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    O atual primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, durante a campanha vitoriosa do Partido Trabalhista: a troca de poder foi a regra na série de votações ao redor do planeta Imagem: Jeff Moore/PA Images via Getty Images

questões geopolíticas

A volta ao mundo em 80 eleições

Para onde as urnas nos levarão, depois de um ano com número recorde de votações, em um cenário prolongado de policrise

Marina Slhessarenko Barreto, especial para a piauí | 27 dez 2024_08h17
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Em um ano sem precedentes na história do voto, mais de 80 países tiveram eleições legislativas ou executivas, nacionais ou locais – e ainda houve outras votações importantes, como a do Parlamento Europeu. No geral, o clima foi de mudança: a inércia típica das reeleições, quando as máquinas governamentais trabalham a favor da continuidade do poder, foi suplantada por um desejo de troca no comando, resultado de um mundo em estado prolongado de “policrise”, decorrente de guerras, alto custo de vida e outras ameaças. O termo popularizado pelo historiador inglês Adam Tooze segue vivo. Já havia tido algum impacto na troca de Jair Bolsonaro por Lula, no Brasil, de Alberto Fernández por Javier Milei, na Argentina, e seguiu dando o tom das urnas em 2024.

Em mais de 80% das democracias que depositaram votos para eleições nacionais, o governo de situação perdeu cadeiras ou percentual de votos em relação à eleição anterior.

Em uma janela de dois anos na pandemia, diversos países foram obrigados a abandonar políticas brutais de austeridade fiscal e deram a ilusão do retorno triunfal a Estados de bem-estar social com que governos flertaram no passado. Foram políticas para assegurar a saúde, o trabalho, a economia, direitos de minorias, dentre tantas outras no guarda-chuva da Covid. Depois disso, contudo, os governos extinguiram os benefícios: deixaram seus cidadãos sonhar com a volta de Estados-providência, mas os retiraram de cena.

Guerras em Gaza e na Ucrânia, só para ficar em algumas, também têm dado o tom de uma geopolítica mais agressiva. Sem vergonha de mostrar seus dentes, representantes máximos do clube dos autocratas bombardeiam seus alvos como se não houvesse amanhã. À parte as perdas humanas irreparáveis e a destruição de regiões ou países inteiros, eles jogam o mundo em uma era de insegurança militar, alimentar e energética. Preços de combustíveis sobem, grãos disparam, fronteiras fecham e os cidadãos se descontentam ainda mais com seus cenários políticos nacionais.

Foi ainda um ano de desconfiança generalizada, com grande número de eleições antecipadas e um impeachment presidencial na Coreia do Sul que quebrou a dieta mundial de dois anos sem ejeção de chefes de Estado via impeachment. Isso tudo sem contar as reformas constitucionais que aconteceram à queima-roupa, como no Togo, ou reformas judiciárias que aconteceram no encalço de outras eleições, como no México. As cortes também foram acionadas sob vultosas suspeitas de fraudes e, pela primeira vez na história, um país europeu cancelou uma eleição em razão de fortes suspeitas de interferência estrangeira. 

Em dezembro, a Corte Constitucional da Romênia cancelou o primeiro turno das eleições presidenciais, devido ao vazamento de documentos confirmando a influência de uma massiva campanha cibernética russa. Nesse contexto, também não é de surpreender que mais de quatro em cada dez cidadãos do mundo não confiem em seus governos nacionais – patamar de confiança que piora a cada ano há mais de uma década.

Para quem não vive em um sistema parlamentarista, a chamada de eleições antecipadas pode soar um sinal de alerta. Em sistemas presidencialistas, afinal, contamos com um calendário eleitoral mais estável: eleições periódicas para presidente, outras periódicas para parlamentares; excepcionalmente, algum caso de impeachment. Em sistemas parlamentaristas, porém, é exigido de partida mais jogo de cintura dos líderes partidários para articular coalizões de governo. Se o primeiro-ministro não consegue costurar apoio no parlamento, se perde um voto de confiança, se fica diante de um impasse político ou em outra crise de grande magnitude, a regra é que chame eleições antecipadas. E elas aconteceram em uma frequência ainda maior em 2024. Uma década atrás, sequer havia eleições antecipadas no mundo; duas já eram muito (como foi o caso em 2015). Em 2024, foram registradas dezoito.

 

O caso da França chocou o mundo ainda no primeiro semestre. Depois de eleições para o Parlamento Europeu que entornaram o caldo centrista de Emmanuel Macron na direção da extrema direita, o presidente dissolveu a Assembleia Nacional (Câmara Baixa do parlamento), eleita em 2022, e convocou novas eleições. Nesse ínterim, a esquerda conseguiu montar uma frente ampla de supetão, a Nova Frente Popular, que conquistou 182 cadeiras ou 31,5% da Assembleia Nacional após o segundo turno das eleições. Ainda que tenha conseguido uma quantidade de votos válidos maior em razão de um sistema eleitoral distrital (mais de 3 milhões de votos a mais que a Nova Frente Popular), a Reunião Nacional (partido de extrema direita) ganhou 24,8% das cadeiras totais e perdeu o favoritismo que a embalou no primeiro turno.

