Na divisão mundial da produção, a China é a fábrica, e o Brasil, a fazenda – ou assim são percebidos, como demonstrou uma manchete do jornal francês Le Monde dez anos atrás. Mas na divisão global do consumo, o Brasil é o bar. Segundo levantamento do site GlobalProductPrices.com, é mais barato comprar vodca em reais do que em rublos. A comparação foi feita com Smirnoff, mas ainda assim é notável que, entre 77 países, a vodca saia mais cara para todos os outros bebedores do que para os brasileiros. E não só ela.
A cerveja Heineken é vendida 44% mais barato no Brasil do que a média de 77 países. Com o preço de uma garrafa de 330 ml na Noruega, dá pra comprar cinco no Brasil. Para completar, fumar também sai 62% mais em conta por aqui. Com o dinheiro de dois maços de Marlboro vermelho na Austrália, dá para comprar 25 no Brasil. Só faltam os outros ingredientes da caipirosca: o quilo do açúcar é 46% mais barato no Brasil, e a água engarrafada (para fazer gelo sem geosmina) custa um terço do que lá fora. Faltou a fruta? Qualquer uma é mais em conta no Brasil do que a média global.
Com a moeda nacional desvalorizada, quase tudo é mais barato no Brasil, da carne do churrasco (30% abaixo da média) ao Big Mac Menu (-21%). A exceção são os eletrônicos de consumo, como Iphone 12, Playstation, Apple Watch 6 e Macbook Pro. Esses aí custam até 80% mais caro quando comprados em reais. Eletrônicos e a cebola. Cebola? Sim, com o preço de 1 kg de cebola no Brasil, dá para comprar 12 kg no Uzbequistão. Vai entender.
Com a desvalorização do real, produtos eletrônicos que já eram caros no Brasil estão batendo recorde de preço. Com o valor pago por dois Apple Watch 6 pelos brasileiros, dá para comprar cinco nos Estados Unidos ou no Cazaquistão. No Brasil, um relógio da Apple custa US$ 1.064 e só não custa mais caro que na Argentina.
Se produtos com alta tecnologia saem caro para os brasileiros, o cigarro sai barato. Dos 61 países pesquisados, só em oito o cigarro é mais barato que no Brasil. A caixinha vermelha do Marlboro custa US$ 2,35 para os brasileiros. Já para os australianos, o valor do mesmo produto é de US$ 29,36 – 12,5 vezes mais.
Uma garrafa de vodca Smirnoff custa menos no Brasil do que nos outros 76 países pesquisados. O valor no mercado brasileiro, US$ 4,13, é 75% menor do que a média. A Smirnoff mais cara é a vendida na Malásia: quase US$ 50.
A cerveja Heineken no Brasil tem o nono preço mais baixo entre 77 países. Aqui, uma garrafa de 330 ml da bebida custa US$ 0,88. Para beber a mesma quantidade, um norueguês gasta cinco vezes mais.
Com o dinheiro que os libaneses pagam por duas dúzias de ovos, o brasileiro compra onze. O preço desse alimento no Brasil é 38% mais baixo do que a média global, e também é menor do que o de 76 outros países. No Brasil, uma dúzia de ovos custa US$ 1,43, já no Líbano, US$ 7,97.
No Brasil, a McOferta com Big Mac, refrigerante e batata frita custa US$ 5,93. Já na Suíça, o mesmo pedido custa US$ 14,25 – 2,4 vezes mais do que os brasileiros pagam.
Mesmo com a elevação de preço do quilo da carne de vaca no mercado brasileiro, o alimento sai 30% mais barato por aqui do que para a média de 94 países. No Brasil, o quilo de carne bovina custa em média US$ 9,38; na Coreia do Sul, onde tem o valor mais alto, o quilo da carne sai por US$ 62,10 – 6,6 vezes mais.
*Nota metodológica: o preço exato dos produtos pode variar em função da taxa de conversão para o dólar.
Fonte: GlobalProductPrices.com
Foi presidente da Abraji e co-apresentador do Foro de Teresina. É colunista de política do Uol.
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno