Um grupo de fabricantes de veículos decidiu conceder férias coletivas aos seus funcionários no mês passado. O grupo Stellantis, que coordena a produção de montadoras como Fiat, Jeep, Peugeot e Citröen, forçou a parada das atividades em fábricas de Pernambuco. A Hyundai e a Volkswagen também mandaram os trabalhadores para descansar em casa, na tentativa de evitar o acúmulo de carros nos pátios. As interrupções na linha de produção automobilística no Brasil se tornaram corriqueiras a partir de 2020, devido ao aumento no custo da fabricação dos carros e à queda nas vendas. Com a pandemia, o faturamento da indústria automotiva caiu 43% em dez anos. Os impactos da crise sanitária são sentidos até hoje: em comparação com o ano anterior, o Brasil deixou de faturar R$ 1,1 bilhão com exportações de veículos no primeiro trimestre de 2023. E os postos de trabalho só encolhem: de 2020 para cá, já foram fechadas 8,5 mil vagas. Nesta semana, o =igualdades ilustra a marcha a ré da indústria automobilística.
A indústria automobilística iniciou 2023 lucrando menos com as exportações. Entre janeiro e março, a venda de carros para outros países rendeu R$ 3,4 bilhões, valor 24% menor que o arrecadado no mesmo período de 2022. É como se o Brasil tivesse deixado de mandar para fora 4 mil carros populares da fabricante alemã Volkswagen.
Em 2019, a indústria automobilística contava com 67 fábricas, que estavam espalhadas por 44 municípios brasileiros. Hoje, há 57 fábricas em 39 municípios. O encolhimento das unidades industriais acarretou a redução de funcionários: de 2020 a 2022, 8,5 mil postos de trabalho foram fechados no setor.
A indústria automotiva passou também a lucrar menos. Em 2011, a produção ia de vento em poupa e injetou R$ 528,5 bilhões na economia do país. Em dez anos, o faturamento caiu a R$ 299 bilhões, uma redução de 40%.
O número de carros circulando pelas ruas do país vem crescendo cada vez menos. Teve um aumento 7% em 2012, 6% em 2013 e quase 5% em 2014. Em 2016, caiu a menos de 1%, mas logo voltou a prosperar. A pandemia interrompeu o crescimento da frota, e a indústria continua tentando se recuperar. Em 2022, a frota não aumentou nem 0,1%.
O brasileiro que compra um carro no Brasil hoje paga mais impostos que os consumidores de outras nacionalidades. O país ocupa o primeiro lugar no ranking de cobrança de tributos sobre automóveis: um terço do valor de um automóvel vai para os cofres públicos. A cobrança é três vezes maior que no Japão, onde os tributos consomem 9,1% do preço ao consumidor.
O brasileiro está comprando mais carros importados do Mercosul. Em 2021, foram vendidos diariamente, em média, 204 veículos da Argentina e do Uruguai no Brasil. Em 2022, foram 307 a cada dia — 112.129 em todo o ano.
Mesmo concedendo férias coletivas aos seus funcionários para controlar os estoques, a Fiat começou 2023 liderando os licenciamentos de automóveis e veículos leves. Em março, 41.450 carros da fabricante italiana receberam placas de identificação para circular pelo Brasil. Em seguida no ranking estão General Motors, Volkswagen, Toyota e Hyundai.
Repórter da piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno