Carvalho tem se debruçado em letras inéditas de Rita: "Dia desses, encontrei um caderno cheio delas” (Bob Wolfenson)
Roberto de Carvalho vai musicar letras inéditas de Rita Lee
“Ainda estou descobrindo o que ela deixou”, conta o músico, um ano depois da morte de sua mulher
Às 22h35 do dia 8 de maio de 2023, Rita Lee parou de respirar. “Foi difícil demais ver a pessoa que eu mais amava se desmantelar, você não pode imaginar”, conta o músico Roberto de Carvalho a Julio Maria, na edição deste mês da piauí. Rita e Carvalho viveram 47 anos juntos.
A cantora imprimia uma rotina natural ao marido. Sem Rita, os horários dele se tornaram líquidos e flexíveis, confundindo noite com dia. Carvalho vai para a cama entre 22h e 1h, ou “quando dá vontade”, como diz. Acorda por volta das 4h30, revira-se visitando memórias e volta a pegar no sono até despertar novamente em algum horário entre 9h e 13h. Tem lido mais nos últimos tempos, sobretudo livros de psicologia, desde que começou a fazer sessões de terapia, em fevereiro. “Existe uma batalha grande dentro de mim”, ele explica. “É a libido versus o mortido, o desejo da vida versus o desejo da morte. O que vai sair disso? Não tenho ideia, porque as duas coisas podem se manifestar com muita clareza.”
No fim do ano passado, Carvalho foi convidado por Marisa Monte para participar de um show que ela fez no festival Primavera Sound, em São Paulo. “Eu nunca fui tão aplaudido”, conta. Ele tocou Doce vampiro e Mania de você, do repertório de Rita, e Já sei namorar, dos Tribalistas. “Eu erguia a mão para o céu e me conectava com Rita de uma forma calma.” Marisa Monte o chamou para outros dois shows da turnê Portas, no Rio, e Carvalho planeja compor com ela algumas canções. Serão suas primeiras parcerias depois da partida de Rita. “Ter o Roberto por perto, conversar, aprender, ouvir seu violão, sua guitarra e cantar com ele é inspirador”, diz Marisa.
Carvalho tem em mãos uma série de letras deixadas por Erasmo Carlos, entregues a ele por Leonardo Esteves, filho do compositor. E segue como parceiro de Rita Lee, musicando letras inéditas da cantora. “Ainda estou descobrindo o que ela deixou. Tem muita coisa. Dia desses, encontrei um caderno cheio delas”, conta. Uma das primeiras letras que devem virar canção é Ego, publicada em Rita Lee: uma autobiografia (2016), mas nunca musicada.
Há ainda inúmeras gravações não oficiais de Rita, como sobras e ensaios em fitas-demo que nunca foram mostradas, entre outros materiais inéditos. Três músicas chegaram a ser gravadas para um projeto chamado Bossa‘n’movies, que não foi para frente. Ela colocou voz em duas delas. Uma das canções será lançada neste mês de maio, quando faz um ano da morte da cantora. “As coisas vão sair, mas ainda estou nesse processo de montanha-russa”, diz Carvalho. “Ao mesmo tempo em que sei que tenho que fazer essas coisas, que os shows me farão bem, posso não conseguir decidir se devo ou não sair do quarto.”
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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