outubro, o canal oficial de Bolsonaro no YouTube publicou quatro vídeos protagonizados por Tarcísio. Na maior parte deles, o ministro mostra como tem procurado investimentos no exterior por meio de roadshows com empresários. Em julho, ele participou de uma live com o presidente para falar sobre seu trabalho. Na introdução do vídeo, Bolsonaro leu o currículo de Tarcísio e brincou: “Tem cara mais inteligente que você?” 

Em entrevista ao Estadão, no último dia 4, o presidente deixou claro que o ministro se tornou o mais novo Posto Ipiranga. “Você bota o Tarcísio na sua frente, você quer saber da BR tal, ele tem um HD na cabeça e sabe como resolver o assunto”, disse Bolsonaro. “Se você perguntar para mim, com todo respeito, eu sei, acho que 10% do que o Tarcísio sabe.”

Em setembro, Tarcísio ficou em nono lugar no ranking dos bolsonaristas mais citados no Twitter. Com isso, superou a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e ficou logo atrás de Paulo Guedes. A lista foi encabeçada pelo ministro Sergio Moro – que vem caindo em número de menções –, seguido dos filhos do presidente. Em quinto lugar ficou a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que se tornou uma das principais vozes do governo nas redes sociais, à frente de quase todos os ministros.

Os dados sobre o Twitter também mostram como a agenda do governo vem sendo cooptada pelo Congresso. À medida que Paulo Guedes saía de cena, nos últimos meses, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se consolidava como um ator político central na rede, permeando quase todas as discussões pertinentes ao governo. Em setembro, Maia teve tantas menções quanto Carlos Bolsonaro, terceiro bolsonarista mais citado no Twitter.

De julho a setembro, as menções a Rodrigo Maia seguiram caminho antagônico ao de Guedes, conforme demonstra o gráfico abaixo: enquanto um subia, o outro descia. As citações ao presidente da Câmara pularam de 677 mil para 956 mil; na outra direção, o ministro da Economia despencou de 581 mil menções para 350 mil no mesmo período.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), seguiu o caminho de Maia. Passou de 161 mil menções, em julho, para 576 mil em setembro. A ascensão de Alcolumbre, no entanto, é episódica. O parlamentar tem menos visibilidade que Maia, e desponta à mercê das circunstâncias. Em junho, teve um pico por conta das manifestações bolsonaristas pró-Lava Jato e contra o Congresso. Em agosto e setembro, ganhou evidência devido à tramitação da reforma da Previdência no Senado e à polêmica em torno da CPI da Lava Toga – mais uma vez, sofrendo ataques de apoiadores de Bolsonaro.

Maia, por outro lado, tem comportamento mais estável e relevante nas redes. Além do destaque obtido graças às críticas de seus detratores, o presidente da Câmara ganha visibilidade por ter se tornado símbolo de uma certa oposição ponderada a Bolsonaro. Suas declarações repercutem em setores da esquerda e do centro, em contraponto direto ou indireto ao governo. Maia parece ter se dado conta disso. No final de setembro, diante do silêncio de Bolsonaro e de Moro, o deputado lamentou no Twitter a morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, durante uma ação policial no Rio. O presidente da Câmara usou a tragédia para defender uma “avaliação muito cuidadosa e criteriosa” do excludente de ilicitude, dispositivo previsto no pacote anticrime do ministro da Justiça. A publicação teve mais de 10 mil curtidas e virou notícia em diversos veículos. De uma só vez, Maia afagou a oposição, mandou um recado para o governo e faturou politicamente.

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