O esperado era que o presidente indicasse um novo primeiro-ministro a partir da coalizão vencedora. Não foi o que aconteceu, mas nenhum partido foi capaz de angariar as 289 cadeiras necessárias para governar. As eleições resultaram em um parlamento sem maioria e esse fato, por si, poderia também ser motivo para convocar eleições antecipadas. Nesse clima de desorientação, Macron tentou manter o primeiro-ministro de até então, Gabriel Attal – que assumiu em janeiro depois da renúncia da impopular premiê Élisabeth Borne –, mas acabou cedendo à sua renúncia. 

O contraste não poderia ser mais nítido: Attal, mais jovem primeiro-ministro a assumir na França, cedeu lugar a Michel Barnier, o mais velho mandatário a tomar posse. Três meses no cargo, e Barnier foi quicado. A aprovação de um voto de desconfiança – inédito no país desde 1962, quando a França amargava a derrota sangrenta na Argélia e uma tentativa de assassinato do presidente De Gaulle – uniu da esquerda à extrema direita, em um coro de 331 deputados rechaçando a política econômica do primeiro-ministro conservador.

Em 13 de dezembro, François Bayrou foi indicado por Macron para o posto de primeiro-ministro – o sexto em sete anos.

 

No Senegal, em uma das democracias mais estáveis da África Ocidental, uma série de atropelos marcou o calendário eleitoral. Primeiro, em razão de eleições postergadas; depois, de eleições antecipadas.

O então presidente senegalês, Macky Sall, tentou adiar eleições por dez meses após temer que seu sucessor não fosse eleito. Sall – no poder desde 2012 por dois mandatos consecutivos pelo partido da Aliança da República, que é a cabeça da coalizão partidária União na Esperança – reduziu significativamente os direitos políticos e civis da população senegalesa, em um roteiro autoritário oldschool. Assassinatos de manifestantes, prisões de opositores e restrições severas à liberdade de expressão marcaram seu governo. Dois candidatos a presidente foram presos por difamação ou desacato à autoridade.

A oposição não hesitou em protestar contra a manobra eleitoral do presidente, acusando seu caráter inconstitucional. Era uma tentativa espúria, e inédita, de aumentar seu mandato, dar uma lambada na vontade popular e comprar tempo para seu candidato, Amadou Ba (também da Aliança da República, que era primeiro-ministro do país desde 2022), ganhar as mentes e corações dos senegaleses. Protestos se espalharam pelo país desde o anúncio infeliz e resultaram em uma onda de mais mortes e violência policial.

Vendo-se isolado e impopular, além de pressionado pela espada da Corte de Cassação (mais alto tribunal do país) nas costas, Sall voltou atrás e marcou as eleições presidenciais para final de março. Pela primeira vez desde a independência do país em relação à França, em 1960, nenhum nome nas urnas concorria à reeleição. Ganhou o candidato oposicionista Bassirou Diomaye Faye, do partido Patriotas Africanos do Senegal pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (Pastef, na sigla em inglês), que foi preso em abril de 2023 em razão de um post no Facebook criticando a falta de independência do poder judiciário senegalês e solto dez dias antes da eleição em 2024. Não bastasse a trama toda, seu partido Pastef também foi banido em julho de 2023, sob acusação de incitar movimentos insurrecionais no país – outro fato inédito na história do Senegal, que nunca baniu outro partido político desde a independência. Três dias após a eleição de Faye, o partido voltou à legalidade. 

Em seguida, Faye apontou seu mentor político e colega de partido Ousmane Sonko como primeiro-ministro. Sonko também foi preso ilegalmente e foi o espírito por trás do post de Facebook que Faye fez, criticando a falta de independência judicial no país, e que lhe rendeu a prisão. A medida veio depois de um curto período com um ministro-tampão aliancista, Sidiki Kaba, que serviu por miúdos 28 dias no final do mandato de Sall e começo de Faye.

A debacle presidencial de atraso e remarcação eleitoral foi seguida, então, pelo chamamento de eleições antecipadas em setembro. O recém-eleito Faye dissolveu a Assembleia Nacional, dominada pela oposição União na Esperança (que detinha cerca de 50% dos assentos) e convocou eleições para novembro. Em novembro, o Pastef angariou quase 79% dos assentos, cedendo-lhe confortável maioria para governar.

