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O partido digital do bolsonarismo

    Hackeando instituições: atuando à margem da regulação, o partido digital contorna proibições ao discurso político, avança sobre o tempo de campanha e mantém seu dinheiro nas sombras CRÉDITO: BETO NEJME_2025

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O partido digital do bolsonarismo

Como a extrema direita criou um novo tipo de organização política

| 20 out 2025_09h17
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Uma pesquisa conduzida no Center for Critical Imagination, ligado ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), desenvolveu a hipótese de que, junto com o aparecimento da direita bolsonarista, surgiu uma nova forma de partido político – o partido digital. Na piauí deste mês, o cientista político Leonardo Martins Barbosa explica que é graças a essa nova forma partidária que o bolsonarismo consegue dar lastro e amplitude à sua estratégia de poder, “em magnitude até aqui inimaginável”.

Martins Barbosa argumenta que a palavra “bolsonarismo”, por si só, não consegue expressar o grau de organização que se observa entre os seguidores do ex-presidente. O termo transmite certo espontaneísmo, “como se estivéssemos apenas diante de uma explosão de opiniões reprimidas e que encontraram nas redes sociais canais abertos de manifestação”.

Não é bem o que ocorre. As lideranças bolsonaristas agem de modo bastante coordenado nas redes, sem se valer de uma plataforma, algoritmo ou burocracia externa. “O mundo digital é, ele próprio, o meio em que formulam e executam uma ação coesa em busca do poder político”, escreve o cientista político. O partido digital bolsonarista existe principalmente a partir dessas ações nas redes sociais, com as possibilidades e as limitações resultantes desse meio.

Em partidos tradicionais, o dilema da ação coletiva é resolvido por intermédio de um arcabouço burocrático – diretórios e executivas, que ordenados de modo hierárquico delineiam estratégias, priorizam temas e formam uma agenda. Para esses partidos, o meio digital é mera ferramenta auxiliar dessas instâncias burocráticas.

No caso do bolsonarismo, o meio digital é o espaço privilegiado em que suas lideranças estabelecem conexões, criam hierarquias, elencam prioridades, apresentam pautas e discursos e se submetem ao crivo da base. É por meio das redes sociais que elas conseguem mobilizar de modo coeso uma base conservadora fragmentada e variada, alcançando impressionante coesão no fragmentado ecossistema digital do conservadorismo brasileiro.

Para Martins Barbosa, o fato de ser digital não quer dizer que esse partido não mantenha relações com as legendas convencionais. Para compensar, os efeitos negativos de sua existência fora das instituições, o partido digital bolsonarista se infiltra nos partidos tradicionais (ou os hackeia), em especial as legendas conservadoras do Centrão, e mais especificamente o PL.

Com isso, o partido digital bolsonarista consegue competir em eleições, ter acesso a fundos públicos e acessar outras prerrogativas de partidos institucionalizados, como a capacidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Em troca, o PL ganha um mar de votos conquistado pela mobilização bolsonarista.

O PT reage a essa novidade buscando adotar técnicas digitais de campanha. Mas isso fica muito aquém do necessário para fazer frente à mobilização bolsonarista nas redes sociais e produzir líderes nesse meio. De acordo com Martins Barbosa, os líderes petistas, ou de outras legendas de esquerda, ainda surgem e crescem graças à sua história em movimentos sociais e por meio de sua atuação na burocracia partidária. “Justamente por ser um partido clássico, por assim dizer – o único verdadeiro partido de massas da política brasileira – é natural que o PT tenha dificuldade de se adequar a novas lógicas, de modo que sua adaptação ao mundo digital provavelmente será bem mais difícil.”

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