Notícia do dinheiro: “A CVM tem um grande desafio. É difícil diferenciar, no meio de tanta informação, o que é opinião, o que é jornalismo isento, o que é matéria enviesada” CRÉDITO: BETO NEJME_2023
O jornalismo de economia sob o controle da Faria Lima
Como o mercado financeiro vem tomando conta dos veículos focados no tema
Denyse Godoy | Edição 205, Outubro 2023
Em[1] fevereiro de 2020, dois meses depois de comprar a revista Exame, o BTG Pactual promoveu um encontro entre os editores da publicação e os executivos do banco que haviam sido escalados para administrá-la. Numa chácara na Região Metropolitana de São Paulo, entre reuniões sobre gestão e dinâmicas motivacionais que duraram quatro dias, a consultoria contratada para reformular o título, em dado momento, anunciou qual seria o mote da Exame dali em diante: “Celebrar o capitalismo brasileiro.” Os jornalistas ficaram espantados porque aquilo não poderia ser mais discrepante do ideal de objetividade e independência que seu ofício persegue. O anúncio do mote reavivou a suspeita de que o BTG Pactual, ao comprar a revista da Editora Abril, talvez não estivesse disposto a cumprir a promessa de proteger sua integridade editorial e manter a publicação afastada dos interesses financeiros do banco. Apesar do incômodo, o slogan acabou vingando. (Tempos depois, mudou para “celebrar o empreendedorismo brasileiro”.)
O receio dos jornalistas de que haveria interferência no seu trabalho se consumou poucos meses depois, em setembro, na edição de número 1 218. Na época, o sucesso dos testes clínicos da vacina contra a Covid animava o mundo. A primeira grande onda de mortes da pandemia arrefecia e o Brasil tentava olhar além. A Exame encomendou uma sondagem sobre o desejo dos brasileiros para o futuro e produziu uma extensa matéria a respeito. Em fundo azul-royal, a capa da edição 1 218 estampava uma ilustração em que um grupo de pessoas se debruçava sobre folhas de papel com números e gráficos, dispostas de modo a formar o mapa do Brasil, e analisava detidamente as informações ali contidas. A manchete era: Que Brasil o Brasil quer? Em seguida, vinha um complemento: “Uma pesquisa exclusiva Exame/Ideia mostra que os brasileiros desejam menos impostos e mais programas sociais. Um Estado generoso aliviou as dificuldades da pandemia, mas escancarou a fragilidade do projeto liberal. As incoerências são latentes – a dificuldade de reconstrução, também.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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