 

Outras eleições antecipadas cortaram da Europa à Ásia, da África à Oceania. Desde 2021, a Bulgária já enfrentou seis votações antecipadas em razão da formação de governos instáveis. Isso equivale a uma média de duas eleições por ano – fora as regulares que elegeram um novo parlamento em abril de 2021 – para tentar conter a instabilidade parlamentar. Em 2024, foi precisamente este o caso. A coalizão que unia duas forças opostas (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária/ União de Forças Democráticas, conservadora, e Nós Continuamos a Mudança/ Bulgária Democrática, mais liberal), esfacelou-se depois da parte conservadora puxar o tapete da liberal, alijando-a da decisão sobre um novo gabinete de governo. O acordo de cavalheiros – e cavalheira, neste caso, porque a cabeça de chapa conservadora é Mariya Gabriel – era que os primeiros nove meses de governo seriam liderados pela ala liberal (e vice-liderados por conservadores). Em seguida, os conservadores entrariam no rodízio, acautelados por um vice primeiro-ministro liberal, e assim se seguiria até o fim do mandato proposto. Como resultado da pataquada, eleições em junho vieram a reboque, com uma participação popular tão baixa quanto 34% do total de votantes – um recorde negativo em um país que já vinha mostrando participação eleitoral perto dos 40% nos últimos pleitos. 

As eleições de junho resultaram, de novo, em um parlamento fragmentado, com a coalizão conservadora Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária/ União de Forças Democráticas ocupando 68 assentos de um total de 240. Receita para mais enredo de série de tevê: a coalizão conservadora tentou, em conjunto com o presidente Rumen Radev (crítico vocal de sanções contra a Rússia), montar uma nova maioria por três vezes. Depois do fracasso da terceira tentativa, Radev convocou novas eleições para outubro. 

A estratégia de debelar a crise política do país por uma surra de eleições antecipadas não tem sido bem-sucedida. Não é para menos: como esperar que as preferências eleitorais mudem radicalmente em tão curto período de tempo? Com 39% de participação eleitoral, os cidadãos búlgaros elegeram mais uma vez um parlamento fragmentário, concedendo 69 assentos (um a mais que em junho) à coalizão conservadora. Sem mudanças fundamentais no funcionamento do governo, não há perspectiva de que a Bulgária saia dessa crise política duradoura.

 

Não só as eleições antecipadas tumultuaram 2024. A agitação do ano foi recheada de outros fatos inesperados. Os antecedentes políticos que resultaram no impeachment do presidente da Coreia do Sul foram alguns deles.

O país já vinha fraturado politicamente pelo descompasso entre uma presidência conservadora de Yoon Suk Yeol – do Partido do Poder Popular (PPP), que assumiu em 2022 – e uma maioria liberal eleita para o parlamento – puxada pelo Partido Democrático (DPK, na sigla em inglês), que alcançou sozinho 180 assentos em 2020, mais do que os 151 necessários para a maioria. Não bastasse isso, Yoon era um outsider, eleito em 2022 sem qualquer experiência prévia com política. Era o equivalente ao procurador-geral da República do país até então, sendo crucial para a prisão de dois ex-presidentes da Coreia do Sul e investigação de grandes empresários coreanos. O famoso figurão do “vigiar e punir”, duro no crime e anticorrupção.

Na época, elegeu-se por inacreditáveis 0,73 pontos percentuais a mais do que seu oponente, do DPK. Foram menos de 248 mil votos de diferença em relação ao segundo colocado. 

As eleições de 2024 vieram a engrossar o caldo de descontentamento e fratura interna do país. Chegaram em um momento político de escândalos tanto do lado do PPP quanto do DPK. Como gota d’água, a oposição usou um discurso do presidente Yoon sobre o preço de cebolinhas, que se transformaram em símbolo automático de revolta. Para ilustrar a luta do governo para reduzir o preço dos alimentos, o presidente havia visitado um hortifruti e mostrado como estariam baixos os preços do maço de cebolinha ali: 875 won ou cerca de 3,73 reais. Críticos do governo apontaram o teatro armado e o descolamento com a realidade sul-coreana, já que os preços reais do maço da hortaliça rodavam em torno de 3 a 4 mil won (13 a 17 reais).

Fora o conteúdo com alto potencial para meme, as cebolinhas viraram tamanho totem de indignação que passaram a desfilar em manifestações desde então. A repercussão foi tamanha que a Comissão Nacional Eleitoral – agência do governo responsável por fiscalizar as eleições – proibiu os cidadãos de levarem cebolinhas aos locais de votação em abril por temor de “interferência eleitoral”.

Após as novas eleições legislativas, o DPK conseguiu, novamente, maioria – muito embora tenha perdido assentos – e o PPP ficou em segundo lugar. Desde então, uma série de escândalos envolvendo a primeira-dama do país, Kim Keon-hee, culminaram na infame decretação de lei marcial pelo presidente em dezembro de 2024.

Acusada de corrupção e influência indevida no governo, Kim foi alvo de três projetos de lei da oposição para o estabelecimento de investigação especial. Os três foram vetados pelo seu marido e presidente. O mais novo capítulo da saga veio com o lançamento do documentário Primeira Dama no país, em que o jornalista investigativo Lee Myung-soo revela conversas de bastidores atribuídas a ela. Segundo os áudios revelados, Keon-hee diz que não acha que “Suk Yeol é realmente o presidente. Aquele bobo é só uma marionete”.

