Exposição Histórias Indígenas, com curadoria de Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, no Museu de Arte de São Paulo Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Histórias indígenas – exposição de artistas diversos
A exibição reúne obras de Frida Kahlo, Minerva Cuervas, Andy Medinano, entre outros, no MASP, em São Paulo
Uma senhora branca, baixinha, de voz boa, que trabalha no guarda-volumes do Masp sugere enfaticamente: “Começa a ver a exposição (Histórias Indígenas) pelo primeiro andar, tem uma obra da Frida [Kahlo] e eu me emocionei muito ao vê-la.” O trabalho em questão é uma pintura de 1933, chamada Aí penduro meu vestido. De acordo com a etiqueta, texto que fica junto à obra, é “uma das raras obras em que Kahlo usou o método da colagem, um autorretrato em que a representação do ‘eu’ da artista está ausente, talvez se distanciando da sua própria caracterização idealizada como indígena, que mais tarde seria sua marca.” Atualmente, a contribuição de Kahlo ao movimento indígena tem sido colocada em debate: alguns pesquisadores, como Joanna García Cherán, falam em apropriação. O pai de Kahlo era alemão naturalizado mexicano; a mãe, mexicana, com ascendência espanhola e também originária.
Atiçando fogo na brasa, é preciso dizer que outro caminho pela exposição talvez fosse melhor. O primeiro andar não é o grande “uau” da mostra. A expografia é mais sóbria, os núcleos são divididos por paredões que interditam o diálogo entre os ambientes. A escolha de cada núcleo exibir a produção de artistas originários, separada por países (Austrália, Peru, Canadá e México, por exemplo), também não funciona muito, porque diálogos transnacionais são ofuscados, um deles entre o brasileiro Aislan Pankararu e o australiano Shorty Lungkata Tjungurrahy. O que não invalida a grandiosidade do panorama. Aprende-se muito ao se deparar com obras de Minerva Cuervas, Andy Medina, Hermenegildo Bustos, Melissa General, entre outros.
Mas o grande trunfo da mostra coletiva está no segundo subsolo, onde o visitante é recebido pelo celebrado vídeo Esperando uma mudança (2005), do peruano Antonio Paucar, que mora em Berlim. A capital alemã é um dos centros europeus que prega a decolonialidade na história da arte e no cotidiano dos museus.
O núcleo criado pelos curadores da casa (Kátia Borges Karajá, Edson Kayapó e Renata Tupinambá) é imperdível. O olhar é voltado à produção brasileira, mas sem um tom monótono. Há uma diversidade de linguagens, técnicas e temporalidades. Um grande destaque é a delicadeza do encontro entre as obras das artistas, amigas e ativistas Naine Terena – com uma espécie de instalação têxtil, de nome A Máscara (2023) – e Arissana Pataxó – com a pintura Indígenas em Foco (2016) –, que traz um homem originário, com uma câmera em mãos. Ele mira aqueles que sempre o retrataram. Mais do que o gesto de fotografar, trata-se de um passo imenso na construção de uma nova versão da história.
A exposição está aberta até 25 de fevereiro no MASP, em São Paulo.
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