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    Eduardo Paes em seu gabinete. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)

questões da política

O dolo eventual de Eduardo Paes

Prefeito do Rio bancou Pedro Paulo – e, na definição de um político próximo a ele, incorreu no dolo eventual

Malu Gaspar | 06 out 2016_17h48
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Há oito meses, quando a campanha para as eleições municipais ainda estava engatinhando, perguntei ao prefeito do Rio por que tanta insistência na candidatura de seu Secretário Executivo de Coordenação do Governo, Pedro Paulo. As denúncias de que ele agredira a ex-mulher, Alexandra, já estavam na praça, e tudo indicava que haviam sido fatais para a imagem pública do candidato, ainda em construção. A aposta era alta. Se o escolhido perdesse, não significaria também uma derrota  pessoal para Paes? Ele discordou. “Meu futuro político não depende disso.” Paes tinha tanta confiança no bom desempenho de Pedro Paulo que rejeitou todas as sugestões para trocar de candidato quando ainda era possível fazê-lo. Foi o que lhe sopraram vários caciques do partido, entre os quais Jorge Picciani, que é quem manda efetivamente no PMDB estadual – e até mesmo o marqueteiro, Renato Pereira.

O prefeito, porém, nem queria ouvir falar no assunto. Fechara com Pedro Paulo para ganhar ou perder. Bancou o pupilo – e, na definição de um político próximo a ele, incorreu no dolo eventual. “É como no caso dos black blocs que mataram o cinegrafista da TV Bandeirantes. Ao jogar a bomba, sabiam que podiam atingir alguém. Paes fez a mesma coisa. Ele sabia o que podia acontecer, mas assumiu a responsabilidade”, explica o aliado. Agora a bomba explodiu e o prefeito ainda está às voltas de como lidar com o estrago. Desde a apuração dos resultados, domingo à noite, encerrou-se na residência oficial da Gávea Pequena, cancelou toda a agenda oficial e parou de atender telefonemas. A derrota pesou para Paes, e não apenas por sua personalidade naturalmente competitiva. Ele sabe que, apesar da péssima imagem do PMDB no Rio – que, além de ter alguns membros atolados até o pescoço nas investigações da Lava Jato, levou as finanças do estado à bancarrota –, é dele  a responsabilidade pela derrota. E, ironia das ironias, é ele também a sua maior vítima.

O governo municipal chegou a agosto deste ano com uma aprovação de 67% da população, somando os 27% de ótimo bom aos 40% de regular na pesquisa do Ibope. Outra pesquisa, do Datafolha, também de agosto, mostrou que 44% dos cariocas consideravam que a Olimpíada do Rio lhes trazia mais benefícios do que prejuízos. Na urna, entre os postulantes ao cargo, havia três ex-secretários de Paes: Carlos Osório (PSDB), Indio da Costa (PSD) e o próprio Pedro Paulo. Antes de sair do governo e mesmo depois, Osório e Índio deixaram claro para o prefeito que ambicionavam sucedê-lo. Foram sumariamente fritados e expelidos da prefeitura em meio a guerras surdas de poder e de egos. Paes impôs Pedro Paulo, a quem ele chamava de “primeiro-ministro”, porque, entre outras coisas, considerava ser o único em quem podia confiar cegamente. Ele achava que a história da agressão à ex-mulher seria superada com a absolvição do candidato na Justiça e os bons resultados dos Jogos Olímpicos. Pedro Paulo foi absolvido e os jogos foram um sucesso, mas a eleição foi perdida. Ao final do pleito, na noite de domingo, Osório, Indio e Pedro Paulo somaram 33,73% dos votos. Mais do que os 27,78% de Crivella, e muito mais do que os 18,26% de Marcelo Freixo. Foi por pouco, aliás, que Pedro Paulo (16,12% dos votos) não alcançou Freixo.

Claro que não se deve desprezar a insatisfação com a corrupção – martelada por todos os opositores de Paes nos debates na tevê – e nem a pecha de agressor, que machucou a candidatura de forma definitiva. Mas, analisando os bastidores da  corrida eleitoral, vê-se que os poucos votos que faltaram para que o escolhido de Paes passasse ao segundo turno poderiam ter sido conquistados se os líderes de seu campo político não tivessem imposto ao prefeito suas pequenas vinganças. Vereadores importantes do PMDB não se empenharam na campanha para o candidato a prefeito. Os formadores de opinião, com presença na Zona Sul, tinham vergonha de exibir Pedro Paulo em seu material de campanha. Outros, porém, tiveram ciúme do esforço seletivo que julgavam ver a prefeitura fazer para uma seleção de candidatos oficiais, subprefeitos e administradores regionais – que, aliás, não foram eleitos. E alguns puxadores candidatos de votos de partidos aliados como o DEM, de Cesar e Rodrigo Maia, recusaram-se a exibir a foto e o número de Pedro Paulo nos santinhos. Um ano antes da eleição,  Paes entregou a Secretaria de Esportes e a Subsecretaria de Turismo a indicados de Rodrigo Maia. Mas o pai, Cesar Maia, terceiro vereador mais votado no domingo, vetou qualquer apoio público ao candidato de Paes, que renega seu legado e o chama de maluco sempre que tem chance. O próprio Jorge Picciani, cacique-mor do PMDB no Rio, passou a maior parte do tempo ocupado com prefeituras de aliados mais próximos no interior do estado.

O desafio do prefeito, agora, é redesenhar sua estratégia para a corrida eleitoral de 2018. No auge de seu mandato na prefeitura, quando Michel Temer ainda não havia se instalado no Palácio do Planalto, Paes chegou a acalentar o sonho de ser presidente. Foi contra o impeachment e apoiou Dilma até muito perto do fim, o que obviamente não agradou à cúpula de seu partido. Com Temer no poder, Paes perde força no cenário nacional e passa a ter mais chances para o governo do estado. Mesmo arranhado pela derrota municipal, é favorito. Mas vai depender de dois fatores nada pedestres. O primeiro é a evolução da Lava Jato, que terá na delação da Odebrecht uma lista de novos políticos a investigar. O segundo, que a Prefeitura do Rio permaneça financeiramente saudável. Cresce, entre os políticos locais, a sensação de que, com o final da Olimpíada, esqueletos começarão a pular do armário do alcaide. Se isso ocorrer, a imagem de bom gestor de Paes sofrerá um forte golpe, e ele vai ter de trabalhar muito para recuperá-la.

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