Segundo críticos do governo, o presidente decretou lei marcial (emprego do exército na política ordinária) para barrar investigações contra sua esposa. A justificativa oficial foi um clima de tensão aumentado e o perigo de forças sul-coreanas que não apoiaram as políticas do governo. Mais do que isso: ameaças à segurança nacional e possíveis laços com a Coreia do Norte. Um pouco de intolerância com o funcionamento democrático básico; um pouco de conspiração – fermentada pelo uso compulsivo de YouTube por Yoon, alertou um colunista conservador sul-coreano. De um modo ou de outro, Yoon Suk Yeol se sentiu à vontade para militarizar o país em meio a dificuldades de aprovação de sua agenda – e o fez em um clima de normalização crescente de medidas militares de um mundo em franca corrida armamentista.

O impeachment presidencial veio coroar a novela e teve sucesso em 14 de dezembro. Ele se seguiu à reversão da lei marcial apenas algumas horas depois de seu anúncio, e a ondas intensas de protestos contra o presidente e reivindicações da oposição pela renúncia presidencial. Não bastasse isso tudo, o partido do presidente ainda tentou boicotar o processo legislativo que o levaria ao impeachment na semana anterior. Quase todos os congressistas do PPP deixaram a Câmara de votação antes do voto pelo impeachment e, portanto, não houve quórum suficiente para aprovar o pedido. Antes da nova votação, o líder do PPP autorizou a participação dos membros do partido no rito e doze deles foram favoráveis à moção de impeachment. Eram exigidos 200 votos para o procedimento (ou dois terços do total dos congressistas), foram conquistados 204.

Desde então, o país navega em instabilidade e os próximos passos serão ditados pela Corte Constitucional. É ela quem decidirá, ao cabo de seis meses de afastamento presidencial, se Yoon Suk Yeol pode retornar ao cargo ou se será removido em definitivo.


Quando o assunto é a rejeição de candidatos ou partidos bem-estabelecidos, outra onda de eleições veio a galope em 2024. No Reino Unido, o Partido Conservador amargou seu pior resultado desde a grande reforma eleitoral de 1832, que redistribuiu assentos com base na nova demografia do país e ampliou o direito ao voto. Conquistando apenas 23,7% dos votos válidos, os conservadores se saíram piores do que em outros momentos historicamente significativos, como em 1945 (quando o partido do primeiro-ministro Winston Churchill conseguiu apenas 36,2% dos votos) e em 1997 (quando o partido abocanhou só 30,7% dos votos). “O partido político mais bem-sucedido do mundo” (em número de anos no poder desde a fundação), nas palavras do jornal Wall Street Journal, enfrentou uma derrota arrebatadora.

A humilhação veio na forma de eleições antecipadas mais uma vez. Previstas inicialmente para dezembro, foram convocadas pelo então primeiro-ministro Rishi Sunak (Partido Conservador) em maio, para acontecer no começo de julho. A plateia ficou confusa com a manobra, mas a estratégia era surpreender o partido de extrema direita, o Reform UK (encabeçado por Nigel Farage), e não lhe conceder a chance de amealhar os votos já minguados dos conservadores. Ao mesmo tempo, o tempo curto poderia atrapalhar as chances de vitória do Partido Trabalhista, a legenda progressista nacional.

Logo antes de o anúncio ser feito, um temporal barulhento atrapalhou a solenidade – ainda que Sunak não se tenha deixado abalar. O literal clima de choro adornou a atmosfera melancólica do partido, e o fato virou manchete em todos os jornais do dia seguinte. Vale lembrar que o líder assumiu o governo na sequência da primeira-ministra que durou menos que uma cabeça de alface (Liz Truss, 50 dias no cargo) e que, por sua vez, substituiu um escandaloso contumaz (Boris Johnson).

Com os resultados, o Partido Trabalhista reassumiu o país, depois de uma dieta de quase quinze anos. A vitória animou forças progressistas ao redor do mundo, em especial tendo em vista os números acachapantes: foram 211 assentos a mais do que aqueles angariados nas eleições de 2019. Em comparação, os conservadores perderam nada menos que 251 cadeiras. Keir Starmer foi nomeado como primeiro-ministro e viu sua popularidade derreter entre agosto e outubro em razão do orçamento proposto, que aumentou o salário mínimo em 6,7%, passa a taxar grandes propriedades rurais a partir de abril de 2026 e propõe aumentos nas contas de luz e gás a partir do próximo ano.

