O humorista Paulo Gustavo, vítima da Covid no auge da carreira - FOTO: LETICIA MOREIRA/FOLHAPRESS
Paulo Gustavo mirava carreira internacional com Amazon a partir de 2022
Humorista estava de saída do Grupo Globo e já tinha assinado contrato de cinco anos com plataforma de streaming
A Covid matou o humorista de maior sucesso no Brasil exatamente no momento em que ele mirava sua carreira internacional. Paulo Gustavo havia assinado um contrato de longo prazo com a Amazon para ser a principal estrela da plataforma de streaming norte-americana, que investe pesado na criação de produtos feitos no Brasil. O contrato iria começar a valer a partir de 1º de janeiro de 2022, com duração de cinco anos. Até lá, Paulo Gustavo iria cumprir seus compromissos profissionais como contratado do Grupo Globo.
Paulo Gustavo morreu de Covid nesta terça-feira. Se não fosse o recrudescimento da pandemia no Brasil, seguida de sua contaminação, ele tinha planos de começar a gravar em fevereiro a série televisiva de Minha Mãe é uma Peça, parceria entre o canal Multishow e a plataforma Globoplay. Roteiro, cenário e figurinos estavam prontos. Ele era o principal nome do Multishow, onde estreou em 2011 com o humorístico 220 Volts. Depois vieram Vai que Cola, Paulo Gustavo na Estrada e A Vila, entre outros. No mesmo canal, além de ocupar havia alguns anos o horário nobre, na faixa das 22 horas, ele também era coapresentador do anual Prêmio Multishow. Procurada, a assessoria do Multishow afirmou que Paulo Gustavo faria a série Minha Mãe é uma Peça. Sobre o contrato com a Amazon, o Multishow preferiu não comentar.
O namoro de Paulo Gustavo com a Amazon levou mais de dois anos de conversas até o contrato ser assinado. Alguns fatores o ajudaram a decidir pela Amazon, como a internacionalização de sua carreira e a chance de assinar como produtor-executivo de seus projetos. Em 2021 ele chegou a ter reuniões por videochamada com a direção da Amazon para começar a discutir novos projetos. A proposta era fazer séries, filmes e especiais de fim de ano. O contrato de Paulo Gustavo previa exclusividade e participação nos lucros, com uma cláusula segundo a qual receberia, além de um valor fixo anual, um complemento de acordo com a performance de cada obra. As luvas do contrato, só para tê-lo no casting da Amazon, foram de 1,8 milhão de reais. Por ano, a estimativa comedida era de que ganhasse pelo menos 5 milhões de reais – esse valor poderia ser maior a depender do sucesso de cada produto. Os próximos filmes dele, por exemplo, poderiam estrear no cinema para depois migrarem para o catálogo do streaming.
O humorista estava no auge da carreira. Levou 5 milhões de pessoas aos teatros com as peças Minha Mãe É Uma Peça, 220 Volts e Hiperativo. Nos cinemas, o artista representava o maior faturamento de bilheterias do Brasil. Os números são astronômicos sob qualquer perspectiva, ainda mais em um mercado como o nacional. Minha Mãe é uma Peça 1 teve 4,7 milhões de espectadores, Minha Mãe é uma Peça 2, 10,8 milhões, e Minha Mãe é uma Peça 3, 11,5 milhões, sendo que este último alcançou faturamento total de 143,9 milhões de reais.
Ele também respondia por um dos maiores faturamentos do mercado publicitário. Uma campanha com Paulo Gustavo caracterizado de Dona Hermínia, a famosa personagem inspirada em sua mãe, era orçada entre 1,5 e 2 milhões de reais. Antes de ser internado, ele tinha fechado contrato com uma famosa empresa de margarina. Parte de seu dinheiro era investido em obras sociais. O padre Julio Lancellotti contou que o artista doou 1,5 milhão de reais só para o projeto Obras Sociais Irmã Dulce. Susana Garcia, diretora de cinema e amiga, afirmou em uma rede social que Gustavo doou 500 mil reais para a compra de oxigênio em Manaus. No ano passado, fez depósito de 1 mil reais ao longo de três meses para 120 pessoas que trabalharam em seus filmes. No mundo pré-pandemia, o artista e suas produções empregavam direta e indiretamente 150 pessoas.
Paulo Gustavo morreu aos 42 anos. Estava internado no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro, onde vinha sendo tratado com uma máquina chamada ECMO e também fazia hemodiálise, procedimento comum para quem está na UTI por muito tempo. No fim do ano passado, gravou um vídeo falando de amor, da pandemia e da expectativa de vacina, que não chegou a tempo de imunizá-lo contra o coronavírus. “Enquanto essa vacina tão esperada não chega para todo mundo, é bom lembrar que contra o preconceito, contra a intolerância, a mentira, a tristeza, já existe vacina, é o afeto. É o amor. Então, diga o quanto você ama quem você ama. Mas não fica só na declaração, não, ame na prática, na ação. Amar é ação. Amar é arte. Muito amor, gente. Até logo”, disse.
O humorista deixou marido, o médico Thales Bretas, e os filhos Romeo e Gael, de 1 ano e 9 meses.
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