O medo nos trilhos
Um ensaio fotográfico dentro do metrô de São Paulo
Egberto Nogueira | Edição 164, Maio 2020
Nas últimas semanas, o fotógrafo Egberto Nogueira esteve em hospitais, laboratórios, velórios, cemitérios, supermercados, farmácias e casas onde houve vítimas fatais da Covid-19. Em todos esses lugares, até mesmo na casa dos mortos, há todo um protocolo nestes tempos de pandemia: o que se pode e não se pode tocar, o uso de máscaras e luvas, a distância recomendada entre as pessoas, a frequência com que se deve lavar as mãos. Quase tudo é diferente no metrô de São Paulo, sistema que, em épocas normais, transporta mais de 5 milhões de passageiros por dia. Ali, sobre os trilhos e dentro dos túneis, o protocolo se desmancha, sobretudo em relação à distância entre as pessoas, e o risco de contaminação dispara. É lá que, mesmo mergulhados na luz artificial, mesmo escondidos atrás de máscaras, os rostos revelam com mais clareza a carga emocional da pandemia: a tensão sólida, o estado de alerta, a ansiedade contida. Em 1998, convidado para fazer um ensaio sobre a cidade de São Paulo cujas imagens foram adquiridas para integrar a Coleção Pirelli/Masp de Fotografia, Egberto Nogueira escolheu fotografar as pessoas no transporte público. Queria capturar a expressão dos passageiros durante o tempo ocioso da viagem. A pedido da piauí, ele voltou ao mesmo ambiente – e viu o que nunca tinha visto antes. Agora, as pessoas estão num lugar onde temem estar. “É uma multidão e, no entanto, é uma enorme solidão”, diz Nogueira. O vírus é invisível. O medo, não.
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