 

Urnas fechadas depois da votação de Botsuana, em outubro: vitória da oposição depois de 58 anos

 

Outros países tiveram transições de governo até mais dramáticas. Botsuana, que é um dos anteparos democráticos em meio a uma enxurrada de vizinhos autocráticos sub-saarianos, elegeu pela primeira vez em 58 anos o partido da oposição. Em resultado sem precedentes desde independência em relação ao Reino Unido em 1966, o país rechaçou maioria legislativa ao Partido Democrático de Botsuana (PDB) em prol da coalizão de esquerda Umbrella for Democratic Change (UDC, na sigla em inglês). Com a perda de maioria na Assembleia Nacional, o PDB perdeu também a presidência – já que, em Botsuana, o presidente é indicado pelos membros do parlamento em eleição indireta.

O candidato à reeleição presidencial Mokgweetsi Masisi, do PDB, perdeu para Duma Boko, do partido da Frente Nacional de Botsuana, partido-membro da UDC. Foram basicamente 58 anos de governo de partido único, já que em todas as eleições desde então o PDB controlou maioria na Assembleia Nacional unicameral e, consequentemente, indicou os presidentes desde então. A presidência de Masisi, que assumiu em 2018 e foi reeleito em 2019, foi crucial para a piora significativa dos indicadores democráticos do país – que era considerado pelo instituto V-DEM uma democracia liberal até 2021, quando caiu para o posto de democracia eleitoral[1]. Para efeito de comparação, o Brasil é considerado uma democracia eleitoral desde 1987 e nunca mudou de status desde então.

 

Saindo de um país que abriga menos de 0,03% da população mundial para outro que é casa para cerca de 3% dela, o Paquistão, os resultados foram em parte surpreendentes. Considerado uma “autocracia eleitoral” – um regime que não tem competitividade partidária real nem eleições livres e justas –, o quinto país mais populoso do mundo também foi às urnas neste ano. Mesmo que o Paquistão não esteja perto de ser considerado uma democracia e tenha sofrido recente deterioração de indicadores de liberdades, a trama pré-eleitoral teve um resultado inesperado.

Ainda em abril de 2022, a Assembleia Nacional depositou um voto de desconfiança no primeiro-ministro Imran Khan do Partido do Movimento Paquistanês pela Justiça (PTI, na sigla em inglês). Khan foi preso na sequência por diversas acusações, dentre elas de corrupção e manutenção de um casamento “não islâmico”. Na véspera das eleições de fevereiro de 2024, o clima era sórdido. Em janeiro, a Suprema Corte do país já havia banido o símbolo do partido das urnas e, na sequência, todos os candidatos a ele vinculados tiveram de se candidatar como independentes. Em um país com cerca de 40% de analfabetos, esse foi um golpe duro. Ainda assim, seus candidatos conseguiram emplacar 93 assentos na Assembleia Nacional, o que estava longe dos planos. Os resultados se devem em parte a uma campanha eleitoral puxada por inteligência artificial e segmentação em redes sociais. É certo que a surpresa teve vida curta porque os outros partidos que tiveram expressiva votação – Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N, em inglês) e Partido Popular do Paquistão (PPP) – se uniram em coalizão e o novo primeiro-ministro apontado foi Shehbaz Sharif, uma liderança política que estava no exílio em Londres até o ano anterior.

 

Eleitores pelo mundo também entregaram manifestações pelas ruas, em indignação aos resultados das eleições ou por algum fato relacionado a elas. Em janeiro, Bangladesh concedeu maioria ao partido da então primeira-ministra Sheikh Hasina, já mandatária por cinco carnavais. Boicotadas pela oposição, as eleições conduziram a uma série de protestos massivos, que culminaram com a renúncia de Hasina em agosto. 

A Geórgia, a seu turno, tem o componente de ter sido invadida pela Rússia em 2008 – o que uma voz crítica vê como o marco inicial da guerra completa na Ucrânia em 2022. Em outubro, assegurou mais uma vez maioria ao Partido Sonho Georgiano (GD) e, em seguida, elegeu indiretamente como presidente Mikheil Kavelashvili, um ex-jogador de futebol também do GD. A população foi às ruas contra os resultados, já que com eles vieram também as inclinações pró-Rússia e a descapitalização do acordo em curso para a integração europeia.

Protestos impressionantes também se deram em Budapeste. Em 2022, a Hungria garantiu um quarto mandato consecutivo ao primeiro-ministro Viktor Orbán. Em 2024, as eleições europeias resultaram em uma perda de assentos significativa ao partido de Orbán, Fidesz. Nesse mesmo ano, uma série de escândalos do governo – envolvendo suspeitas de corrupção e de abuso sexual – levaram ao racha de Péter Magyar, então Fidezs, e sua capitalização como adversário político de Orbán para as eleições de 2026. Magyar reativou um partido de oposição, o Tizsa, e protestou diversas vezes na capital com apoio popular que superou, por vezes, a marca de 10 mil manifestantes. 

 

Quando o assunto é desconfiança generalizada, o caso da Alemanha atordoou o final de ano. Depois do que o premiê Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão) chamou de “semanas de sabotagem” do ministro das Finanças Christian Lindner, a derrocada da coalizão de governo, conhecida como “semáforo” (em razão das cores de cada partido que a integrava: vermelho para os social-democratas; amarelo para os “liberais”; verde para os verdes), jogou o país em um limbo político. Scholz perdeu um voto de confiança no Parlamento em 16 de dezembro, o que já era esperado dada sua impopularidade e fortalecimento  de forças contrárias para ocupar seu posto. O que não era esperado é que três deputados da Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) – os únicos casos de divergência partidária na votação – votariam para manter o social-democrata no posto. Isso aconteceu para barrar o candidato favorito a assumir o posto de Scholz no ano que vem, Friedrich Merz, com as eleições antecipadas marcadas para o fim de fevereiro de 2025. 

Friedrich Merz é da União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão) e sugeriu conceder aos russos o que se chamou de “ultimato Taurus”. Segundo proposta que fez no começo de 2024, seria o caso de pressionar Putin a parar de atacar a infraestrutura crítica da Ucrânia, sob o risco de concessão de mísseis de cruzeiro Taurus para o país utilizar. Esse foi o motivo para os três deputados do partido de extrema direita AfD votarem contra Olfa Scholz abandonar a chancelaria da Alemanha. Segundo apontou uma das deputadas, Christina Baum, Merz empurraria a Alemanha para a guerra contra a Rússia de vez.

Merz é do mesmo partido de Angela Merkel. Seu partido é conhecido como o responsável por barrar o avanço da extrema direita no país. No linguajar alemão, a CDU é o Brandmauer que impede o avanço da AfD para uma porção maior do eleitorado; no paladar tropical, ele seria o cordão sanitário. Essa constatação, porém, tem vasto espaço para questionamentos. Segundo apontam críticos, é mera questão de tempo até o partido começar a encampar mais agendas extremistas, que já vêm sendo normalizadas na política institucional alemã, com baixa reação do Estado. Em 2024, a AfD foi declarada uma “organização extremista suspeita” pelo Gabinete Federal para Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão) e passível, portanto, de monitoramento. Ao mesmo tempo, o partido continua sendo elegível nas urnas – e teve vitórias arrebatadoras nas eleições legislativas estaduais de 2024 na Turíngia (32,8%), na Saxônia (30,6%) e em Brandemburgo (29,2%). 

 

Essas peripécias todas, por mais extravagantes que sejam, ainda puderam ser absorvidas dentro de parâmetros eleitorais domésticos, mesmo que muito desconfortavelmente. Este ano, entretanto, demarcou uma agressividade muito maior de influências externas nas eleições dos países – e “externas” aqui têm nome e sobrenome: Vladimir Putin. À parte a investida brutal na guerra direta contra a Ucrânia, o presidente russo tem se imiscuído mais e mais entre seus vizinhos ex-soviéticos ou integrantes do Pacto de Varsóvia. Este foi o caso na Eslováquia, Moldávia, Geórgia e Romênia – os dois últimos países já tematizados acima. 

Cada um desses casos selou um destino diferente, mas todos guardam em comum o fato de serem alvos de propaganda e interferência russa. A Eslováquia – que é um país membro da União Europeia – elegeu em abril Peter Pellegrini, presidente pró-Rússia, delimitando o distanciamento da inclinação ocidental-europeia do candidato opositor Ivan Korčok. Campanhas de desinformação russas emolduram Korčok como o candidato a favor da guerra na Ucrânia (em oposição a uma fictícia paz, que o candidato aliado à Rússia traria). No mês seguinte, houve também uma tentativa de assasinato do primeiro-ministro Robert Fico, reconhecido também por seu distanciamento da União Europeia. O episódio foi instrumentalizado pela propaganda russa contra o Ocidente.

Entre outubro e novembro, a Moldávia teve eleições presidenciais. Conforme observado de perto por watchdogs, a eleição contou com interferência russa sem precedentes, tentando favorecer o candidato a presidente Alexandr Stoianoglo. No mesmo dia do primeiro turno, o país aprovou por curta maioria o referendo que propunha adicionar à Constituição o desejo dos moldavos de ingressar na União Europeia. Com o segundo turno, a candidata Maia Sandu ( Partido da Ação e Solidariedade) ganhou a reeleição, alertando igualmente para a interferência russa no país.

 

Para não dizer que não falamos de Donald Trump nos Estados Unidos, sua vitória selou o fim de uma era – ou do Partido Democrata como conhecemos hoje. Se, no começo do ano, a disputa era carimbada como “a eleição” do ciclo, com resultado incerto e potencial margem de vitória para Joe Biden, do Partido Democrata, o cenário político capotou algumas vezes até o candidato do Partido Republicano ser consagrado não só como o novo presidente, mas como o primeiro presidente Republicano em vinte anos a conseguir ganhar também no voto popular. E não foi só a presidência; o partido de Trump conseguiu levar igualmente o Senado e a Câmara dos Representantes – as duas casas do Congresso norte-americano. Foi uma vitória de lavada.

Os prognósticos eleitorais não são nada animadores, ainda mais considerando o impacto de cascata que as eleições no país tendem a desencadear nas vizinhanças. Primeiro, por conta das guerras em curso no mundo, que o país financia sem claros objetivos de paz. Segundo, por conta de eleições futuras que são influenciadas pelas dinâmicas de poder da Casa Branca. Não custa lembrar que o Brasil elegeu Jair Bolsonaro no embalo da escolha de Donald Trump; em seguida, o mandatário brasileiro veio a ser conhecido como o Trump dos Trópicos pela mídia internacional. Mesmo que em 2026 Bolsonaro não possa se eleger presidente – a menos que uma anistia blasfema venha a melar sua inelegibilidade ou as expectativas iminentes de sua prisão –, é certo que agregou um movimento radicalizado que vai além de sua figura, como já analisaram especialistas. O bolsonarismo de hoje já roda sem Bolsonaro, e um temor razoável vem de forças de extrema direita que podem capitalizar sobre a eleição dos EUA para se lançar como alternativa viável para a presidência do Brasil em 2026.

Outro fator de preocupação é a normalização da militarização em países direta ou indiretamente afetados por guerras mundo afora – guerras essas que são reforçadas diretamente pelos resultados eleitorais (a exemplo da Rússia) ou que impedem eleições de aconteceram (a exemplo da Ucrânia). A Polônia – que vai ser palco de eleições presidenciais em 2025, eleições em que o atual mandatário não poderá concorrer por já ter sido reeleito uma vez – já dispensa percentual pornográfico de seu PIB com a defesa de seu território, o que é justificado nominalmente pela proximidade com a Ucrânia. Serão 5% gastos com Defesa em 2025; neste ano, foram 4,1%. A piauí apurou com fontes diplomáticas que o país quer se projetar como liderança na Otan e na UE, e isso tem a ver com seus investimentos em exército, defesa e armas. Dados de 2024 mostram que o país já tem o terceiro maior contingente das Forças Armadas entre membros da Otan (216 mil), estando atrás apenas dos EUA (1,3 milhão) e da Turquia (481 mil). 

No universo Otan, o percentual visado de gastos com Defesa é de 2% do PIB dos estados-membros. Dos 32 membros da aliança militar, a expectativa é de que 23 deles alcancem o percentual acima em 2024; em 2018, apenas seis o fizeram. Há também conversas crescentes entre os membros para aumentar o alvo percentual de gastos com defesa para 3% do PIB, o que é devido em parte à eleição de Donald Trump nos EUA, crítico contumaz da aliança.  

Os gastos militares também explodiram nos últimos anos. Em 2023, astronômicos 2.443 bilhões de dólares foram gastos por todos os países do globo, o que sinalizou aumento de 6,8% em relação ao ano anterior e o maior aumento de gastos entre um ano e outro desde 2009. Rumores de ameaça nuclear também aumentaram significativamente. Em novembro, a Rússia anunciou uma mudança em sua doutrina nuclear, ampliando o rol de situações que permitem o uso de armas nucleares. No mesmo mês, a Alemanha fez levantamento de bunkers no país para abrigar pessoas em caso de ataque e estuda expandir sua rede. No mês seguinte, a empresa pública de tevê polonesa anunciou que o governo enviará no próximo ano manuais para instruir seus cidadãos em situações de crise, inclusive nuclear. Por distópico que isso possa parecer, a venda de bunkers privados igualmente aumentou pelo mundo.

 

No ano de tantas eleições, o retrato predominante é o do contraste. Participações eleitorais em nível recorde versus mobilização eleitoral baixíssima. Enquanto a França registrou maior participação em eleições legislativas desde 1997 (entre 63% e 65%), a Tunísia registrou menos de 30% de votantes no dia de eleição para presidente, pior percentual desde 2011. Enquanto os EUA registraram participação quase recorde (somente atrás de 2020), o Irã contou com a participação eleitoral mais baixa em sua história para as eleições presidenciais (cerca de 40%), neste caso chamadas às pressas – desde que o então presidente morreu em um desastre de helicóptero.

Ganhos substanciais às extremas direitas nacionais e regionais versus resistências em âmbito local também fizeram o ano. Na Alemanha as eleições estaduais marcaram vitórias sem igual para a AfD: pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial o partido conseguiu maioria em eleições; no caso, do estado da Turíngia. Este é o mesmo estado em que, mais de cem anos atrás, a democracia alemã foi arquitetada – emprestando o nome de uma cidade sua, inclusive: a República de Weimar. Por outro lado, as eleições locais da Turquia em 2024 marcaram uma derrota significativa ao projeto autoritário de Erdoğan, confirmado à reeleição em 2023. O maior partido de oposição, o Partido Popular Republicano (CHP, na sigla em inglês) conseguiu controlar ainda mais grandes cidades do que na eleição anterior, em 2019.

Protesto reúne multidão em Caracas contra resultado oficial da eleição presidencial da Venezuela, que reconduziu Nicolás Maduro para um novo termo: mais um exemplo da crescente ameaça democrática ao redor do mundo

 

Reforço de projetos autoritários versus perda de maiorias em governos foram outro contraste significativo. Surpreendendo um total de zero pessoas, a Rússia reelegeu o presidente Vladimir Putin para o quinto mandato consecutivo, em uma margem de cerca de 87,8% dos votos. Também houve a reeleição do autodeclarado “ditador mais descolado do mundo”, Nayib Bukele, em El Salvador, com quase 85% dos votos. Já na Venezuela, eleições amplamente contestadas anunciaram a reeleição, com margem curta de vitória (51%), do presidente Nicolás Maduro.

Na Índia, o partido do primeiro-ministro Narendra Modi, Partido do Povo Indiano (BJP, em inglês), perdeu assentos e nenhum dos outros partidos conseguiu sozinho maioria na Câmara Baixa do Parlamento (Lok Sabha). Na África do Sul, pela primeira vez desde o final do Apartheid, o Partido do Congresso Nacional Africano (ANC) perdeu maioria para governar sem coalizão no Congresso, conquistando aproximadamente 40% dos votos. Nas últimas eleições, o ANC angariou 17,5% de votos a mais, daí o espanto eleitoral. No Japão, a seu turno, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, do partido governante Partido Liberal-Democrata (PLD), convocou eleições antecipadas depois de uma série de escândalos, baixa aprovação e desafios econômicos. Como consequência, o PLD perdeu pela primeira vez, desde 2009, maioria na Câmara Baixa do parlamento. 

Além disso, 2024 foi o ano em que massas de cidadãos ao redor do mundo não temeram protestar contra sistemas políticos que lhes viraram as costas – seja nas urnas, seja nas ruas. Seja votando em candidatos que não eram favoritos, seja bancando manifestações públicas de descontentamento. A contraparte da desconfiança nos partidos, políticos e instituições bem-estabelecidas é a insatisfação, a manifestação, até o boicote. O ano de 2024 mostrou cidadãos em alerta.

 

No quadro geral, igualmente foi um ano de reforço da deterioração democrática – com tendências já apontadas nessa direção há quase duas décadas. Algumas exceções, em sinais de reversão ou democratização nas margens, não podem ser desconsideradas. Por um lado, democracias no coração europeu se mostram cada vez mais instáveis e passíveis de erosão pela extrema direita. Também foi esse o caso da democracia norte-americana, que reelegeu Donald Trump depois de um curto hiato com um presidente democrata. Por outro lado, também é verdade que alguns países da periferia do capitalismo ou do chamado “Sul Global” apontaram sinais no sentido oposto – mesmo que eles tenham sido logo revertidos, como foi o caso no Paquistão.

O ano de 2024 também nos lembrou de iniquidades brutais em sistemas eleitorais que já não refletem a demografia de seus países nem sequer seus anseios de aprofundamento democrárico. O Colégio Eleitoral norte-americano é um exemplo eminente: em pleno 2024, o país que por tanto tempo se vendeu como a maior democracia do mundo ainda elege delegados, que, por sua vez, elegem o presidente da República. Curto e grosso: ainda há eleição indireta para presidente. Mas os EUA não são o único caso. A confecção de distritos e outras malandragens de engenharia eleitoral estão nas prioridades de agenda de líderes autoritários mundo afora. A Hungria, por exemplo, é um laboratório importante de manipulação de distritos eleitorais. Já a Índia se destaca por tentativas reiteradas de restrição de cidadania de minorias étnico-religiosas.

O que o ano igualmente veio a reforçar é um mundo em realinhamento. Um realinhamento de forças que clama por novas lideranças, já que aquelas do final da Segunda Guerra Mundial não conseguem mais responder aos desafios presentes. Esses espaços estão sendo disputados a unhas e dentes, e muitas vezes por forças claramente antidemocráticas. A Rússia é uma candidata óbvia, mas não a única.

Mais do que nunca, este é o momento para países do Sul Global se unirem em torno de uma nova agenda: mais democrática, ambiciosa e inclusiva.

 

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[1]O Instituto é referência na agregação de dados sobre a qualidade das democracia ao redor do mundo e tem um dos índices mais conceituados para medi-la. De acordo com seus parâmetros, os países podem ser, em escala decrescente de qualidade do regime político: democracias liberais, democracias eleitorais, autocracias eleitorais ou autocracias fechadas. Democracias eleitorais são regimes em que cidadãos têm direito a voto garantido em eleições livres e justas, mas não podem desfrutar de algumas garantias institucionais (como controle de governos para proteger a democracia) ou direitos de minorias. Já democracias liberais colocam à disposição dos cidadãos um amplo rol de direitos fundamentais e de minorias.

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